De R$ 1,94 a R$ 2,45: o que fez o dólar ser tão volátil em 2013?

Encerrando o ano a R$ 2,3575, moeda norte-americana deve ter um 2014 de pressão, com possível corte de rating do Brasil e alta de juros nos EUA

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Parece que faz muito tempo, mas até abril o dólar comercial ainda operava abaixo de R$ 2,00. Porém, três grandes fatores influenciaram o mercado durante 8 meses e levaram a moeda norte-americana a atingir o patamar de R$ 2,45, fator este que o Banco Central conseguiu lutar contra e segurar a divisa a um patamar mais baixo. Com isso, o dólar fechou 2013 com a cotação de R$ 2,3575, uma alta de mais de 15% no acumulado dos doze meses – terminando como o melhor investimento de 2013. Já no primeiro dia útil de 2014, a moeda já começou no mesmo embalo e subiu 1,43%, se aproximando da casa dos R$ 2,40.

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Tanto os eventos domésticos quanto a dinâmica macroeconômica internacional foram determinantes para a volatilidade do câmbio neste ano. Em maio, começaram os rumores de que o Federal Reserve iria começar a sua retirada dos estímulos à economia dos EUA, fato que fez com que o dólar ganhasse força ante praticamente todas as moedas do mundo, enquanto o rendimento dos títulos do tesouro norte-americano dispararam – refletindo não apenas uma menor quantidade de dólares no planeta como também um regressos dos investimentos à economia dos EUA.

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Aliado a isso, dados da economia brasileira começaram a chamar muito a atenção do mercado. Em um cenário que já se construía anteriormente, o Brasil começou a se destacar como um país com déficit comercial, fluxo cambial negativo, PIB (Produto Interno Bruto) fraco, inflação alta, resultado primário longe da meta, entre diversos outros fatores que afastaram os investidores do País.

Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, este cenário combinado levou a um movimento de especulação no mercado cambial. “Os investidores querem testar o Banco Central a todo momento, tanto para cotações mais altas quanto para as mais baixas”, afirma ele. Neste cenário, o que começou a ocorrer no mercado foram diversas intervenções do Banco Central, com leilões de swap. Porém, após mais de 40 leilões da autoridade monetária, investidores começaram a tentar elevar o preço da divisa exatamente por causa das intervenções.

Na época, o economista e diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, explicou o movimento: os fundos nacionais e estrangeiros – que movimentam forte volume financeiro no mercado cambial – alimentavam a ponta compradora do dólar com o intuito de pressionar a cotação da moeda, forçando o BC a intervir no câmbio via leilão de swap. O movimento acabou criando um ciclo vicioso: quanto mais os fundos “especulavam” sobre a moeda, mais o BC intervia; quanto mais o BC se mostrava disposto em intervir, mais os fundos tentavam jogar a moeda para cima.

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De R$ 1,94 a R$ 2,45
Dado todo este cenário, o ano no mercado cambial teve diferentes momentos, com forte volatilidade da divisa. Durante os quatro primeiros meses de 2013, a cotação do dólar não teve grandes variações, se mantendo próximo dos R$ 2,00 durante a maior parte dos pregões, muitas vezes abaixo desse valor – a mínima da moeda em 2013 foi de R$ 1,9470 em 8 de março.

Porém, no mês de maio, a divisa começou a subir rapidamente conforme começavam os rumores sobre o fim do QE3 nos EUA. Com isso, o dólar encerrou aquele mês com alta de 7%, atingindo sua maior cotação em 4 anos, aos R$ 2,14 no dia 31 de maio. Após isso, foram mais três meses de fortes altas da moeda, que seguia empurrada pelas notícias ruins no Brasil e a tendência de corte dos estímulos nos EUA. Com isso, no dia 21 de agosto, o dólar comercial bateu sua máxima do ano, aos R$ 2,4512.

Foi então que o BC mostrou sua maior arma para combater a apreciação do dólar: suas reservas internacionais. Um dia depois da moeda atingir seu maior valor em 2013, a autoridade monetária anunciou um programa de leilões diários de dólares. Galhardo explica que essa foi uma medida que se mostrou efetiva do BC, já que ofereceu liquidez ao mercado, ajudando a aliviar a pressão e segurando as cotações.

A partir desse momento o dólar comercial passou por uma forte correção. No dia 18 de setembro, a divisa voltou para R$ 2,1942, momento então que passou a oscilar a valores próximos de R$ 2,20. Na época, analistas apontavam que a correção no Brasil tinha sido muito forte, fato que foi comprovado, com a moeda passando a operar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, cotação mantida até o momento.

Cenário de pressão para 2014
No último dia 18, o Federal Reserve finalmente anunciou a redução de seu programa de estímulos, que começa a valer a partir de janeiro. Com isso, a pressão de valorização do dólar aumenta. Porém, Galhardo explica que a grande reserva de dólares do BC – que já anunciou a extensão de seu programa hedge – ajuda a segurar os preços.

“Ainda teremos momentos difíceis pela frente. Pode não acontecer no próximo ano, mas ainda teremos novas reduções do QE3 e ainda teremos a alta dos juros nos EUA, fatores que devem movimentar muito o mercado cambial”, afirma Galhardo. Mesmo com o próprio Federal Reserve trabalhando com um cenário de alta de juros nos EUA apenas a partir de 2015, uma melhora mais rápida do que o esperado na principal economia do mundo pode antecipar o aperto monetário por lá.

Outro fator que pode criar temores durante o próximo ano é um possível corte de rating do Brasil, devido ao atual cenário de resultados ruins para a economia nacional. Porém, vale destacar, que no início desta semana, o ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, afirmou que a “tempestade perfeita”, aponta por ele em outubro – que consiste em um cenário de simultânea deterioração nas contas externas, perda de confiança na situação fiscal, aperto monetário nos EUA e depreciação do real ante o dólar – parece ter diminuído as chances de chegar ao mercado em 2014.

“2013 termina com o dólar perto de R$ 2,35. Acredito que em 2014 a moeda deve ficar em R$ 2,45. Porém, é sempre bom lembrar que em doze meses muita coisa acontece. A divisa pode disparar e despencar neste período, mas, se o cenário se manter, se as projeções não mudarem muito, o dólar fica em R$ 2,45 no próximo ano”, conclui Galhardo.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.