BRF (BRFS3): Goldman vê riscos significativamente maiores por gripe aviária e reitera recomendação de venda para ação

Casos no Paraná, maior produtor de aves do Brasil, acendem sinal de alerta em analistas e no mercado

Vitor Azevedo

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Apesar da recente boa notícia para a BRF (BRFS3), com um aporte de R$ 4,5 bilhões para sair do papel, o Goldman Sachs reitera recomendação de venda para as ações ordinárias da companhia, de olho na questão da gripe aviária, conforme destacou o banco em relatório divulgado nesta terça-feira (27).

Ao mesmo tempo que o potencial follow-on é bem-vindo pelo mercado, que agora vê uma perspectiva mais otimista para a conversão de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês) em fluxo de caixa e uma menor alavancagem, a doença se tornou risco maior após ser detectada no Paraná, maior produtor de aves do Brasil.

“Embora os casos até agora estejam restritos a animais selvagens, a doença tem se intensificado e vemos crescentes riscos de um possível contágio para plantas comerciais (o que pode desencadear restrições temporárias de comércio). A BRF apresenta os maiores riscos em nossa cobertura e reiteramos nossa classificação de venda para a ação”, diz Thiago Bortoluci, que assina o relatório do banco americano.

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Desde o dia 15 de maio, o Brasil já acumula 49 casos de gripe aviária, espalhados por seis estados. No Espírito Santo e no Amazonas, autoridades já investigam duas mortes de animais domésticos.

O especialista explica que restrições comerciais a países com casos de gripe aviária identificados já foram suavizadas, com países como Emirados Árabes Unidos, Japão e Filipinas limitando a interrupção de compras apenas de regiões, não de todo o país. No entanto, países como China e África do Sul ainda adotam a proibição nacional.

“Vemos riscos significativamente maiores para a BRF, já que ela deriva 24% de suas vendas das exportações de frango do Brasil. A experiência de outros países sugere que tende a ser relativamente difícil isolar totalmente as plantas comerciais e uma possível propagação da doença pela região Sul poderia desencadear restrições significativas de comércio (mesmo entre os parceiros que podem adotar apenas restrições regionalizadas”, fala o Goldman Sachs.

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A BRF, de acordo com o banco, luta contra a alta alavancagem e a geração negativa de fluxo de caixa livre nos últimos anos e novas pressões em suas operações internacionais poderiam “adicionar riscos materiais de curto prazo para os lucros e compensar parcialmente a oferta subsequente de R$ 4,5 bilhões em andamento”.

Itaú BBA está neutro para BRF

Já o Itaú BBA, em relatório de ontem, manteve uma visão cautelosa para os papéis da companhia, citando como causa dessa posição, justamente, a presença da gripe aviária  no Brasil.

“Dois casos de Gripe Aviária foram relatados no estado do Paraná, o maior produtor e exportador de frango do Brasil. Ambos os casos foram confirmados em aves silvestres, o que significa que nenhuma restrição sanitária foi imposta neste momento”, falam os especialistas.

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Na frente do follow on, eles também destacam que acionistas decidirão em assembleia a retirada de uma poison pill – mecanismo previsto no estatuto da companhia que condiciona acionistas com mais de 33% do capital social a fazerem uma oferta pública de aquisição.

A combinação explica, de acordo com os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, a recomendação neutra para a companhia, com preço-alvo fixado em R$ 9, ante R$ 8,91 do fechamento dessa segunda-feira.

A Marfrig ([ativo=MRFG3) é outra empresa de proteínas com a qual os especialistas do BBA estão neutros, com preço-alvo em R$ 8, frente a R$ 7,24 no fechamento de ontem. O motivo para isso, segundo eles, está principalmente na questão do ciclo do gado nos Estados Unidos, com as margens ainda muito apertadas.

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Para JBS ([ativo=JBSS3]) e Minerva (BEEF3) a recomendação é de compra, com targets em R$ 39 e R$ 17, ante R$ 16,63 e R$ 10,06 ontem, respectivamente.

Apesar de 2023 se mostrar um ano desafiador para a JBS, também de olho na questão das margens nos Estados Unidos, a companhia continua com uma operação diversificada e trazendo diferenças operacionais. “Maioria dos clientes estão no modo ‘sentados e esperados’ antes de aportarem,”, falam.

Para a Minerva, a preferida do Itaú BBA no setor, por fim, investidores aguardam para ver como a demanda na China ficará. A maior exposição da companhia no mercado brasileiro, onde o ciclo do gado está positivo, no entanto é um saldo positivo.