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Como o Blockchain pode tornar o mundo uma grande Suíça

As principais vantagens do blockchain estão na imutabilidade dos dados, na distribuição de informação e na não necessidade de uma contraparte central para garantir a confiança entre os agentes
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Tenho estudado e cada vez mais participado de eventos cujo tema é Blockchain e suas aplicações. Dentre todas as aplicações que essa tecnologia pode ter, muitas das quais com um potencial disruptivo incrível, me chama muita atenção o impacto que ela pode ter sobre a democracia, do modo que a conhecemos hoje.

Explicando de maneira simples, o Blockchain é um encadeamento de blocos de registros feitos em ordem cronológica e interligados por meio de criptografia, e que têm um banco de dados distribuído. Dessa forma, se um registro é colocado em um bloco dessa cadeia o bloco seguinte se liga a ele por meio de criptografia e assim subsequentemente. Caso alguém queira alterar um registro de um bloco que está 10 blocos antes do bloco atual, seria preciso quebrar a criptografia dos últimos 9 blocos, o que na prática é quase impossível.

Além disso, o fato desses blocos serem distribuídos, significa que cada ente do processo tem todos os últimos blocos também registrados, o que o torna um guardião das informações, já que se aparecer um terceiro com uma cadeia de blocos onde um bloco é diferente dos demais ele será logo identificado e rejeitado. Além disso, o fato de vários entes (NÓS, como são chamados) terem as informações da cadeia inteira torna desnecessário se ter um banco de dados de contingência.

As principais vantagens do blockchain estão na imutabilidade dos dados, na distribuição de informação e na não necessidade de uma contraparte central para garantir a confiança entre os agentes.

Voltando à democracia, em geral estamos falando de uma democracia indireta ou representativa, na qual elegemos representantes que votarão, em nosso nome, vários temas, e o fazemos com a crença de que a sua forma de pensar, e até suas respostas a muitas perguntas que temos, estão de acordo com o que pensamos. Acontece que isso nem sempre é verdade, e vimos isso ocorrer bastante recentemente em episódios conhecidos como estelionato eleitoral.

Nessa forma de democracia o Blockchain poderia ser utilizado para computar os votos de todos os eleitores de uma maneira segura, individual e transparente. Ficaria bastante fácil votarmos e averiguarmos a quantidade de votos obtidas por cada candidato, já que todos os registros seriam públicos. Além disso, nossa votação poderia ser feita via um site de computador ou um aplicativo de celular, não havendo necessidade de os eleitores se deslocarem para locais de votação.

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Dessa mesma forma o Blockchain poderia ser utilizado para a votação de vários assuntos na outra forma de democracia, que é a democracia direta. Nela, os participantes votam tudo (ou quase) que lhes afeta, não havendo um representante para isso. A Suíça é o país mais próximo que conheço desse tipo de democracia. Lá, ao menos quatro vezes por ano vota-se assuntos dos mais variados, de melhorias no posto de saúde e construção de uma nova escola a aumento do valor do auxílio desemprego a alteração de regras de imigração para Europeus.

Como exemplo, no dia 10 de junho de 2018 ocorreram duas votações nacionais referentes à legislação de jogos de azar e à limitação de empréstimos por conta dos bancos. Além dessa, no Cantão de Valais os cidadãos votaram nesse mesmo dia contra um investimento de aproximadamente usd 100 milhões para colocar a cidade de Sion na concorrência das olimpíadas de inverno de 2026.

Em meio a essa reflexão uma possibilidade me pareceu bastante clara: a de o Blockchain fazer o que ele melhor faz, cortar intermediários em uma relação sem que se tenha quebra de confiança entre os dois entes finais. Se eu conseguir votar tudo o que quero no meu celular e se isso for pessoal, seguro e a contagem dos votos for feita de maneira transparente e clara, para que eu precisarei de um representante? A transição de uma democracia representativa para uma democracia direta poderia ocorrer sem que necessariamente haja uma quebra de confiança.

O que isso nos diz é que esse movimento hoje é possível com o uso de uma tecnologia, agora se trilharemos esse caminho aqui ou em qualquer outra democracia cabe a nós como indivíduos e sociedade decidir.

Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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