Bitcoin subirá ainda mais e uma característica do mercado será chave para isso, diz CEO do Foxbit

"A chave do Bitcoin é a escassez. Por isso, o valor é tão elevado, algo que, nos próximos anos, tende a crescer ainda mais", afirma João Canhada

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Com o lançamento de contratos futuros de Bitcoin para o fim deste ano pela Bolsa de Chicago (veja mais aqui) na última terça-feira (31), a criptomoeda iniciou mais um rali de alta e renovou máxima histórica, agora em US$ 7.500. Como nos últimos movimentos, não faltam pessoas dizendo que a moeda digital está em uma bolha, mas a escassez comprova que essa tese está errada, afirma João Canhada, CEO da Foxbit, em participação no podcast da Rio Bravo Investimentos.

“A chave do Bitcoin é a escassez. Por isso, o valor é tão elevado, algo que, nos próximos anos, tende a crescer ainda mais (…) não acho que é uma bolha justamente por essa característica”, revela Canhada, que fala também sobre a alta volatilidade da moeda, uma das críticas sobre a capacidade do Bitcoin em tornar-se um meio de pagamento: “quando o valor de mercado atingir a casa do trilhão de dólares, esse tipo de volatilidade deve ser muito mais difícil de ocorrer, porque serão bilhões entrando ou saindo do protocolo por dia”, projeta.

Confira a transcrição da entrevista cedida por João Canhada para a Rio Bravo Investimentos abaixo:

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Rio Bravo: No dia 16 de outubro, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, fez um alerta em relação a bitcoins, destacando que a criptomoeda é um ativo sem lastro e que as pessoas têm comprado porque acreditam que a moeda vai se valorizar. Ainda existe muito receio em relação a bitcoin. Existe uma bolha? Como vocês na Foxbit lidam com esse clima de desconfiança?
João Canhada: Bitcoin é o primeiro ativo digital que replica a escassez do mundo real no mundo digital. Isso que tem valor e interessante. Pela primeira vez na história temos um ativo digital que é escasso. Acho que a palavra-chave do bitcoin é escassez e por isso ele tem esse valor tão elevado e, sim, tende a ter um valor ainda maior nos próximos anos. Eu já li milhares de relatórios a respeito dos valores dos bitcoins e os pessimistas falam em US$ 10 mil em 2020. Como está na faixa de US$ 7 mil agora, já tem uma boa margem para quem olha por um período que na minha visão de internet é longo. Três anos é muito longo para quem está nesse dia a dia tão dinâmico. Eu não acho que é uma bolha justamente por essa característica do bitcoin que é a escassez. A volatilidade vai continuar por um longo período. O market cap total do bitcoin é de US$ 95 bilhões e isso é muito pouco comparado aos US$ 8 trilhões do ouro, por exemplo. Então é natural que a volatilidade de 10% em um dia, tanto para cima quanto para baixo. Quando o bitcoin atingir o valor de mercado na casa do trilhão de dólares, esse tipo de volatilidade deve ser muito mais difícil de ocorrer, porque serão bilhões entrando ou saindo do protocolo por dia. Minha expectativa é essa: dois até três trilhões de dólares de market cap talvez em 3 anos. Como o market cap atual é de cerca de US$ 100 bilhões, está longe de uma bolha.

 RB: E qual é o volume de transações de bitcoins no Brasil hoje em dia?
JC: Na média, está dando R$ 20 milhões por dia transacionados, juntando todas as corretoras de bitcoins. Se você for olhar o histórico, tem um site chamado Bitvalor.com, que consolida números do mercado brasileiro. Em 2017, já estamos com um acumulado de R$ 2,5 bilhões e deve chegar a R$ 3,5 bilhões. É um mercado totalmente exponencial.

RB: Fale para a gente um pouco da trajetória da Foxbit. Como vocês iniciaram a atuação e como essa trajetória do início de 2017 para cá se estabeleceu?
JC: A empresa surgiu descentralizada e distribuída como o bitcoin. Ela foi organizada pela internet, hangout, Facebook e Skype, e formalizada por correio. O contrato saiu da empresa e rodou por correio sem que nenhum dos sócios se conhecesse pessoalmente. Eu fui apertar a mão do meu sócio Guto um dia antes de a operação entrar no ar. Então esse aspecto confiança é muito inerente ao negócio, assim como é na própria tecnologia do bitcoin. Viramos o ano de 2017 com dez funcionários. Hoje estamos com 40 e a expectativa é que finalize o ano com 60 pessoas. Estamos trabalhando muito forte em automatização e uma nova plataforma que seja mais eficiente e mais fácil do usuário adquirir o seu bitcoin, menor nível de burocracia e complicação possível e automatizando todo esse processo, desde o cadastro até o depósito do cliente, o que vai tornar tudo muito mais eficiente.

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RB: Existem outras moedas além do bitcoin. Todas elas têm esse potencial de alcançar a mesma influência?
JC: Existem mais de mil criptomoedas. O bitcoin foi a primeira delas, é a que tem mais liquidez, é a que tem mais bolsas de bitcoins que atuem com ela, que consequentemente tornam ela mais interessante do ponto de vista financeiro como um artigo. Dessas outras mil, existem algumas com potenciais claros de valorização futura, mas cada uma tem uma proposta diferente. Tem que ser analisado muito a fundo se você concorda com aquilo que ela propõe e se você acredita que o DevCore daquela criptomoeda tem a capacidade de implementar esses tipos de soluções. Algumas não são tão descentralizadas como o bitcoin. O bitcoin você tem um grupo de desenvolvedores principais, mas qualquer pessoa no planeta pode propor novas soluções tecnológicas ao protocolo, o que não é alguma dessas outras mil criptomoedas. Então fique muito atento em qual criptomoeda você está investindo.

RB: Seria um código aberto para que as pessoas pudessem colaborar, portanto?
JC: Isso é o desejável. Em qualquer criptomoeda, para mim é o mínimo para que eu possa investir nessa criptomoeda, que o código seja open source, seja auditável, que eu consiga ter uma segurança de que aquilo não tem uma brecha no código que eventualmente possa causar problemas financeiros a quem investir.

RB: Qual é o maior risco hoje em investimento em bitcoin?
JC: Na verdade, essa volatilidade é um problema para um investidor mais conservador. A questão de falta de regulamentação, não do Bitcoin, mas regulamentar as empresas que operam com bitcoin me parece plausível, até para dar uma segurança jurídica àquele investidor que está adquirindo os bitcoins, para ele ter uma segurança de que vai poder ter eventualmente liquidez para compra e venda desse ativo no futuro e ter conforto para poder fazer esse investimento. Como ainda não tem essa regulamentação, muitos investidores ainda estão de fora por causa disso.

RB: Uma tecnologia que está sempre associada aos bitcoins é o blockchain. No site da Foxbit, tem uma explicação interessante sobre o funcionamento dessa tecnologia. Qual é a importância do blockchain para os bitcoins?
JC: A Foxbit está focando muito forte em educação, a gente organiza meetups presenciais em São Paulo uma vez por mês e também tem o nosso curso Foxbit Educação. Quem procurar pelo site vai ter informações. E lançamos recentemente um curso focado em blockchain, tecnologia que os bancos estão muito interessados e justamente pela principal qualidade dela, que é a imutabilidade. Uma vez você escrito uma transação ou feito uma transação do bitcoin e ela é inscrita no blockchain, ela é impossível de ser alterada. Isso tem um valor enorme para instituição financeira.

RB: Como é calculado o preço de uma bitcoin no Brasil?
JC: O bitcoin no Brasil tem um spread, normalmente ele é um pouco mais caro do que o bitcoin em qualquer outro país do mundo, porque existe uma demanda maior do que a oferta disponível. Isso acontece porque não tem mineradoras de bitcoin no Brasil. Não tem quem gere bitcoins no Brasil. Isso acontece porque a energia elétrica é muito cara no Brasil e o custo de importação desses equipamentos especializados em minerar bitcoin é muito elevado. Sendo assim, as pessoas acabam negociando aqueles bitcoins que elas já compraram há muitos e muitos anos ou mesmo fazendo operações de importação de bitcoin. Existe uma dificuldade em realizar essas operações e elas precificam isso no preço.

RB: Onde está essa dificuldade?
JC: A regulamentação de remessa no Brasil não previu bitcoin e ela não é adequada para a fase de país como a gente está. Então existe um burburinho de que vai ser revisto nos próximos meses, mas ela cria barreiras para que o mercado se desenvolva. E não só bitcoin, a indústria de modo geral. Quando você vai fazer uma remessa de dólares para adquirir algum produto no exterior, existe um monte de empecilhos, tanto fiscal, tributário, burocracia, demora nessa execução desse processo e isso causa dificuldades que as pessoas precificam nos preços dos produtos quando elas conseguem concluir essa operação. Nesse caso, o produto que tem isso precificado é a bitcoin. Por isso ele tende a ser mais caro no Brasil do que fora do país.

RB: Quais são os países que têm mais potencial de se sair melhor nesse ambiente de criptomoedas?
JC: No Brasil está havendo discussões, está havendo uma audiência pública em relação ao tema. E essas audiências, da forma como estão sendo conduzidas, estão buscando muito se espelhar no que está acontecendo lá fora. Espelho do que foi positivo lá fora é Japão. O Japão em janeiro de 2017 representava pouco menos de 5% do volume global de transações de bitcoin. Em abril, o governo japonês regulamentou bitcoin como meio de pagamento. Em junho de 2017, o governo japonês autorizou as exchanges a operarem, a funcionarem de forma explícita. Então isso ficou muito positivo para o mercado japonês. O que aconteceu? O volume de transações do Japão subiu de 5% em janeiro para 52% há três semanas. Então o Japão ganhou uma relevância muito forte no tema bitcoins justamente por uma regulamentação positiva a respeito do tema, o que eu acho que é o caminho que o Brasil deveria seguir. O Brasil tem um potencial enorme de conseguir trilhar esse caminho se as discussões continuarem andando de forma positiva como estão nesse momento em Brasília.

RB: Estados Unidos e União Europeia têm se proposto a fazer algo nessa direção que o Japão fez?
JC: Nos Estados Unidos, cada estado é quase que independente nesse ponto de vista. Então Nova York regulamentou. Foi talvez o primeiro do mundo que tenha regulamentado, mas fez uma regulamentação ruim, negativa. Muitas empresas que operavam lá com bitcoin saíram de Nova York para outros estados americanos ou até mesmo para outros países. A União Europeia emitiu comunicados em relação aos riscos potenciais de se investir nessa tecnologia, o que é razoável. Até mesmo agente profissional que está no dia a dia trabalhando com bitcoin, também citamos sempre os riscos de investir nessa tecnologia tão disruptiva e nova. Então nada mais plausível que o Banco Central faça o mesmo. De fato, é uma tecnologia nova com alta volatilidade nesse período, mas a expectativa de longo prazo é muito positiva.

RB: Existe uma certa dúvida em relação à rastreabilidade do bitcoin. É possível rastrear?
JC: Sim, 100%. O bitcoin não é anônimo, nunca foi e nunca será. Isso é inerente à tecnologia. Se você tem o pensamento de utilizar o bitcoin para atividades ilícitas, eu recomendo que você repense sobre essa atitude, porque você vai estar criando provas contra você eventualmente. O bitcoin é 100% traqueável, basta que haja o desejo e o esforço para tal. Então se o governo estiver interessado em te traquear, ele vai conseguir.

RB: Como a Foxbit tem se organizado? Como funciona o trabalho de vocês no dia a dia?
JC: Temos nos preocupado muito com compliance, PLD. As pessoas acabam achando que bitcoin é terra de ninguém, o que não é uma verdade. A gente já trabalha ativamente nesse tema e o escritório nosso é Pinheiro Neto, que já tem mais de um ano que orienta a Foxbit da forma correta como agir nesses casos. A KPMG também nos deu uma consultoria de norte regulatório. Então a gente tem se adequado às políticas já vigentes para outros tipos de empresas que modelos de negócios um pouco parecidos com o nosso, que já tem regulamentação específica, justamente para se preparar para essa fase que vai vir em um dado momento, que é uma regulamentação focada em corretoras de bitcoins. Temos trabalhado forte nisso e também do ponto de vista tecnológico, que é um desafio para a escalada nesse negócio. Desafio bancário, desafio para os bancos entenderem o nosso negócio, e também de automatizar os processos desde depósitos e até cadastros para poder escalar.

RB: O mercado é transparente o bastante para dar conta da expectativa em relação às criptomoedas em geral e ao bitcoin em particular?
JC: O mercado de bitcoin tem poucos profissionais envolvidos. A gente fez um estudo recente e mesmo as pessoas que estão dentro de bancos, trabalhando com blockchain ativamente, somando todas essas pessoas, tem 300 pessoas no país envolvidas profissionalmente com bitcoin e blockchain. Então tem uma demanda de profissional capacitado nessa área muito grande, só que a oferta desse pessoal é muito pequena. Estamos trabalhando forte no educacional justamente para ensinar às pessoas o que é bitcoin, o que é blockchain e como elas podem empreender nisso. Falta empreendedor nessa área. Quando você olha nesse aspecto, tem 300 pessoas no país. Quarenta estão na Foxbit. Então a gente tem bons profissionais aqui dentro, mas temos que treinar muito essas pessoas, principalmente quando elas entram aqui no nosso ambiente. Não tem profissional ou tem poucos qualificados para trabalhar com blockchain e bitcoin no país hoje. Num país de 200 milhões de habitantes, 300 pessoas é muito pouco. Então tem um espaço enorme a ser preenchido. Quem desejar empreender, trabalhar com isso, realmente vale mais do que uma hora do seu tempo. É um mercado que está crescendo de forma exponencial e tem condição de você evoluir num modelo de negócio novo com esse tema que talvez cause uma disrupção ou talvez algo que a gente nem tenha pensado ainda que vai ser criado. Estamos no começo. A gente brinca que o mercado de bitcoins está ali nos anos 90 ainda da fase da internet. Então o Google e o Facebook desse negócio ainda vão ser criados. Ou já foram criados, mas estão na garagem. Então tem um potencial enorme de as pessoas trabalharem com essa tecnologia. Saiu da fase da internet da informação e estamos entrando na fase da internet do dinheiro. De fato, temos um espaço enorme para evoluir nesse sistema.