BC intervém e dólar cai após recorde com falas de Guedes e Campos Neto – mas moeda deve seguir em alta

Dólar encerrou uma sequência de quatro altas, mas analistas não enxergam atuações do BC como motivo para recuo maior da moeda

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Um dos assuntos mais comentados no País hoje, o dólar alto cada dia mais mostra que veio para ficar. Apesar da intervenção realizada pelo Banco Central na sessão de hoje através de leilões de swap cambial (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), que fez o dólar fechar em queda de 0,35%, na casa dos R$ 4,33, os analistas de mercado não acreditam que a autoridade monetária tenha atuado no sentido de mudar o patamar da moeda americana.

Contudo, vale ressaltar que, assim como das últimas vezes, o BC atuou mais fortemente no mercado justamente com as declarações conjuntas de Paulo Guedes, ministro da Economia, e de Roberto Campos Neto, presidente do BC. Eles mostraram pouca preocupação com o dólar alto, estressando o mercado e fazendo com que a moeda renovasse máxima na abertura, a R$ 4,38 (também por conta do temor internacional com o coronavírus). Tal tranquilidade, ironicamente, fez com que a autoridade monetária voltasse a atuar.

Em evento, Guedes disse que o recente movimento de alta da moeda americana é “positivo” e que a cotação maior é “boa para todo mundo”, enquanto que o dólar mais barato prejudicava as exportações.

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“É melhor termos juros a 4% e câmbio a R$ 4,00, do que câmbio a R$ 1,80 e juros de 14%, nas alturas”, afirmou o ministro. “O câmbio não está nervoso, mudou para R$ 4,00. O modelo não é juro na lua e câmbio baixo, desindustrializando o Brasil”, acrescentou.

E se apenas esta declaração já tinha potencial para mostrar ao mercado que o dólar deve seguir mais alto, uma entrevista de Campos Neto na GloboNews reforçou a situação, ajudando no salto da moeda registrado nesta manhã.

Ele destacou que “o câmbio é flutuante” e faz parte do conjunto de políticas adotadas pelo BC, que ainda inclui ainda o uso da taxa de juros na política monetária e ações macroprudenciais para estabilidade financeira.

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Campos Neto destacou que o BC segue atento e não tem restrição a nenhum tipo de instrumento para atuar no mercado. “Se existe uma demanda no à vista vou fazer uma intervenção no à vista, se existe uma demanda no futuro vou fazer uma intervenção no futuro”, explicou.

Intervenção do BC não foi para baixar o dólar

E foi em meio à renovação de máxima do dólar nesta manhã e uma volatilidade excessiva no mercado, que o BC decidiu intervir, colocando 7.600 contratos de swap cambial para agosto de 2020, outros 2.100 contratos de swap para outubro e mais 10.300 contratos para dezembro.

Esta não é a primeira vez que o BC atua logo após destacar a flutuação do mercado. Nos últimos doze meses isso já ocorreu três vezes, sendo a última antes de hoje em 26 de novembro, quanto a autoridade fez um leilão de dólar à vista dias depois de Campos Neto reforçar que a taxa de câmbio é flutuante e que a autoridade monetária atuaria apenas quando observasse uma falta de liquidez.

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“Parece que o BC viu um descompasso de oferta e demanda, e entrou com swap para prover mercado em derivativos”, disse Gilmar Alves Lima, economista do BMG, à Bloomberg, reforçando que essas intervenções não significam que o governo trabalhe com um teto para o câmbio.

Já para José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, “as falas [de Guedes e Campos Neto] sugerem que o real tende a ficar mais pressionado e que há risco de novo corte de juros, também devido a fraqueza dos últimos indicadores divulgados de nossa economia, como IPCA, produção industrial e vendas no varejo”.

À Bloomberg, Roberto Padovani, economista do Banco Votorantim, explicou ainda que a combinação da fala de Guedes com a de Campos Neto “mostrou que governo estava tranquilo com a desvalorização cambial” e isso gera “um movimento natural em que quem está vendido zera posição e passa a comprar dólar”. Assim, o BC teve que atuar para conter a disfuncionalidade do mercado.

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Para onde vai o dólar?

Faria destaca que a alta desta manhã levou o dólar a encostar no objetivo apontado por ele nos últimos dias, de R$ 4,40. Com isso, ele falou em vender dólares nesta região, o que poderia sugerir que a moeda não teria mais espaço para subir.

Apesar disso, o analista reforça que “não há nenhuma garantia que o dólar atingiu seu pico”. “Mas entendemos que pode ser uma oportunidade interessante para vender um pouco mais, mas é importante ainda manter dólares em carteira sem vender […] a tendência de longo prazo é de alta e nada parece que vai mudar isto”, avalia.

Para ele, está muito difícil encontrar um ponto para recomendar compra, sendo que o dólar tem dois suportes para enfrentar se for para cair, em R$ 4,30 e R$ 4,20, sendo que não há como saber nem quando a cotação voltará para os R$ 4,30.

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Depois de falar na semana passada que o dólar poderia chegar a R$ 4,30 com dados fracos da economia nacional e reflexo do coronavírus, o Credit Suisse publicou relatório ontem apontando que a moeda americana pode ser negociada entre o intervalo de R$ 4,25 e R$ 4,45 no curto prazo.

Alvise Marino, estrategista do banco suíço, destaca como principal motivo para esta visão o ganho com carry trade (combinação entre fazer uma posição vendida em moeda com taxa de juros mais baixa e outra comprada em moeda com juro mais alto) cada vez menor no Brasil, uma vez que as taxas de juros no país estão historicamente baixas.

Na mesma linha, o Bradesco BBI, também em relatório de ontem, destacou que desde o início de 2020, a tendência tem sido uma desvalorização total do real.

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“Embora o Irã e o coronavírus compartilhem parte da culpa, a fraqueza do real neste ano é realmente muito mais pronunciada do que para seus pares emergentes, o que poderia sugerir que foi motivado por frustrações recentes sobre o ritmo da recuperação [da economia]”, afirma o economista-chefe do BBI, Dalton Gardimam.

Com isso, ele reforça a avaliação de que o dólar alto veio para ficar, mantendo sua projeção de R$ 4,35 para este ano. “Mantemos nossa opinião de que taxas de juros muito mais baixas têm negócios inacabados com relação aos impactos cambiais de longo prazo”, conclui.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.