Banco Inter (BIDI11): lucro contábil cai 67%, ação despenca 9,6%, mas analistas seguem otimistas: baixa foi exagerada?

Itaú BBA atribuiu queda à "confusão" sobre cessão de créditos, mas seguiu otimista com o papel

André Cabette Fábio Lara Rizério

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Os resultados do Banco Inter (BIDI11;BIDI4;BIDI3) do quarto trimestre não foram bem recebidos pelo mercado, ainda que alguns analistas tenham olhado de forma positiva para os números da instituição financeira, destacando o movimento como “exagerado”.

O banco reportou lucro líquido contábil de R$ 6,4 milhões no quarto trimestre de 2021 (4T21), cifra 67,1% inferior ao registrado em igual etapa de 2020. Já o lucro líquido ajustado somou R$ 20,2 milhões no 4T21, aumento de 4,2% em relação ao 4T20.

Após o resultado, as ações fecharam em forte queda: as units BIDI11 tiveram perdas de 9,62%, a R$ 23,85.

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No ano de 2021, o lucro contábil foi a R$ 64,7 milhões, alta de 1.059,8% na comparação anual, enquanto o ajustado subiu 1.307,8%, para R$ 78,5 milhões.

As receitas totais atingiram R$ 1,1 bilhão no 4T21 e R$ 3,2 bilhões em 2021, crescimento de 131% na comparação entre 2020 e 2021 e de 31,2% quando comparamos o 3T21 e 4T21.

O resultado bruto da intermediação financeira antes da PDD (NII), composto pelas receitas de operações de crédito, líquidas do custo de captação, somados às receitas financeiras, atingiu R$ 560 milhões entre outubro e dezembro de 2021, crescimento de 123%.

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A provisão para créditos de liquidação duvidosa foi de R$ 144,7 milhões nos últimos três meses de 2021, aumento de 120% sobre o provisionado em igual intervalo de 2020.

No quarto trimestre de 2021, pela primeira vez, o Inter ultrapassou R$ 1 bilhão de volume total de vendas (GMV) em um único trimestre. Em 2021, o banco alcançou R$ 3,5 bilhões no GMV, volume 3x maior do que 2020.

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A receita média por usuário (ARPU) somou R$ 218,1 no 4T21, alta de 8,7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No 4T21, o custo de aquisição de clientes atingiu R$ 28,79 por cliente, aumento de 7,4% na comparação anual e queda de 6,3% na comparação trimestral.

O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE, na sigla em inglês) foi de 1% entre outubro e dezembro do ano passado, elevação de 0,8 ponto percentual na comparação com igual etapa de 2020. Os ativos totais somaram R$ 36,5 bilhões no 4T21, crescimento de 84,3% em relação ao 4T20.

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O Inter atingiu R$ 9,9 bilhões em depósitos à vista, crescimento de 48% na comparação ano a ano.

A carteira de crédito ampliada atingiu a marca de R$ 18,6 bilhões no 4T21, crescimento de 97% em relação à mesma etapa de 2020. A originação de crédito atingiu R$ 5,8 bilhões no 4T21, incremento de 66% em relação ao 4T20.

O banco transacionou R$ 14,2 bilhões em cartões no 4T21, crescimento de 94% em relação ao 4T20. Já as receitas de cartões aumentaram em 113% na comparação ano a ano, atingindo R$ 453 milhões no ano.

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O Inter encerrou o ano de 2021 com 16,3 milhões de clientes, crescimento de 93,4% em relação ao mesmo período de 2020.

Quedas exageradas?

Para a Levante Ideias de Investimentos e para o Itaú BBA, o Inter apresentou bons números para o trimestre. Para a Levante, o Inter apresentou um resultado de forte crescimento de receita, acima das expectativas, que de maneira geral já são bem altas para o banco.

Já o BBA destacou combinação de monetização acelerada de clientes (margem financeira e Serviços), diluição de custos e índices de inadimplência estáveis. “Isso define o tom para o que esperamos ver em 2022 e diferencia o Inter do pacote de banco digital; reiteramos o Inter como nosso banco digital”, apontam os analistas do banco. A recomendação para os ativos é outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 65,12 por ativo BIDI11, ou potencial de alta de 146,7% com relação ao fechamento da véspera.

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O Bradesco BBI, por sua vez, destacou os resultados como marginalmente negativos para as ações. Do lado positivo, a geração de receita veio em bastante forte, com o ARPU crescendo 8,7% na base anual (versus 20% no 3T21), enquanto o custo de serviços ficou bastante estável. “Além disso, congratulamos a forte contribuição da Intershop, com margem de lucro bruto aumentando para 15% de 10% em 3T21”, aponta.

Contudo, do lado negativo, o Inter reportou um prejuízo antes de impostos de R$ 13 milhões, impactado por ‘outras despesas operacionais’, que foram impactadas por uma perda de cerca de R$ 70 milhões em uma operação de cessão de créditos.

“Em suma, pensamos que as preocupações do mercado sobre a lucratividade de longo prazo ainda deve impedir uma reclassificação significativa do ativo por enquanto”, avalia o BBI. A recomendação para o papel, contudo, segue outperform, com preço-alvo de R$ 51, ou potencial de alta de 93% em relação ao fechamento da véspera.

A Levante também destaca ter algumas ressalvas quanto a parte de crédito, posto que a carteira está bastante exposta à
cartão (cerca de 26% contra 24,4% no 3T21). Embora com margem mais alta, tal operação demanda melhor manejo de provisões e pode aumentar os índices de inadimplência nos próximos períodos, o que, por ora, ainda não foi notado, avalia a casa.

Os analistas do UBS BB destacaram também que o lucro líquido da companhia foi afetado negativamente pelas perdas de cessão de crédito, fazendo com que o Inter frustrasse as estimativas tanto do UBS como do consenso do mercado.

“No entanto, saudamos as boas tendências operacionais com relevante expansão da monetização de seus principais negócios – o Inter já divulgou os volumes de seus principais negócios. Dada a contínua expansão do ARPAC [receita média por cliente ativo] aliado a um valuation razoável, vemos os resultados como um potencial catalisador positivo para a ação”, apontaram os analistas.

Em outro relatório divulgado no meio do pregão, quando as ações já estavam em queda forte, o Itaú BBA destacou que as fortes perdas ocorreram em meio à certa “confusão” quanto à cessão de créditos. O BBA ressaltou que, em sua divulgação sobre o quarto trimestre, o Inter informou as perdas de cerca de R$ 70 milhões em cessões de créditos na rubrica “outros” e que quem estava mais negativo com o papel poderia argumentar que o movimento esconderia a taxa de inadimplência. O BBA avaliou, no entanto, que não houve tal impacto.

Além disso, mesmo que se considere o valor de R$ 70 milhões totalmente como inadimplência em cartões de crédito, a taxa de cartões ficaria em cerca de 6,5% e 7%. O banco disse que o valor fica acima da taxa de 5,2% reportada, mas ainda assim retornaria ao nível pré-pandemia, de 7% a 8%, como antecipado.

O BBA afirmou que entende a “confusão”, mas avaliou que ela não altera sua visão positiva sobre os resultados. Os analistas mantiveram assim a sua avaliação afirmando que a qualidade de crédito se mantém e a aceleração do faturamento bruto foi “impressionante”, afirmando que são compradores do papel na baixa.

Fintech Usend e inadimplência: os destaques da tele

Em teleconferência com o mercado, João Vitor Menin, CEO do Banco Inter, falou sobre as aquisições recentes, como a da fintech Usend, anunciada em 2021. 

Questionado sobre a perspectiva de adição de 1 milhão de clientes com o negócio, o executivo afirmou que um público central será o de imigrantes vivendo nos Estados Unidos, como mexicanos e brasileiros. Neste caso, o banco oferecerá o serviço de remessas de recursos.

A Usend atua no mercado de câmbio e serviços financeiros, incluindo remessas de dinheiro entre países.

No caso dos cerca de 17 milhões de clientes do Inter, o banco oferecerá principalmente a conta global que, disse, funciona como “minicontratos de dólares”. Menin exemplificou que “dá para [o cliente] ter seus dólares na sua conta global, comprar mais se ele estiver próximo a R$ 5, ou então vender”.

Ele diz que em 2022 será mais forte o processo de clientes do canal Inter buscando abrir contas globais, e muitos também do canal de imigrantes dos Estados Unidos.

Mas, em 2023, essa tendência mudará, com mais enfoque nos residentes americanos em busca de formas de enviarem remessas, e também no aplicativo do Uber, com o qual o Inter tem uma conta digital.

Questionado sobre a taxa de penetração de clientes ativos, que caiu de cerca de entre 57% e 58% do total de clientes para 54%, Menin afirmou que espera que o nível de engajamento se mantenha estável.

O CEO foi questionado ainda sobre a perspectiva de desaceleração da economia brasileira, e falou da inadimplência para cartões de crédito. Ele disse que o banco melhorou a qualidade da equipe em gestão de crédito e de risco.

Assim, afirmou que há atualmente mais ferramentas para acompanhar o desempenho do crédito, podendo manter a inadimplência controlada apesar da perspectiva de um cenário macroeconômico pior.

Menin afirmou que a alta na taxa de inadimplência é mais concentrada em clientes com menor poder aquisitivo. Ele diz que o banco vem buscando manter uma boa formação de underwriting de forma a manter um bom nível de formação de crédito não produtivo.

Nos resultados relativos a 2021 divulgados mais cedo, a empresa havia afirmado que o NPL da carteira de cartão de crédito foi de 5,2% no quarto trimestre, o que representa uma redução de 0,6 ponto percentual frente ao trimestre anterior e alta de 0,2 ponto percentual frente ao ano anterior.

A CFO do Inter, Helena Lopes Caldeira, afirmou que a taxa de créditos não produtivos para cartões de crédito do banco no quarto trimestre de 2021 seria de cerca de 6,5% ou 6,6% caso não tivesse sido realizada a venda de créditos não produtivos.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney