Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4): as três principais conclusões do mercado para as aéreas após a disparada das ações

Levantamento do BBI aponta que risco de RJ diminuiu, que câmbio seguirá sendo um catalisador para ações e qual ação preferida dos investidores

Lara Rizério

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Em apenas duas sessões, as ações da Azul (AZUL4) saltaram impressionantes 65,75% e os ativos da Gol (GOLL4) subiram 30,80%, com as notícias de reestruturações financeiras do fim da semana anterior animando as companhias após um fevereiro para se esquecer para as aéreas.

Vale destacar, contudo, que as aéreas sempre foram vistas com ressalvas por muitos analistas de mercado e gestores, que destacam as dificuldades que as companhias do setor passam recorrentemente.

Com esse cenário no radar, o Bradesco BBI fez uma pesquisa com 15 investidores institucionais (87% deles locais) para entender qual o cenário vislumbrado por eles após essas reestruturações.

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Segundo o BBI, houve três conclusões principais: 1) 87% dos investidores acreditam que a Azul e a Gol diminuíram e muito o risco ou a necessidade de eventualmente pedir recuperação judicial para reestruturar seus balanços (algo que estava no radar do mercado em meio ao alto endividamento em um cenário de juros altos), 2) o câmbio seguirá sendo um fator decisivo para o desempenho de ambas as ações ((já que as companhias têm boa parte da dívida atrelada ao dólar, ou seja, uma queda da divisa americana beneficia as companhias) e 3) a ação da Azul merece ser negociada a um prêmio em relação à Gol.

Ao comentarem os resultados da pesquisa, os analistas do Bradesco BBI destacam que as reestruturações reduziram e muito os riscos de balanço para ambas as companhias, já que a grande maioria dos investidores acredita que elas não pedirão recuperação judicial. “Esta era a nossa principal preocupação para o setor devido à perspectiva sobre a baixa temporada no 2T23 [segundo trimestre de 2023]”, apontam os analistas.

Sobre o câmbio, os analistas destacam que 94% das dívidas líquidas de R$ 18,4 bilhões da Azul e de R$ 27,9 bilhões da Gol estavam denominadas em dólares.  “Também estimamos que 50% e 48% dos seus respectivos custos também estão expostos à variação cambial”, apontam os analistas.  De acordo com a pesquisa, 60% dos investidores acreditam que uma valorização do real possa ser um catalisador positivo para ambas as companhias, sendo seguido por passagens mais caras (13% para Azul e 20% para a Gol) e menores preços internacionais de petróleo (13% para a Azul 7% para a Gol).

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Por fim, o mercado, conforme aponta a pesquisa, tem uma visão mais construtiva sobre a Azul, já que os investidores assumem um múltiplo de EV/Ebitda (EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida”; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) para 2023 justo de 6,6 vezes, um prêmio de 19% sobre sua avaliação atual, indicando que ainda há espaço para uma reclassificação de múltiplos. “Isso implica em uma alta potencial de aproximadamente 75%. No caso da Gol, a meta do valuation é de 5,8 vezes o EV/Ebitda para 2023, já precificado no múltiplo atual”, avalia o banco.

Para o BBI, a Azul ainda está negociando com um desconto injusto de 7% para a Gol, o que corrobora a preferência da casa por AZUL4 no setor de companhias aéreas da América Latina. O BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para a Azul, com preço-alvo de R$ 32 (ainda um potencial de alta de 167% frente o fechamento da véspera) e neutra para a Gol, com preço-alvo de R$ 11 (upside de 64%).

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.