Atentados provocam medo entre africanos que assistem à Copa do Mundo em público

No dia 17 de junho, uma bomba em um centro de transmissão dos jogos em Damaturu matou 14 pessoas que assistiam ao empate entre Brasil e México

Bloomberg

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Enquanto torcedores se reúnem em parques e bares de Tóquio até Tegucigalpa para assistirem à Copa do Mundo, muitos na Nigéria e no Quênia estão evitando lugares públicos por medo de que uma noite na rua para assistir a seu esporte favorito possa ser a última de suas vidas.

No dia 17 de junho, uma bomba em um centro de transmissão dos jogos em Damaturu, no nordeste da Nigéria, matou 14 pessoas que assistiam ao empate entre o anfitrião Brasil e o México, e aproximadamente 60 das pessoas mortas em ataques nas cidades do litoral do Quênia em 15 de junho estavam assistindo a um jogo. Quatro anos atrás, a final da Copa do Mundo entre a Espanha e a Holanda foi arruinada por ataques em bares em Kampala, capital da Uganda, que provocaram a morte de 78 pessoas.

“Não queremos nos arriscar a sair até termos certeza de que as coisas melhoraram”, disse Josiah Langat, agente imobiliário de 34 anos que frequenta bares em Nairóbi, em entrevista da capital queniana, em 17 de junho. “Sabemos que os telespectadores da Copa podem ser alvo de terroristas porque tivemos incidentes em 2010 na Uganda”.

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Al-Shabaab, um grupo militante islamita que está combatendo tropas ugandesas e quenianas na Somália, assumiu a autoria do atentado na capital da Uganda em 2010. Uma estação de rádio simpatizante do movimento ligado à Al-Qaeda passou uma transmissão em que um homem que se identificou como porta-voz dos militantes assumiu a responsabilidade pelos ataques desta semana no Quênia, embora o presidente do país responsabilizasse rivais políticos. Suspeita-se que Boko Haram, um grupo militante islamita que opera na Nigéria, tenha atuado nas matanças de Damaturu.

Bares ao ar livre
“Ideologicamente, para os militantes islamitas a Copa do Mundo e a cerveja representam tudo a que eles se opõem, portanto é uma forma de deixarem sua marca”, disse François Conradie, analista político da NKC Independent Economists, em entrevista por telefone de Paarl, África do Sul. “Provavelmente vejamos mais ataques desse tipo”.

Uma rede elétrica pouco confiável e o custo da TV por satélite tornam bares e áreas de transmissão ao ar livre uma opção popular em boa parte da África Subsaariana, disse ele. Muitos não passam de lugares com cadeiras de plástico e geladeiras cheias de cerveja em frente a uma televisão ou tela de projeção.

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Neste ano, a seleção da Nigéria, conhecida como as Super Águias, participa da Copa no Brasil junto com as Estrelas Negras da Gana, os Leões Indomáveis de Camarões e os Elefantes da Costa do Marfim.

A ameaça de ataques não é o único obstáculo enfrentado pelos torcedores africanos nos seus planos de assistir ao campeonato deste ano.

Ebola
Lansane Banya perdeu o jogo em que Yaya Touré, eleito três vezes jogador africano do ano, levou a Costa do Marfim à vitória frente ao Japão, no dia 15 de junho, depois que sua cidade, Kailahun, na Serra Leoa, baniu as reuniões públicas para evitar a disseminação do Ebola, uma febre hemorrágica fatal. Agora ele vai a reuniões ilegais nas casas dos amigos.

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Na vizinha Gana, o governo interveio para tentar evitar que blecautes constantes afetem o apoio às Estrelas Negras em seu país natal. Ordenou-se à única fundição de alumínio do país não usar eletricidade durante os jogos e a empresa nacional de eletricidade publicou anúncios na primeira página dos jornais pedindo às pessoas que desliguem os aparelhos de ar acondicionado e congeladores durante os jogos. Isso não evitou que a seleção nacional perdesse de 2 a 1 para os EUA em sua estreia.

A proibição de assistir aos jogos em público no estado nigeriano de Adamawa reduziu em 80 por cento a renda obtida por Musa Garba em seu bar ao ar livre numa noite de jogo, para 5.000 naira (US$ 31).

“Este lugar era uma colmeia de atividade”, disse Garba, 35, em entrevista. “Agora o lugar está deserto por causa da proibição. Não há mais clientes entrando em grupos para comprar bebidas. Perdemos os nossos clientes”.