Assaí (ASAI3): por que o rumor de saída “total” do Casino da companhia animou tanto o mercado?

Ações subiram 14,7% na terça com a notícia, mesmo o Casino não sendo mais o controlador; expectativa é por melhora da liquidez e da estrutura de capital

Equipe InfoMoney

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Na última quarta-feira (7), a empresa de atacarejo prestou esclarecimentos à B3 e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a forte valorização das suas ações na sessão da última terça-feira (6), quando fechou com ganhos de 14,70%, em meio às notícias de que alguns investidores estão sendo abordados por bancos para discutir a possibilidade de um follow-on do Assaí. Essa operação poderia levar à saída do Grupo Casino do quadro de acionistas da companhia, que atualmente detém 11.7% das ações da empresa (cerca de R$ 2 bilhões).

A companhia,  após inquirir os seus administradores, destacou não ter conhecimento sobre as informações contidas nas notícias e nem de nenhum ato ou fato relevante que justificasse as oscilações registradas com as ações.

“Cumpre registrar que outras companhias do setor varejista também sofreram oscilações significativas de preço e/ou volume durante o pregão desta data”, apontou, em referência ao maior ânimo recente com as “ações domésticas” em meio à queda dos juros futuros com as maiores chances de redução da Selic no terceiro trimestre deste ano.

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Cabe destacar que as ações ASAI3 são a maior alta do Ibovespa no mês de junho, acumulando ganhos de 18,88%, mas registram a maior baixa do Ibovespa no acumulado de 2023, com queda de 34,09% até a sessão da última quarta-feira, com o mercado registrando mais pessimismo no passado recente com resultados em desaceleração e desafios de integração de operações.

Desta forma, a notícia de uma possível saída total do Casino, ainda que não confirmada, acionou novamente um catalisador para os ativos.

Mas o que explica esse movimento?

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Em primeiro lugar, cabe retomar as últimas movimentações do Casino. A Levante Ideias de Investimentos lembra que o grupo francês – que agora é apenas acionista minoritário com uma fatia remanescente de 11,7% no Assaí – tem se desfeito de diversos negócios para levantar recursos enquanto busca renegociar uma dívida de 6,4 bilhões de euros com credores.

Em março deste ano, o Casino vendeu 254 milhões de ações do Assaí, em um follow-on que movimentou R$ 4,06 bilhões. Por conta disso, o grupo francês ficou impedido de vender novas ações por um período de 90 dias, que se encerra no dia 16 de junho, o que abre caminho para uma nova venda de participação no Assaí (o que reacendeu os rumores).

Atualmente, o Casino estuda a proposta do bilionário tcheco Daniel Kretinsky (segundo maior acionista do grupo) de um aporte de 1,1 bilhão de euros. A capitalização poderia levar a uma grande diluição dos acionistas existentes, tirando
Jean-Charles Naori do controle da companhia. No entanto, o acontecimento acalmaria os credores dado o momento delicado que a companhia enfrenta. O andamento dessa negociação na Europa deve ditar o momento do Casino vender sua fatia no Assaí, que após a forte alta de 52% no ano passado, registra a forte queda de mais de 30% neste ano.

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Para os analistas, embora uma nova redução de participação do Casino no Assaí já fosse esperada para esse ano, a transação é positiva para o Assaí, visto que deve melhorar a liquidez do ativo.

“Quanto à redução da influência do Casino na companhia, acreditamos que já esteja precificado, principalmente devido ao fato de o grupo francês já não ser mais o controlador”, avaliam.

Ainda assim, apontam, com a saída completa do Casino, o Assaí se tornará uma empresa com capital totalmente pulverizado, o que é aguardado com expectativa pelo mercado desde a primeira grande redução do Casino na empresa, no ano passado.

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“Caso o Assaí decida aproveitar para fazer uma oferta primária, o impacto seria bastante positivo para a companhia visto que, com os recursos levantados, poderia reduzir o endividamento elevado”, destaca ainda. Caso ocorra o follow-on, é possível que seja realizada uma oferta primária em conjunto, visando a melhorar a estrutura de capital da empresa.

A companhia encerrou o 1T23 com um endividamento medido pela relação dívida líquida/Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações de 2,78 vezes, acima dos níveis de endividamento registrados no mesmo período do ano passado e bem acima do trimestre anterior (2,20 vezes no 1T22 e 2,19 vezes no 4T22).

A Guide também ressalta ver com bons olhos um potencial follow-on de Assaí, sobretudo, pela possibilidade de melhora da estrutura de capital da companhia, reduzindo a sua alavancagem.

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Esse maior endividamento, que inclusive levou a um maior pessimismo do mercado, ocorreu muito em função dos pagamentos relacionados à aquisição dos pontos comerciais de hipermercados, assim como os investimentos em 59 lojas nos últimos 12 meses e a continuidade do projeto de expansão, com 28 lojas em fase de obras.

A Levante também destaca o panorama geral para o segmento de atacarejos, que já foi o queridinho do mercado durante um bom tempo. Foram vistos desafios relevantes para o segmento nos resultados do 1T23, como a desaceleração da inflação dos alimentos e o cenário competitivo mais acentuado devido ao grande número de lojas de cash and carry inauguradas nos
últimos 12 meses.

“Apesar de não enxergarmos problemas de ordem estrutural no segmento, acreditamos que as empresas deverão lidar com os desafios do formato após o boom de inaugurações nos últimos anos”, avaliam.