As duas mulheres que irão definir o rumo do mercado na próxima semana

Apesar de alguns indicadores na agenda, investidores ficarão atentos ao julgamento final do impeachment de Dilma e ao simpósio de Jackson Hole do Federal Reserve

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – Em uma semana recheada de indicadores, dois eventos guiarão o humor do mercado nos próximos dias. No Brasil, está marcado para começar na quinta-feira (25) o julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff, enquanto nos Estados Unidos, o mercado irá parar para acompanhar o discurso da presidente do Federal Reserve Janet Yellen, que fala na sexta-feira (26) no simpósio de Jackson Hole.

O primeiro evento deverá tirar um peso das costas do governo. Com as poucas chances de Dilma voltar ao poder, é esperado que Michel Temer comece a tomar as medidas mais sérias para ajustes na economia após a conclusão do processo. “O governo vai esperar o impeachment para começar a ser mais duro com o Congresso”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. Para ele, o mercado ficará atento nos primeiros dias da semana antes do início do julgamento.

O fim da Olimpíada deve fazer o mercado voltar a olhar mais para o noticiário, mas mesmo assim, segundo Jason, o exterior segue sendo o principal “guia”. Com isso, a fala de Yellen deve ganhar ainda mais força dado o momento em que o mundo tenta antecipar o momento em que ocorrerá a alta de juros nos EUA. No mesmo dia do discurso dela, será divulgado ainda o PIB (Produto Interno Bruto) americano.

Continua depois da publicidade

Dados compilados pela Bloomberg mostram que os investidores não esperam uma alta de juros este ano, sendo o primeiro mês com chance mais provável em março de 2017. Porém, integrantes do Fed, como William Dudley, de Nova York, diz que vê chance de elevação em setembro, mas a última ata do Fomc praticamente descartou essa possibilidade. Para Jason, o mercado está ansioso para ver o que Yellen falará sobre o assunto e qual sua visão sobre a recuperação da economia.

“Teremos o cenário político em destaque, mas o mercado por aqui ainda está seguindo muito o exterior, então o fim da semana serão mais movimentados porque tudo se acumulou para estes dias”, afirma Jason, ressaltando ainda que os dados de inflação do IPCA-15 podem ter algum efeito no mercado de juros futuros na quarta-feira (24).

Confira os principais eventos da agenda da próxima semana:

Continua depois da publicidade

IPCA-15
Na quarta-feira (24), às 9h será apresentado o dado de inflação medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deve ter um avanço de 0,46% entre 15 de julho e 15 de agosto, segundo a mediana das expectativas dos economistas pesquisados pela LCA Consultores. No resultado anterior, o avanço da inflação foi de 0,54%.

PIB dos EUA
Na sexta-feira será divulgada a segunda estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos para o segundo trimestre de 2016. A expectativa mediana dos economistas é de que a maior economia do mundo cresça 1,1%, ante 1,2% registrados anteriormente. O número sai às 9h30.

Votações no Senado
Além do impeachment, estão marcadas diversas votações para ocorrerem no Senado. O primeiro item da pauta é o projeto que proíbe governantes de deixarem aumento de despesas com pessoal para após os seus mandatos. A proposta proíbe o presidente da República, governadores e prefeitos de promoverem aumento de despesas com pessoal que tenham início após o fim de seus respectivos mandatos.

Continua depois da publicidade

O segundo item da pauta também pode ser votado no decorrer da semana. O PLS 204/2016 – Complementar permite à administração pública vender para o setor privado os direitos sobre créditos de qualquer natureza. A permissão vale para todos os entes da Federação e busca aumentar a arrecadação da União, dos estados e dos municípios.

Os senadores também devem votar, em primeiro turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC 31/2016), que prorroga até 2023 a Desvinculação de Receitas da União (DRU) e cria mecanismo semelhante para estados, Distrito Federal e municípios. A proposta permite ao governo realocar livremente 30% das receitas obtidas com taxas, contribuições sociais e de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide), que hoje são destinadas, por determinação constitucional ou legal, a órgãos, fundos e despesas específicos.

Julgamento final do impeachment
Na quinta-feira (25), às 9h, terá início o julgamento final do impeachment de Dilma no Senado. As sessões serão presididas pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, e está previsto para durar pelo menos até o dia 30 de agosto, sendo paralisado no final de semana. Os dois primeiros dias serão dedicados à apresentação de questões de ordem e à oitiva das oito testemunhas arroladas. A acusação, que abriu mão de quatro nomes, vai apresentar apenas duas testemunhas, enquanto a defesa manteve as seis a que tem direito. Na segunda-feira (29), deve ser a vez da própria presidente afastada fazer sua defesa no plenário. Para conferir mais detalhes do rito do julgamento, clique aqui.

Continua depois da publicidade

Jackson Hole
Desde 1978, o Federal Reserve de Kansas City sedia o simpósio política econômica anual em Jackson Hole. O evento foi criado como um fórum de bancos centrais, especialistas e acadêmicos, que se reúnem para discutir não necessariamente o cenário atual, mas suas visões sobre o futuro da economia e outras questões essenciais. No início do evento, na sexta-feira (26), Janet Yellen irá falar e poderá dar alguma novidade para o mercado sobre o que ela espera da política do Fed em relação aos juros nos EUA.

Para ver a agenda completa da semana que vem, clique aqui.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.