Argentina tem últimas horas para evitar calote e crise pode respingar no Brasil

Um dos maiores importadores do Brasil precisará controlar seus gastos daqui pra frente para evitar uma piora em sua economia e balança comercial brasileira pode ser impactada

Rodrigo Tolotti

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner

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SÃO PAULO – Esta quarta-feira (30) é o último dia para que a Argentina evite um calote. No início do mês o país descumpriu um pagamento de bônus, ficando à beira de seu segundo default em 12 anos, depois que um tribunal dos EUA impediu que o dinheiro fosse distribuído antes que o governo chegasse a um acordo com os credores da moratória anterior. Com isso, o país ganhou um prazo que termina hoje para buscar um acordo com o grupo de detentores de bônus e evitar um default de seus US$ 28,7 bilhões em bônus globais em dólar.

Ontem autoridades argentinas se reuniram em Nova York com um mediador para continuar as negociações com um grupo de credores sobre uma dívida. A delegação, que inclui o secretário de Finanças, Pablo Lopez, e autoridades do governo que participaram de reuniões anteriores, deve continuar as negociações durante todo o dia para evitar o calote.

 A Argentina teve pela primeira vez conversas diretas com os fundos credores norte-americanos, sentando na mesma mesa, segundo o advogado Daniel Pollack, nomeado pelo juiz federal Thomas Griesa para ser o mediador das negociações entre a Casa Rosada e os credores.

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Até agora, o governo argentino e os fundos, chamados de “holdouts”, tinham mantido conversas separadas com Pollack e as partes não se falavam entre si. A Argentina chama os fundos de “abutres”. “Foram as primeiras conversas cara a cara entre as partes. Houve franca troca de posições e preocupações. As questões em que as partes divergem seguem sem resolução”, disse o advogado em um comunicado após a reunião. As conversas serão retomadas ao longo desta quarta-feira, mas ainda não houve acordo e um calote se aproxima. 

Caso a Argentina não honre suas dívidas, os problemas não seriam apenas do próprio país, e a crise na economia vizinha deve impactar os resultados do governo no Brasil também. Diante da atual fragilidade externa, o governo da Argentina deverá ser obrigado a fazer um superávit comercial mais expressivo, o que tende a impactar a compra de produtos brasileiros.

No primeiro semestre, as exportações da Argentina superaram as importações em apenas US$ 3,684 bilhões, uma queda de 28% na comparação com o mesmo período do ano passado. “Qualquer que seja a situação acertada nos próximos dias, a Argentina vai ter de segurar mais as importações”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

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O nó da Argentina e a necessidade de segurar as importações se dá porque as receitas de exportação deverão ser menores. Assim como o Brasil, a Argentina é uma grande exportadora de produtos básicos, como soja e milho, que estão com preços em queda no cenário internacional. A única alternativa, então, seria reduzir a compra dos produtos de outros países. A Argentina é uma das principais compradoras de produtos manufaturados das empresas brasileiras.

A balança comercial brasileira já tem enfrentado problemas por causa da crise Argentina. A economia do país vizinho está em recessão e ele já vem comprando menos do Brasil. Os dados do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior mostram que a participação argentina nas vendas para o exterior corresponderam a 6,71% (US$ 7,4 bilhões) do total no primeiro semestre, abaixo dos 8,15% (US$ 9,3 bilhões) de 2013. Atualmente, a Argentina é o terceiro país que mais importa do Brasil. Mas está muito próxima da Holanda, responsável por 6,25% das compras.

“O Brasil está sendo afetado pela gestão macroeconômica da Argentina. As restrições que foram impostas para as nossas importações prejudicaram a indústria, em especial a automobilística”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.

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A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) estima, por exemplo, que as vendas para os argentinos deverão somar neste ano cerca de US$ 50 milhões. Em 2013, foram exportados US$ 120 milhões. “Recentemente houve uma piora para receber os valores que tínhamos embarcado”, afirma Heitor Klein, presidente executivo da Abicalçados.

O setor de máquinas e equipamentos também deve ter um resultado pior nas vendas para a Argentina. Os números da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram uma redução de 23% (de US$ 882,6 milhões para US$ 682,8 milhões) nas exportações para a Argentina entre janeiro e maio deste ano ante o mesmo período de 2013. “Se ocorre um agravamento da situação financeira do País, existe obviamente uma menor demanda por investimento”, afirma Klaus Curt Müller, diretor de comércio exterior da Abimaq.

Com Agência Estado

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.