Americanas (AMER3): por que a ida de Sergio Rial para o comando da varejista fez a ação saltar 22,5%?

Entre os fatores para alta, analistas avaliam que a experiência que Rial possui no setor financeiro possa contribuir significativamente para o avanço da Ame

Felipe Moreira

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Na última sexta-feira (19), após o fechamento do mercado, a Americanas (AMER3) anunciou que Sergio Rial (ex-presidente do Santander) irá substituir Miguel Gutierrez como CEO da empresa, a partir de 1º de janeiro de 2023, o que foi considerado positivo por analistas.

Com a notícia, a ação da companhia disparou 22,94%, a R$ 15,96, de longe a maior disparada do Ibovespa na sessão desta segunda-feira (22), em que o índice caiu 0,89%. Mas por que a notícia animou tanto os investidores?

Rial possui um “histórico de gestão focado em controle de custos e será uma liderança motivadora e inspiracional, características que serão chave para suportar a transformação em curso da Americanas, além de trazer mudanças estruturais no processo de transformação cultural da companhia”, comentou a XP Investimentos, em relatório.

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Para o Itaú BBA, o mercado verá essa mudança como um passo na direção certa, uma tentativa de trazer novas ideias para uma das histórias de maior sucesso do varejo brasileiro.

Na avaliação da Levante Ideias de Investimento, esse é um movimento importante na história da Americanas, visto que rompe o modelo de liderança predominante na companhia que sempre foi contra a entrada de executivos seniores de fora da empresa, em cargos executivos. “Além disso, a troca no comando deve ser positiva no que tange o relacionamento da organização com o mercado, cuja falta de comunicação sempre foi um problema”, aponta.

Rial possui sólida experiência no setor financeiro, liderando por sete anos o Santander Brasil. Atualmente, ele é chairman do Santander, da Vibra Energia (VBBR3) – que é sócia da Americanas na joint-venture de lojas de conveniência – e da BRF (BRFS3).

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A Levante aponta que, desde que a reestruturação societária da Americanas foi aprovada no final do ano passado, a troca de
executivos vem sendo discutida. “Espera-se que Rial, com a experiência que possui no setor financeiro, contribua significativamente para o avanço da Ame, a plataforma financeira da Americanas, integrando de forma mais eficiente o digital à operação da companhia, algo que a empresa tem tido dificuldades de executar”, apontam os analistas da casa de research.

Já o Goldman Sachs reconhece que é muito cedo para avaliar quaisquer mudanças na estratégia e execução, mas diz estar confiante pela experiência relevante de Rial em vários cargos de gestão em empresas nos setor financeiro e de consumo (embora não no varejo especificamente).

O JPMorgan também não prevê nenhuma interrupção material na estratégia de curto prazo da empresa, uma vez que trata-se de um processo de transição planejada. Ainda assim, o time de análise do banco acredita que o mercado deve dar as “boas-vindas à transição do CEO, pois 1) Rial possui um sólido histórico de retornos em indústrias que são enfrentando disrupção digital, como bancos, 2) Ame digital (iniciativa de fintech e superapp da empresa) deve manter ganhando relevância e sua experiência bancária deve ajudar seu crescimento, e 3) um administrador sênior externo deve trazer algum ar fresco para a empresa, apesar de sua experiência limitada no varejo”.

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“Semelhante a outros titãs, ele enfrentou grandes desafios para construir operações online lucrativas e de alto crescimento em meio um ambiente em rápida mudança”, destacam analistas do JP.

Ao Broadcast, Eugênio Foganholo, sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer, destacou que a escolha provavelmente se deu pela habilidade de liderança do executivo. “Ele deve ser um grande líder e deve ter grande capacidade de gestão, mas o que tem faltado na Americanas, e não é de hoje, é alguém com forte pegada varejista, e ele possivelmente não deve ter isso”, afirmou.

Em relatório, o Citi escreveu que o processo de sucessão é fundamental, especialmente para o próximo estágio de crescimento da Americanas. A empresa está se tornando mais digital, mais focada no mercado, ao mesmo tempo em que desenvolve novas iniciativas. Por isso, o banco acredita que o mercado pode receber bem uma cara nova para liderar este novo capítulo.

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Dessa forma, Citi reitera recomendação de compra para Americanas, com preço-alvo de R$ 26, o que implica em potencial de valorização de 99,5% frente a cotação de fechamento de sexta-feira (19) de R$ 13,03.

Já a XP Investimentos reduziu preço-alvo para R$ 20,0 de R$ 21,0, mas manteve recomendação neutra, pois diz preferir estar exposta à outros varejistas com uma relação de risco/retorno mais equilibrada e com níveis de valuation similares.

O Goldman Sachs mantém classificação neutra com preço-alvo de R$ 19. JPMorgan também classifica Americanas como neutra, com preço-alvo de R$ 17.

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Desafios no radar

A Americanas, até sexta-feira (19), acumulava queda de quase 60% no ano, assim como os principais players do setor, que
desde o final do ano passado têm sido bastante penalizados pela deterioração do cenário macroeconômico, com a elevação dos juros e inflação se mantendo em patamares elevados, avalia a Levante.

“Diante desse cenário, o desafio de entregar crescimento com rentabilidade ficou ainda mais difícil. No caso da Americanas, sua margem bruta cresceu 0,4 ponto percentual (p.p.), para 30,9% no primeiro semestre do ano, mais do que seus principais concorrentes no Brasil, como Magalu e Via, porém, com menor crescimento”, avaliam.

Para os analistas da casa, com a mudança no comando da Americanas, aumentam as expectativas sobre a companhia em acelerar sua transformação digital e equilibrar os pratos: maior crescimento do volume bruto de mercadorias (GMV) e rentabilidade. Assim, apesar de ser grande o desafio que Rial deverá enfrentar, já era esperada uma reação positiva das ações AMER3 no curto prazo.

“O mercado tem reagido positivamente às mudanças na diretoria que algumas empresas têm feito após a divulgação dos balanços do segundo trimestre, assim como ocorreu recentemente com mudanças no conselho do Grupo Mateus (GMAT3), que aumentaram as expectativas sobre o papel, provocando uma alta expressiva do ativo”, avalia a Levante.

Entretanto, no médio prazo, com inflação ainda rodando em patamares altos, renda da população bastante comprometida com itens discricionários e competição cada vez mais acirrada, é difícil traçar um cenário de melhora substancial, concluem os analistas da casa.

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