Além de lições e temores, calote do Dubai também traz boas oportunidades, diz Citi

Episódio serve para lembrar que crise ainda não foi superada; equipe mantém otimismo e vê em quedas boas chances de entrada

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SÃO PAULO – Os dias de congelamento de fundos, quebra de bancos, prejuízos recordes e colapsos de instituições pareciam ter ficado para trás. Engano. Aqueles que apostavam no fim das turbulências tiveram muito o que repensar após as notícias vindas de Dubai na semana passada.

O fundo Dubai World, gerido pelo governo homônimo, requisitou aos seus credores uma extensão do prazo de pagamento de suas dívidas, que somam nada menos que US$ 59 bilhões. A notícia surpreendeu os mercados, tanto pelo montante quanto pela origem – o Dubai é conhecido justamente por sua prosperidade econômica e propriedades luxuosas.

A moratória do fundo abateu o otimismo de muitos investidores, já ansiosos com a iminência do rali de fim de ano, e o resultado não poderia ser diferente: forte derrocada nas bolsas. Longe de ser pontual, o evento merece uma análise mais cuidadosa – como faz a equipe do Citi em relatório divulgado nesta segunda-feira (30).

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Lições e temores

A visão do Citi é categórica: “o episódio serve para lembrar que o rali dos mercados neste ano, ainda que bem-vindo, não implica nem demonstra uma reparação de todos os problemas que, pelo contrário, demandam ainda muito mais tempo para serem completamente superados”.

Mais do que apenas uma lição, no entanto, a possibilidade de um calote no Dubai World suscita temores concretos de que outros países em situação semelhante à enfrentada pelo emirado venham também a declarar estado de moratória, assim como o fez a Argentina em 2001. Entre os países listados pelo Citi, estão a Grécia, a Irlanda e a Rússia.

De fato, as bolsas europeias foram as que pior reagiram à notícia, anunciada na última quinta-feira (26). O principal índice da bolsa russa, por exemplo, caiu nada menos que 4,2%, liderando as perdas registradas no continente naquele pregão.

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“Apenas um catalisador”

No entanto, o Citi não acredita que a magnitude do episódio seja comparável às turbulências do ano passado. Para a equipe, uma correção no preço dos ativos já era esperada, “e Dubai pode ter sido apenas o catalisador desta tendência”, afirmam os analistas.

A reação dos mercados teve ainda o “fator Ação de Graças”, já que quando a notícia tomou o noticiário global, as bolsas norte-americanas encontravam-se fechadas em função do tradicional feriado, diminuindo a liquidez dos negócios e contribuindo para uma repercussão talvez maior que o normal.

E ainda que o fundo continue preocupando – nesta segunda-feira, autoridades alertaram investidores para o fato de que o governo do Dubai não garantirá a dívida de US$ 59 bilhões, ao contrário do que se esperava -, o Citi mantém suas projeções de valorização para as bolsas norte-americanas nos primeiros meses do ano que vem.

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“Projetamos um S&P 500 para o começo de 2010 entre os 1.200 e 1.500 pontos, em uma alta relacionada aos lucros corporativos”, arriscam os analistas, que vão além: “qualquer recuo do mercado em função do noticiário fornece uma boa oportunidade de entrada”. Atualmente, o índice de ações norte-americano está próximo de 1.100 pontos.

Setores

Aos dispostos a embarcar nesta oportunidade, o Citi elege seus segmentos preferidos e outros nem tanto assim. Os papéis atrelados a instituições financeiras encaixam-se na segunda categoria, uma vez que devem ser penalizados por uma provável continuidade do noticiário negativo em torno do fundo de Dubai.

A mesma visão pessimista vale também para ações das farmacêuticas norte-americanas, mas por razões distintas. “Embora a maior volatilidade costume beneficiar o setor, considerado defensivo, prováveis revisões para os próximos resultados diminuem a atratividade dos papéis”, alerta o Citi, que em contrapartida, vê bons investimentos em ações de empresas de bens de capital.