Afinal, por que o Ibovespa pode cair para 45 mil pontos caso Dilma vença?

Caso a profecia do mercado se concretize, em uma possível reeleição da petista, o índice seria empurrado para uma queda de 20% em relação ao atual patamar

Paula Barra

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SÃO PAULO – Muito tem se falado que o Ibovespa deve cair até os 45 mil pontos caso Dilma Rousseff seja reeleita – uma profecia que, se concretizada, puxaria o índice para uma queda de 20,81% em relação ao fechamento da última quarta-feira (quando encerrou o pregão a 56.824 pontos). Mas, afinal, por que o mercado projeta esse nível?

O patamar de 45 mil pontos é onde o Ibovespa estava antes do rali, que teve início em março, junto com as pesquisas eleitorais mostrando força da oposição, apontou a casa de research Empiricus. Nessa época, o principal índice de ações da Bolsa brasileira subiu 38% até bater em seu maior patamar desde janeiro de 2013, quando encostou nos 62.300 pontos em 3 de setembro. Ou seja, isto quer dizer que todo o “ganho” do mercado com uma possível saída do PT do governo seria anulada caso Dilma vencesse a eleição presidencial em outubro.

“O mercado encontrou nesse número uma ancoragem. Uma projeção nesse sentido seria muito leviana, mas dá para estimar uma tendência como essa caso vença a situação. É onde o Ibovespa encontrava-se antes do rali”, disse o gestor Frederico Mesnik, da Humaitá Investimentos. 

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Para a Empiricus, esse patamar dos 45 mil pontos pode ser ainda pior dado que o cenário econômico é outro hoje. O minério de ferro, principal produto de uma das principais blue chips da Bolsa – a Vale -, está em US$ 80 a tonelada, enquanto o Federal Reserve flerta com uma subida do juro, o que pode fazer com que os investidores migrem do Brasil para Estados Unidos. Além disso, deve-se lembrar que as projeções para a economia brasileira são outras agora: a expectativa para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014, por exemplo, era 1,7% em março, enquanto agora o mercado trabalha com 0,3%, segundo último relatório Focus, do Banco Central. Confira abaixo:

Expectativas do mercado para Brasil em 2014 (março versus setembro)
Indicadores* O que o mercado esperava em março para 2014 O que o mercado espera em setembro para 2014
PIB 1,7% 0,3%
IPCA 6,28% 6,3%
Selic – fim do período 11,25% ao ano 11% ao ano
Taxa de câmbio – fim do período (R$/US$)  2,49 2,34
*Estimativas retiradas do relatório Focus, do Banco Central

Correção já está sendo sentida
Uma correção já tem sido sentida na Bolsa. O mês de setembro caminha para ser o pior mês do Ibovespa desde março, com queda acumulada até ontem de 7,5%. Todo esse recuo tem sido acompanhado pelas pesquisas recentes, que tem mostrado maior chance de reeleição de Dilma enquanto Marina Silva (PSB) começou a perder forças. “A recente subida de Aécio nas pesquisas, que conforme o mercado não teria forças para bater em Dilma no segundo turno, e consequente perda de força de Marina, trouxe ainda mais incertezas para o mercado, contribuindo para a recente queda do índice. O mercado está ao sabor das eleições”, comentou Mesnik. 
 

Na última pesquisa Ibope, divulgada na terça-feira à noite, Dilma Rousseff seguiu ganhando força no primeiro turno, subindo de 36% para 38% das intençõse de voto. Enquanto isso, Marina Silva (PSB) caiu mais um ponto, passando de 30% para 29%. Aécio Neves (PSDB) parou de subir e se manteve com 19%. Em um eventual segundo turno, o empate entre as duas candidatas continua, com Marina e Dilma empatadas com 41% dos votos cada uma. No levantamente anterior, Marina aparecia na frente com 43%, contra 40% da petista. Caso a disputa seja ente Dilma e Aécio, a atual presidente venceria por 46% a 35% do tucano.

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Pouco mais de um mês atrás, em 22 de agosto – época em que Marina começou a despontar como principal adversária de Dilma e o Ibovespa estava na faixa dos 58 mil pontos (2% acima do atual patamar) -, a XP Investimentos divulgou uma pesquisa realizada com 116 gestores mostrando que a projeção deles para o Ibovespa em caso de vitória para cada um dos três principais candidatos à Presidência. O resultado foi: se Marina vencer, o índice da bolsa ficaria nos 59.400 pontos; com Aécio, ele chegaria até os 65.900 pontos; já com vitória de Dilma, o benchmark mergulharia para 44.700 pontos (veja a pesquisa completa clicando aqui).

De 3 de setembro para cá, o Ibovespa caiu quase 5.500 pontos, indo de 62 mil para os atuais 56.541 pontos (fechamento de 23 de setembro, terça-feira). Dos 15 pregões que tivemos nesse período, o índice fechou no negativo em 12. Se o “alvo” dos gestores estiver certo, o Ibovespa tem espaço para cair mais xxx%.

Novas pesquisas, novo cenário
Além do Ibope, o mercado acompanhou a divulgou de mais duas pesquisas ontem, com maiores ou menores diferenças, mostraram uma recuperação de Dilma, queda de Marina Silva e um quadro “dúbio” para o Aécio Neves (PSDB). Mas ambas mostraram que a candidata à reeleição aumentou as suas chances de ser eleita.

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A primeira pesquisa divulgada ontem, CNT/MDA, mostrou que Dilma subiu de 30,9% para 31,4% na pesquisa espontânea, enquanto Marina caiu de 25,8% para 23% no primeiro turno. Aécio Neves mostrou um forte crescimento de 4,3 pontos percentuais, chegando a 14,4% das intenções de voto. Nas simulações de segundo turno, o empate técnico persiste mas com Dilma na frente de Marina: 42% a 41%. Na pesquisa anterior, a ambientalista tinha 45,5% das intenções de voto, contra 42,7% da petista.

Já o Vox Populi mostrou uma vantagem mais confortável da candidata petista em um eventual segundo turno com Marina. No primeiro turno, Dilma tem 40% e Marina, 22%; Aécio tem 17%. Em um eventual segundo turno contra Marina, Dilma teria 46% dos votos, contra 39% da pessebista. Ainda nesta semana, está prevista a divulgação do Datafolha.

Com as simulações de segundo turno no Ibope mostrando Marina e Dilma empatadas, a LCA Consultores ressalta que a principal informação fornecida foi a consolidação do cenário segundo o qual o segundo turno será disputado pelas duas candidatas. “Agora, resta saber se a moderada tendência de alta de Dilma Rousseff e o também modesto viés de baixa de Marina Silva terão continuidade nos próximos dez dias”, diz a consultoria em relatório. Ela ressalta ainda a recuperação de Aécio Neves, que conseguiu recuperar parte dos eleitores que migraram para Marina Silva.