Saque do FGTS divide analistas em torno do impacto para construtoras na baixa renda

Bradesco e Credit Suisse esperam que a medida injete dinheiro na economia e não comprometa o orçamento do fundo, mas Itaú BBA entende que há riscos

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O anúncio do governo de liberar os saques de contas ativas e inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) divide analistas em relação ao impacto que terá nas construtoras. Especialmente para aquelas que atuam no segmento de baixa renda. 

De acordo com o analista Luis Stacchini, do Credit Suisse, as retiradas até o teto de R$ 500 por conta devem totalizar R$ 40 bilhões, o que se favorece o consumo, por outro lado gera preocupações a respeito da liquidez e da capacidade de empréstimo do FGTS.

O que pode mitigar esse impacto, segundo o analista, é que os saques serão realizados durante sete meses, o que deve fazer com que o impacto seja mais diluído. 

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Stacchini escreveu em research que a notícia é negativa, mas menos pior do que indicavam as discussões anteriores ao anúncio.

“Nossas simulações indicam que, com esse cenário, o FGTS deve ser capaz de sustentar os níveis de originação atual de R$ 55 bilhões anuais, o que é marginalmente positivo para as construtoras no segmento de baixa renda”, avalia.

Em relatório, os analistas Enrico Trotta, Alex Ferraz, Gabriel Simões e Pablo Ordóñez, do Itaú BBA, indicam que os riscos aumentaram para a liquidez do fundo e o orçamento do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). 

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“Incorporando o pagamento mais alto [das cotas aos trabalhadores] e a estimativa de saques em R$ 40 bilhões no nosso modelo, o caixa do fundo e os títulos e valores mobiliários poderão bater no covenant [obrigações contratuais que não podem ser descumpridas] de liquidez em 2023, de acordo com nossos cálculos”, destacam.  

Para a equipe do banco, a medida provisória do governo que liberou os saques elevou o risco no médio prazo de que seja necessário um corte no orçamento do MCMV. 

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De acordo com os analistas Victor Tapia e Maria Clara Negrão, do Bradesco BBI, o MCMV permanecerá sustentável apesar das mudanças.

Embora admitam que a mistura de retiradas anuais (que começam apenas em 2021) com as que ocorrem em demissão sem justa causa torne o impacto difícil de prever, o Retorno sobre o Ativo (ROA) de 0,9% esperado para o FGTS em 2025 não é motivo de preocupação. 

“Em nossa visão, além das outras medidas tomadas para reduzir as despesas do FGTS, se fosse necessária uma redução no programa MCMV, seria bastante pequena”, apontam. 

O Bradesco BBI mantém recomendação de compra para as ações de duas empresas do setor habitacional de baixa renda, Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3).

O preço-alvo para Direcional é de R$ 13,00 por ação, contra R$ 11,70 que foi o valor de fechamento do papel no pregão da quinta-feira (25), configurando em um upside de 11%. Para a Tenda, o objetivo foi estabelecido em R$ 27,00, ante R$ 24,13 no fim da sessão da véspera, o que configura um potencial de valorização de 12%.

Para MRV (MRVE3), a equipe de análise do Bradesco tem recomendação neutra e preço-alvo de R$ 18,00. Os papéis fecharam cotados a R$ 18,60 no último pregão. 

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.