Fim do monopólio da Petrobras no mercado de gás está próximo: quais ações ganham e quais perdem?

Plano do governo pretende diminuir o preço do combustível das termelétricas ao romper o monopólio da petroleira - e analistas apontam quais serão as mudanças no mercado

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A proposta de abertura do mercado de gás que o governo Bolsonaro coloca como prioridade para reduzir o custo da energia elétrica já mostra soluções e efeitos colaterais à medida em que ganha forma. 

Somando-se à venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) pela Petrobras (PETR3; PETR4) – primeiro passo rumo ao fim do monopólio –, mudanças já foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e foi feito um acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para tirar a estatal completamente deste setor.

Com isso, abre-se espaço para que novos players possam atuar no mercado brasileiro, ao mesmo tempo em que a Petrobras reforça a sua atuação no seu negócio principal, de exploração e produção de óleo e gás. 

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Em relatório, os analistas Pedro Medeiros e Fernanda Cunha, do Citigroup, destacam que, seguindo o plano, a Petrobras poderia levantar mais de US$ 8 bilhões com a venda de ativos relacionados a gás. 

Atualmente, a petroleira responde por 77% da produção nacional e por 100% do que é importado de gás natural. Não só, a empresa ainda é sócia de 20 das 27 distribuidoras do combustível no País. 

Pelo que foi publicado no Diário Oficial de quarta-feira (26), a proposta do CNPE é que governadores que fizerem reformas no setor de distribuição de gás, abrindo o mercado e privatizando suas empresas do setor, receberão mais recursos. A medida irá compor um projeto de socorro fiscal aos estados, que, como se sabe, precisam de toda ajuda possível para equalizar suas contas.

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O acordo da Petrobras com o Cade para que a petroleira se comprometa a desinvestir os gasodutos vindos de campos offshore deve ocorrer em julho. 

De acordo com o consenso de recomendações da Bloomberg, dos analistas que cobrem Petrobras, nove recomendam compra das suas ações, dois recomendam manutenção dos papéis e nenhum aconselha venda. 

O preço-alvo das ações preferenciais PETR4 da estatal é de R$ 31,96, o que corresponde a uma alta de 17,4% sobre o valor de fechamento dos papéis na quinta-feira (27). 

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Não é só a Petrobras

O gás natural, que é uma mistura de metano (CH4) e etano (CH6), é usado principalmente pela indústria e pelas usinas de geração de energia termelétrica. Por isso, o aumento na concorrência no setor é visto como uma forma de reduzir o valor da conta de luz para empresas e famílias. 

Segundo os analistas Vicente Falanga e Francisco Navarrete, do Bradesco BBI, o desenvolvimento do mercado de gás é um passo importante para o Brasil em termos de produtividade e criação de empregos. A abertura, neste cenário, também pode servir para que algumas empresas destravem valor e aumentem suas rentabilidades. 

“Nós vemos muitas oportunidades para companhias envolvidas no setor de combustíveis como Cosan (CSAN3) e Ultrapar (UGPA3), além de outras”, escreve o analista. A geradora de energia elétrica Eneva (ENEV3) também seria beneficiada. 

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Para Falanga, por mais que o impacto de médio prazo da nova política de gás seja uma redução nos preços do combustível, no longo prazo, essa desvalorização será ofuscada por volumes maiores de gás. 

Já o analista Haroldo Amaral, do Credit Suisse, entende que os novos players podem ocupar posições melhores para ocupar capacidade nos dutos. Um exemplo é a Engie (EGIE3) – que comprou a TAG da Petrobras – uma vez que a empresa terá condições melhores na negociação de suas receitas.

Por outro lado, o Credit cita como perdedoras as geradoras de eletricidade Copel (CPLE6) e AES Tietê (TIET11), pois a queda no custo do gás reduzirá o preço da energia a longo prazo e ambas possuem ainda muita energia a ser vendida.

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“A Copel poderia tentar contrabalancear vendendo Energia de Araucária a longo prazo (desde que conseguisse gás para isso), mas, ainda, o preço menor deve pesar”, conclui o relatório do banco suíço. 

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.