Dólar cai para R$ 3,97 e bate mínima em 20 dias com política; bancos “salvam” o Ibovespa

Mercado terminou entre realização e otimismo com possibilidade de corte da taxa básica de juros

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em leve alta puxado pelas ações dos bancos, que compensaram a queda de ações de empresas ligadas a commodities, como Petrobras, Vale e siderúrgicas. Lá fora, as bolsas recuaram por conta do aumento nas tensões entre Estados Unidos e China, enquanto aqui, o mercado comemorou a aprovação da Medida Provisória 870 – que reduz de 29 para 22 o número de ministérios – no Senado. 

O principal índice da B3 teve leve alta de 0,18% a 96.566 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 14,69 bilhões, enquanto o dólar comercial recuou 1,2% e fechou na mínima do dia, a R$ 3,9752 na compra e a R$ 3,9761 na venda – menor valor desde 10 de maio. O dólar futuro com vencimento em junho registra perdas de 1,24% a R$ 3,9765.

Segundo Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor, a perda de força do Ibovespa que ocorreu no final do pregão é um movimento típico de zeragem de posições dos investidores que fazem day trade. “Não há notícia que possa dar um norte hoje. A aprovação da MP já foi precificada, então o mercado está seguindo lá fora, mas o que sustenta algum otimismo são os bancos, que não deixaram o índice cair”, aponta. 

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Para Santos, a queda forte dos juros futuros indica um aumento nas apostas do mercado por uma redução na taxa Selic. Ontem, os DIs desabaram 20 pontos-base por conta de uma fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o atual patamar do dólar não pressiona a inflação dada a situação da atividade econômica. 

“Bancos sobem com expectativa de queda da taxa básica de juros lá para frente, o que estimularia a economia e traria mais movimento”, explica. “Se o mercado internacional estivesse em alta, a Bolsa aqui provavelmente teria subido mais forte também, graças aos bancos”, avalia. 

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2021 cai um ponto-base a 6,60%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 registra perdas de seis pontos-base a 7,66%. 

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Guerra comercial

O temor no mundo hoje é devido à ameaça da China, que afirmou poder usar usar terras raras, que são cruciais para o setor tecnológico, como arma na guerra comercial. O país tem controle sobre 80% da oferta global dessas substâncias químicas, que são de difícil extração, e as exporta principalmente para os EUA, mas a imprensa estatal do país informou que pode paralisar o comércio em represália às tarifas que os norte-americanos impuseram a mais de US$ 200 bilhões em produtos chineses. 

Além disso, a gigante de tecnologia chinesa Huawei apresentou hoje uma moção na Justiça americana questionando a constitucionalidade de uma lei que limita suas vendas de equipamentos de telecomunicações, no lance mais recente de seu atual confronto com o governo dos Estados Unidos.

O diretor jurídico da Huawei, Song Liuping, disse em coletiva de imprensa que solicitou a um tribunal nos EUA que julgue se é constitucional ou não uma decisão de Washington de invocar um dispositivo que impede o governo americano e seus fornecedores de utilizarem equipamentos da empresa chinesa.

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Também no exterior,  Banco Central Europeu (BCE) advertiu hoje para a possibilidade de que os riscos de piora no crescimento se materializem e de que isso eleve preocupações sobre a sustentabilidade de dívidas. “Além do alto nível de dívida e grandes déficits fiscais, alguns países poderiam enfrentar riscos na rolagem se participantes do mercado reavaliarem o risco soberano”, diz um documento do BCE, no momento de ampliação das tensões entre a União Europeia e a Itália – país que insiste em manter um patamar de gastos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) superior ao limite determinado pelo bloco.

Noticiário corporativo

A Medida Provisória 868, que altera o marco legal do saneamento deve ser retirada da pauta da Câmara, diz o Valor. Segundo a publicação, como o texto caduca na próxima segunda-feira, deputados e o governo articulam um projeto de lei disciplinando o tema, em regime de urgência. A proposta, porém, viabiliza a privatização de companhias estaduais de saneamento.

A Justiça rejeitou ontem a oferta da Azul (AZUL4) para ficar com os ativos da Avianca Brasil, por US$ 145 milhões. Segundo sentença, a Azul não tem legitimidade para invalidar o plano de recuperação aprovado anteriormente, que prevê o leilão de sete unidades produtivas, de forma isolada, com os ativos da empresa aérea, diz o Estadão.

Ainda na briga pelas operações da Netshoes, a Centauro (CNTO3) elevou, novamente, sua proposta e agora oferece pagar US$ 3,50 por ação da empresa, cobrindo a última oferta da varejista Magazine Luiza (MGLU3), que era de US$ 3,00 por ação. A Netshoes, com essa nova oferta, seria vendida por US$ 109 milhões.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRDT3 PETROBRAS BRON 24,60 +4,06 +5,10 117,92M
 SBSP3 SABESP ON 44,15 +3,61 +40,16 186,08M
 UGPA3 ULTRAPAR ON 20,05 +3,24 -23,62 100,31M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 16,18 +3,12 -17,55 82,32M
 RAIL3 RUMO S.A. ON 19,06 +2,97 +12,12 191,63M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 21,17 -6,33 +82,68 382,80M
 BRFS3 BRF SA ON 28,73 -5,49 +31,01 357,15M
 CIEL3 CIELO ON 6,76 -4,25 -21,72 144,28M
 CSNA3 SID NACIONALON 16,71 -4,13 +98,32 280,95M
 SUZB3 SUZANO S.A. ON 33,30 -3,42 -11,59 274,26M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN EJ N2 26,56 -0,90 1,04B 1,16B 42.978 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 34,72 +1,88 971,35M 602,77M 40.779 
 VALE3 VALE ON 49,70 -1,09 881,54M 988,29M 35.137 
 BBDC4 BRADESCO PN 36,42 +1,99 751,77M 534,49M 38.741 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 51,20 -0,10 566,12M 534,11M 30.861 
 ITSA4 ITAUSA PN 12,16 +2,44 444,84M 232,03M 32.807 
 JBSS3 JBS ON 21,17 -6,33 382,80M 311,82M 44.434 
 BRFS3 BRF SA ON 28,73 -5,49 357,15M 251,08M 37.202 
 B3SA3 B3 ON 36,11 +1,04 340,65M 282,16M 26.555 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,26 -0,29 306,94M 413,21M 25.313 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Exterior

As bolsas europeias operam em queda nos principais mercados refletindo as preocupações com a guerra comercial e as tensões de uma possível batalha entre a União Europeia e a Itália. Segundo a CNBC, surgiram relatos afirmando que a UE estaria considerando medidas disciplinares sobre o fracasso do governo italiano em controlar as dívidas – o que uma autoridade europeia evitou confirmar. O vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, disse que Roma pode receber uma multa de 3 bilhões de euros por acumular dívidas e gerar um déficit que quebra as regras do bloco.

O BCE advertiu ainda que os riscos de baixa no crescimento econômico poderiam gerar mais volatilidade nos mercados financeiros. Esses riscos de piora no crescimento reforçam a necessidade de se fortalecer balanços de dívidas de governos altamente endividados. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, adverte no relatório para os riscos à estabilidade financeira, caso uma piora na perspectiva econômica se concretize. Outro alerta é para uma eventual escalada nas tensões comerciais, que poderiam provocar mais perdas nos preços dos ativos, diz o BCE.

Noticiário Político

Durante encontro no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro propôs aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, “um pacto de cooperação” entre os três poderes, para a aprovação de uma pauta de interesses em comum no Congresso Nacional. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, informou após o encontro que um documento com esse teor deve ser assinado na semana de 10 de junho.

Segundo o Estadão, com tom genérico, o pacto fala em reforma da Previdência, modernização do sistema tributário, desburocratização administrativa, repactuação federativa e combate à corrupção. Bolsonaro declarou não querer conflito na relação com os três poderes. Na Câmara, líderes mostraram ceticismo, pontua a publicação. Sobre a reforma da Previdência, após ser alvo dos protestos do último domingo, Maia afirmou que vai pedir que o parecer da reforma esteja finalizado antes do dia 15.

Outro destaque na política é o acerto na pauta entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a equipe econômica para dar prioridade a 30 projetos de lei já em tramitação ou que ainda serão encaminhados pelo governo para modernização e digitalização do Estado brasileiro, informa o jornal Valor Econômico. Segundo a Folha de S.Paulo, do encontro saíram propostas ainda para a criação de um gatilho automático para austeridade e mudança na Lei de Greve.

Como esperado, os senadores aprovaram ontem à noite a retirada do Coaf – órgão que investiga transações financeiras – do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A decisão recebeu o apoio do governo Bolsonaro, que temia o retorno da estrutura administrativa antiga, com 29 ministérios, ao invés dos 22 que a MP determina. O texto básico da MP foi aprovado por 70 a 4.

Noticiário Econômico

O Estadão destaca que, em busca de crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões para pagar despesas, o governo propôs ao Congresso a redução do pedido para R$ 146,7 bilhões. Segundo a publicação, o restante seria obtido por meio de outras fontes após a mudança na Lei Orçamentária de 2019. A “regra de ouro” do Orçamento impede que o governo contraia dívida para pagar gastos correntes, como aposentadorias, benefícios assistenciais, Bolsa Família e subsídios agrícolas.

A Folha informa que o retorno do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, que estava afastado após ter sido preso por supostas irregularidades em sua gestão, gerou um racha no governo Federal em torno do desfecho para o “Sistema S”. Segundo a publicação, o governo queria trocar a direção da CNI para conquistar a maioria com as demais entidades e aprovar as mudanças que pretende fazer nas entidades que administram estes recursos. Agora, três grupo divergem sobre o plano.

O Brasil, junto com os países da União Europeia, México e Canadá, poderiam se beneficiar da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, aponta estudo da Confederação das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), informa a Folha. Segundo o levantamento, dos US$ 250 bilhões em produtos exportados pela China sujeitos a sobretaxa pelos EUA, 82% devem passar a ser fornecidos por outros países, 12% seguirão com a China e 6% ficariam com os norte-americanos.

Na via contrária, aponta a Unctad, a tendência é mesma, já que dos US$ 110 bilhões sobretaxados pelos chineses de produtos dos EUA, 85% devem ser capturados por outros países, 10% se manteriam com os EUA e 5% passariam as mãos de empresas chinesas. Dentre os produtos mais beneficiados no Brasil estariam o milho, o algodão, a carne suína, bovina, soja, suco de laranja e carne de frango.

O Valor destaca que o debate atual sobre um corte adicional dos juros para estimular a economia não é trivial, segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos. Segundo Campos, apesar da expectativa de crescimento da economia ter caído, não houve retração nas expectativas de inflação nem no curto nem no longo prazo.

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.