Os 3 fatores que levaram o Ibovespa a fechar na mínima e o dólar na máxima do ano

Mercado chega ao menor nível desde o início do ano em meio a cenário político, má notícia da Vale e aversão a risco lá fora

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou no menor patamar do ano nesta quinta-feira (16) pressionado pelas tensões políticas e pela notícia de que a Vale (VALE3) pode enfrentar mais um rompimento de barragem este ano. O mercado brasileiro se descolou de vez das bolsas internacionais, que subiram forte. Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram perto de 1%. 

Três fatores principais levaram a Bolsa ao fechamento de hoje. O primeiro foi a tensão depois dos protestos contra cortes de 30% em verbas discricionárias das universidades federais pesa por aqui, aumentando as incertezas sobre o capital político do governo para aprovar a Reforma da Previdência.

O segundo foi a questão da Vale, que informou ao Ministério Público (MP) que existe risco de ruptura da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG). Segundo os dados dos radares instalados no local, existe a possibilidade de deslizamento de uma parte dessa mina. A mineradora detectou o movimento na última segunda e disse que se a velocidade se mantiver, a ruptura do talude pode acontecer entre os dias 19 e 25 de maio.

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Por fim, a alta do dollar index, que subiu pelo terceiro dia em quatro pregões frente a todas as 16 moedas globais principais acompanhadas pela Bloomberg e também frente à maioria de 24 divisas emergentes, reflete o clima de aversão ao risco provocado pela incerteza em relação ao fim da guerra comercial entre EUA e China. O real teve o pior desempenho nos dois grupos. 

O principal índice da B3 teve queda de 1,75%, aos 90.024 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 17,343 bilhões, enquanto o dólar comercial subiu 0,87%, cotado a R$ 4,0311 na venda. O menor patamar da Bolsa antes deste pregão havia sido no dia 2 de janeiro, quando o Ibovespa fechou em 91.012 pontos. Já o dólar renovou a máxima que tinha atingido ontem aos R$ 3,9962. 

O dólar futuro com vencimento em junho avançou 0,92%, para R$ 4,0455.

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Nos juros futuros, o DI para janeiro de 2021 tem alta de quatro pontos-base a 6,92%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 registra ganhos de cinco pontos-base, a 8,12%.

Segundo o operador de multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, Lucas Monteiro, as notícias recentes na crise da Educação mostram que o governo não está afinado com o Centrão. “O PSL está muito mal organizado, a esperança reside em que o Centrão continue atuando em prol da reforma, como defende [o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo] Maia (DEM-RJ)”, diz. 

O mercado segue atento aos novos focos de tensão política, após a ida do ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao Congresso e os protestos que tomaram conta do País, contra os cortes no orçamento da pasta.

Segundo a contagem dos principais jornais, o número de cidades onde manifestantes foram às ruas varia entre 170 e 250, mas o que traz preocupação aos investidores é o cenário de aumento da impopularidade e a falta de articulação política para a aprovação dos principais projetos do governo no Congresso, como o da Reforma da Previdência.

Causou maiores apreensões e repercussões negativas, a reação do presidente Jair Bolsonaro que, de Dallas (EUA), classificou as manifestações como coisas de “imbecis” e “idiotas úteis” usados como “massa de manobra”.

Ao longo de seis horas, Weintraub tentou explicar o bloqueio de verbas de universidades em audiência na Câmara, expondo mais um desgaste na relação do governo com o Congresso.

Sobre a reforma, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ter acertado com o comandante do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que irão “fazer a Reforma da Previdência Social, com o governo ajudando ou atrapalhando, com ou sem redes sociais”.

As declarações acontecem no momento em que a insatisfação com o governo cresceu após uma série de derrotas no Congresso, até com parlamentares alinhados à agenda de Bolsonaro passando a criticar o presidente e seus ministros.

Na economia, o Produto Interno Bruto (PIB) do País segue sendo revisado para baixo, com as projeções apontando que a economia deverá crescer abaixo de 1% este ano, após a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). O pessimismo deriva da percepção de que o fraco desempenho do período de janeiro a março não deve mudar tanto nos próximos trimestres, já que a principal trava é a incerteza fiscal, que não deve ser diluída rapidamente.

Já no exterior, o governo chinês criticou a postura americana no caso e ameaçou retaliar novamente caso os EUA levem adiante a ameaça de elevar tarifas sobre os US$ 325 bilhões em produtos chineses que até agora escapam dessa punição. Além disso, informaram desconhecer qualquer plano norte-americano de continuidade das negociações com uma visita de representantes de Washington a Pequim.

Nos indicadores, a China informou que atraiu US$ 9,34 bilhões em investimento estrangeiro direto em abril, alta de 2,8% na comparação com igual mês do ano passado. De janeiro a abril, esses investimentos aumentaram 3,5% na comparação com igual período do ano passado, a US$ 45,14 bilhões, segundo os números oficiais. Enquanto isso, o preço médio de novas moradias em 70 cidades da China subiu 11,35% em abril ante igual mês do ano passado.

Noticiário corporativo

Com o final da safra de resultados corporativos, um balanço apontou que a paralisia da economia afetou a rentabilidade das empresas listadas em Bolsa no primeiro trimestre. O Estadão destacou levantamento da Economatica apontando que o lucro líquido de 231 companhias abertas totalizou R$ 20 bilhões, queda de 5,74% sobre janeiro a março de 2018.

Os dados excluem os bancos, a Vale, a Petrobras e a Oi, por distorcerem os resultados. A queda da rentabilidade das empresas refletiu, em boa parte, essa frustração de expectativas de melhoria com o novo governo.

A possibilidade de mudanças no programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV) por parte do governo de Jair Bolsonaro trouxe má impressão aos empresários da construção civil, que reclamaram ter ficado de fora das discussões até aqui e ainda criticaram as propostas em estudo, que foram divulgadas, de acordo com o Estadão.

O governo cogita mudar o subsídio dentro do programa habitacional, com a intenção de doar terrenos públicos nas regiões metropolitanas para as construtoras e financiar as obras por meio de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A construtora ainda ficaria responsável por administrar o condomínio, depois de pronto, durante um período em torno de 20 a 30 anos.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GOLL4 GOL PN N2 20,98 -7,41 -16,41 102,21M
 SBSP3 SABESP ON 39,85 -5,61 +26,51 189,65M
 VVAR3 VIAVAREJO ON 4,09 -4,88 -6,83 95,41M
 UGPA3 ULTRAPAR ON 20,24 -4,48 -22,90 233,02M
 CVCB3 CVC BRASIL ON 47,90 -4,20 -21,67 123,19M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRFG3 MARFRIG ON 6,85 +7,87 +25,46 78,85M
 CSNA3 SID NACIONALON 14,99 +4,61 +77,91 276,08M
 JBSS3 JBS ON 22,69 +3,09 +95,79 523,22M
 BRFS3 BRF SA ON 32,07 +1,71 +46,24 363,06M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 28,38 +0,46 +5,35 167,64M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o Índice Bovespa, foram :

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 46,40 -3,23 2,25B 762,45M 83.679 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 25,27 -2,36 1,19B 1,49B 52.935 
 BBDC4 BRADESCO PN 32,85 -1,17 723,20M 503,40M 51.726 
 BBAS3 BRASIL ON 45,64 -3,12 671,88M 536,54M 38.918 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 31,44 -1,29 564,23M 573,41M 35.244 
 JBSS3 JBS ON 22,69 +3,09 523,22M 288,36M 59.730 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,64 +0,18 462,76M 387,32M 42.087 
 B3SA3 B3 ON 31,90 -1,85 401,62M 284,35M 46.948 
 BRFS3 BRF SA ON 32,07 +1,71 363,06M 299,26M 29.250 
 MGLU3 MAGAZ LUIZA ON 167,00 -3,47 298,53M 196,53M 11.856 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Noticiário Econômico

No âmbito econômico, seguem as revisões para baixo das previsões de expansão do PIB para este ano, por conta dos fracos números da atividade econômica. Segundo o Estadão, já há estimativas de que a economia vai crescer abaixo de 1% este ano, após a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br).

Em vídeo de poucos minutos exibido nesta quinta-feira, em evento da Fitch Ratings em São Paulo, a diretora sênior para América Latina da agência de classificação de risco, Shelly Shetty, afirmou que há incertezas quanto às reformas no Brasil e relacionou a aprovação dessas medidas no Congresso à retomada do crescimento. Ela disse que a previsão da Fitch para o PIB brasileiro é de expansão inferior a 2% em 2019 e de 2,5% em 2020.

“O crescimento no Brasil tem sido fraco nos últimos anos em comparação com demais países da América Latina, excluindo a Venezuela”, afirmou Shelly Shetty.

O piso das estimativas é de alta de apenas 0,5% e a maior é de 2,2%, que tende, porém, a ser revisada para baixo. Na terça-feira, o ministro Paulo Guedes admitiu que a expectativa do governo caiu para 1,5%. Parte desse pessimismo deriva da percepção de que o fraco desempenho do período de janeiro a março não deve mudar tanto nos próximos trimestres, uma vez que a principal trava é a incerteza fiscal, segundo economistas, que não deve ser diluída rapidamente, aponta a publicação.

O governo corre um alto risco de descumprir em 2022 o teto de gastos, dispositivo que impede o crescimento das despesas públicas para além da variação da inflação. A avaliação é da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado Federal, que prevê a permanência desse cenário até 2030. Para 2019 e 2020, as chances de rompimento do teto são baixas, e para 2021, moderadas, diz o relatório.

O Estadão destaca ainda que a equipe econômica pretende ampliar a agenda de revisão de subsídios para incluir em sua mira benefícios bancados por meio da conta de luz, que foram turbinados durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, mas nunca revertidos. Só no ano passado, esses incentivos drenaram R$ 19,2 bilhões dos consumidores, um valor 262% maior que em 2007, já descontada a inflação do período.

Noticiário Político

O noticiário político fervilhou ontem com as manifestações que tomaram conta de todas as capitais do País, com estudantes e professores de escolas públicas e privadas protestando contra o contingenciamento do orçamento do Ministério da Educação, em um movimento que havia sido convocado originalmente por sindicatos contrários à reforma da Previdência.

Em longa sabatina, que começou no meio da tarde, se estendendo até as 21h, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, tentou explicar o bloqueio de verbas de universidades em audiência na Câmara, expondo mais um desgaste na relação do governo com o Congresso.

O ministro provocou os parlamentares, ouviu pedidos de demissão por parte da oposição, mas também recebeu apoio de aliados de Jair Bolsonaro. Weintraub disse ainda que o presidente pode ter se confundido com as palavras “corte” e “contingenciamento” ao ter dito a líderes partidários, na terça-feira, que o governo não iria mais contingenciar recursos das universidades federais, ao ser questionado pelos deputados.

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que a reforma da Previdência abrirá espaço para um crescimento sustentável pelos próximos 10 a 15 anos, de acordo com a Folha. Segundo ele, sem as mudanças, o País está fadado ao baixo nível de expansão e que “o buraco negro fiscal impede investimentos”.

Ainda na política, o vereador carioca Carlos Bolsonaro compartilhou ontem em sua conta no Twitter um vídeo que trata da dificuldade do governo para aprovar no Congresso a Medida Provisória 870, que estabeleceu a atual estrutura de ministérios. Caso a MP não seja votada até 3 de junho, o próprio governo avalia que teria de recriar até dez ministérios, passando das atuais 22 pastas para até 32. “O que está por vir pode derrubar o capitão eleito. O que querem é claro”, escreveu Carlos.

Em vídeo compartilhado por Carlos, intitulado “Já está tudo engatilhado em Brasília para derrubar Bolsonaro”, o influenciador Daniel Lopez afirma que o orçamento não contempla um eventual aumento de gastos com novos ministérios. “Se eles (o Congresso) conseguirem bloquear a votação da MP e ele (o governo) voltar a ter mais ministérios, é muito provável que Bolsonaro não teria como arcar com o orçamento e cairia na responsabilidade fiscal, fazendo pedaladas fiscais, gastando dinheiro fora do orçamento”, diz ele. “É o que levou (a presidente cassada) Dilma (Rousseff) ao impeachment.”

A família Bolsonaro se vê ainda com problemas com o Ministério Público do Rio, que identificou no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador pelo PSL-RJ, na Assembleia Legislativa fluminense, o que considerou serem indícios de uma “organização criminosa com alto grau de permanência e estabilidade”, voltada para cometer crimes de peculato (desvio de dinheiro público).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.