Sell in may: entenda por que a Bolsa quase sempre cai nos meses de maio

Analistas recomendam cautela no mês em que investidores estrangeiros costumam zerar posições compradas  

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – Nos últimos 25 anos, o Ibovespa só subiu em maio em 8 ocasiões. Desde 2009 – última vez em que a Bolsa subiu nesse mês – foram nove quedas, sendo que por cinco vezes maio foi o pior mês do ano. 

É o famoso fenômeno expresso pela rima em inglês “sell in may and go away” (venda em maio e vá embora), que ocorre no hemisfério norte por conta da proximidade com o período de férias, quando há menor volume de negociações nas bolsas. Lá, muitos investidores e gestores de fundos vendem suas ações em maio para evitar o período de menor liquidez nas férias de verão, visto que essa liquidez mais baixa causa maior volatilidade nos preços. 

Como os investidores estrangeiros respondem por 50% de tudo o que é negociado aqui na B3, é óbvio que mesmo sem férias no Brasil é importante ficar de olho nesse movimento. 

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Neste maio de 2019, o primeiro pregão já foi de queda da Bolsa e tudo indica que o segundo também será.

Na última sexta-feira (3), o Ibovespa recuou 0,86% a 95.527 pontos, pressionado pelo discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que descartou um corte de juros nos EUA este ano, mantendo a rentabilidade dos títulos do tesouro norte-americano. Como esses ativos são considerados os mais seguros do mundo, a manutenção da atratividade deles é má notícia para ações de empresas de países emergentes, que são incomparavelmente mais arriscadas. 

Já hoje (6), às 10h47 (horário de Brasília) a Bolsa brasileira recuava 1,06% a 94.985 pontos por conta de dois tuítes do presidente dos EUA, Donald Trump, afirmando que irá aumentar de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses. A notícia caiu como uma bomba no mercado, visto que as expectativas antes eram de uma caminhada sem sustos rumo ao fim da guerra comercial entre os dois países. 

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Maios e previdências

Além de todo esse histórico e as notícias recentes, o mercado também está mais cauteloso com a Reforma da Previdência. O analista da Rico Investimentos, Thiago Salomão, lembra em relatório que a reforma estava prestes a ser aprovada no Congresso em maio de 2017 quando foi vazado o áudio de uma “reunião secreta” entre o ex-presidente da República, Michel Temer, e o ex-presidente da JBS, Joesley Batista. 

“Esse caso mostrou que o investidor estrangeiro só deve ‘comprar’ Brasil quando a reforma for de fato aprovada”, ressalta Salomão. Para ele, o Ibovespa deve se manter na banda entre 92 mil e 100 mil pontos até que haja uma definição no cenário.

Para se proteger do “sell in may”, a carteira recomendada da Rico para o mês possui um perfil mais defensivo. Foram incluídos no portfólio as ações da Suzano (SUZB3) e o ETF (fundo de índice) do benchmark norte-americano S&P 500 (IVVB11). O conservadorismo para o mês também passa pelo investimento em opções de venda de Ibovespa com vencimento em junho. 

“Preferimos proteger o forte ganho que acumulamos em 2019 a ficar expostos demais e acabarmos devolvendo boa parte deste lucro com qualquer evento inesperado. Seguimos Bullish [mais posicionados na ponta comprada] no longo prazo, mas isso não nos impede de proteger nosso portfólio”, aponta Salomão. 

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Por outro lado, o diretor de renda variável da Franklin Templeton Investimentos, Frederico Sampaio, diz não acreditar em sazonalidade no mercado brasileiro. Para ele, as quedas em maio nada mais foram que coincidências infelizes. “Não acredito que este maio será assim, mas isso depende muito dos resultados das empresas que vão ser publicados ao longo do mês, de notícias novas na área econômica e dos ruídos na Comissão Especial da Reforma da Previdência”, argumenta.

Sampaio entende que o custo de oportunidade para investir em ações atualmente está baixo, de modo que vale a pena ter uma alocação maior em bolsa. “Se a reforma for bem encaminhada entre a aprovação na Comissão Especial e a votação no plenário da Câmara dos Deputados, não é preciso nem esperar o trâmite no Senado para assumir posições mais agressivas”, defende. Assim, caso a Reforma ganhe contornos positivos, o mês de maio pode contrariar fortemente as estatísticas. 

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.