Apesar dos riscos, Vale e siderúrgicas surfam na ‘onda’ do minério – e analistas esperam mais

Múltiplos elevados e possível aumento de competidores para a Vale são nuvens no horizonte, mas cenário ainda está favorável

Ricardo Bomfim

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São Paulo – A Vale (VALE3) e as siderúrgicas sobem nesta quarta-feira (3) e estão entre as maiores altas das ações que compõem o Ibovespa nos últimos 30 dias. Só em 2019, a CSN (CSNA3) já acumula valorização de 96%.

Todas essas empresas têm empolgado os investidores por conta do rali do minério de ferro no mercado internacional. Desde o dia 25 de janeiro, quando houve o trágico rompimento da barragem de Brumadinho (MG), os futuros do minério na Nymex tiveram alta de 19,1%. 

Em relatório assinado pelo analista Karel Luketic, a XP Investimentos aponta que a CSN se beneficiou de um minério mais forte, uma vez que possui grandes operações como mineradora, e foi eficiente na venda de ativos, o que explica a disparada em 2019. As outras siderúrgicas também registram alta, embora tenham tido desempenho mais modesto. A Gerdau (GGBR4) sobe 11% e a Usiminas (USIM5) tem alta de 7% no ano. 

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O analista avalia que, em meio a essa alta, os múltiplos não são tão atrativos no setor à exceção da Gerdau. A siderúrgica, de acordo com Luketic, deve retomar volumes gradualmente e pode surpreender no segundo semestre, com pagamento de dividendos aos acionistas à vista.

“Estimamos que a Gerdau atinja sua meta de endividamento de 1,2 vez [na razão entre dívida líquida e Ebitda – o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] no final de 2019. Assim sendo, vemos potencial de um expressivo aumento no pagamento de dividendos ao longo dos próximos anos, podendo representar 10% do valor de mercado das ações já em 2020”, aponta o research. 

Já a CSN se beneficia do preço do minério, mas por conta da disparada no ano opera com um múltiplo valor de mercado sobre Ebitda muito elevado, em 6,5 vezes contra 4,9 da Gerdau e 5,7 da Usiminas. No caso desta última, pesa ainda a decepção com os resultados de 2018. 

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Contudo, o consenso de mercado ainda está bastante otimista com os papéis das três siderúrgicas. Em termos de perspectivas para as ações, segundo dados compilados pela Bloomberg, nove bancos e casas de análise recomendam compra ou esperam desempenho acima da média do mercado para CSN, contra duas recomendações neutras e apenas uma de venda.  

No caso da Gerdau, todas as 12 casas de análise consultadas recomendaram compra ou esperam desempenho acima da média. Por fim, a Usiminas é recomendada por 11 casas e tem expectativa de desempenho neutro por uma.  

Um caso à parte

A Vale, por sua vez, vive um cenário bastante peculiar. As ações da companhia, que chegaram a R$ 56 antes de Brumadinho, despencaram para R$ 42,36 logo depois da tragédia, mas mostraram forte melhora e às 16h52 de hoje valiam R$ 51,69. A recuperação é consequência de um fenômeno curioso. Ao passo que o rompimento da barragem e a descoberta de riscos em outras estruturas de represamento de rejeitos tenham obrigado a mineradora a fechar diversas operações, essa redução fez com que o minério se valorizasse, compensando as perdas da empresa em termos de faturamento.

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Isso ocorre porque as decisões judiciais que paralisaram operações da Vale fizeram com que a companhia reduzisse a oferta de minério enquanto a demanda global permaneceu estável. 

Um analista que não quis se identificar disse que mesmo que o impacto de Brumadinho na produção nunca mais seja revertido, se o o minério continuar subindo, as ações da Vale vão seguir em alta. 

A XP possui recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 68 para as ações da mineradora, com alta potencial de 35% frente o fechamento de terça-feira. Esse otimismo decorre diante da proximidade da assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com Ministério Público,  órgãos estaduais e federais, assim como ambientais. “O acordo colocaria um fim às incertezas operacionais e legais, permitindo que a companhia volte a focar nos seus negócios e o mercado quantifique o risco, fazendo com que as ações gradualmente voltem a negociar com base nos seus fundamentos”, destaca o relatório. 

O único risco, de acordo com analistas, é que o minério com preço mais alto estimule globalmente empresas que possuem custos de produção mais elevados a ofertarem minério, o que poderia trazer mais competição para a mineradora brasileira. 

Conforme aponta a compilação de análises realizada pela Bloomberg, oito casas de análise recomendam compra de Vale contra apenas uma com expectativa neutra.  Assim, apesar da expectativa de volatilidade em meio às decisões judiciais e de agências reguladoras, as expectativas são positivas para as commodities e, consequentemente, para as mineradoras e siderúrgicas. 

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.