Ibovespa segue Wall Street e cai após dados fracos da economia dos EUA; dólar sobe 1%

O mercado acompanha também as reuniões entre China e EUA com a intenção de colocar fim à guerra comercial

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – A queda das bolsas em Nova York após dado fraco da economia dos Estados Unidos contamina o humor da bolsa brasileira e o Ibovespa recua. O índice de negócios do Fed da Filadélfia caiu 4,1% em fevereiro, ao menor patamar desde maio de 2016, e o indicador antecedente caiu em janeiro pelo segundo mês consecutivo.

Neste contexto, às 12h22 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 0,42%, a 96.137 pontos. O contrato de dólar futuro com vencimento em março de 2019 tinha alta de 1,19%, cotado a R$ 3,771, e o dólar comercial subia 0,86%, para R$ 3,768. 

Os investidores ainda monitoram as reações e os próximos passos de parlamentares e do governo em relação à tão aguardada reforma da Previdência, entregue ontem ao Congresso. O caminho é cheio de desafios e essas dificuldades – e cada vitória e derrota do governo Bolsonaro – vão dar o tom das oscilações dos negócios na bolsa brasileira. 

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O mercado de juros mostra alta diante dos desafios da aprovação da reforma. Os contratos futuros com vencimento em janeiro de 2021 avançavam de 7,09% para 7,14%, e os contratos para janeiro de 2023 subiam de 8,20% para 8,27%. A inflação parcial de fevereiro foi mais branda do que o esperado pelo mercado e ficou em 0,34%, segundo o IPCA-15.

“Já é quase consenso que a reforma, se aprovada, não sairá do Congresso do mesmo jeito que entrou”, avaliam Matheus Soares e Thiago Salomão, analistas da Rico, em relatório enviado a clientes.

Bancos e consultorias políticas como a Eurasia Group, o Goldman Sachs e o Barclays veem que a reforma se desidratará, ficando entre R$ 400 bilhões e R$ 600 bilhões ante o valor de R$ 1,16 trilhão previsto pelo governo. Centrão já começa a impor condições para tratar do assunto, enquanto a oposição – como já esperado – começa a subir muros.  

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“O caminho até a aprovação da reforma será complicado e exigirá muita habilidade política do governo para convencer deputados, senadores e a população. Volatilidade será natural no curto prazo, pois os preços dos ativos precisam se ‘reacomodar’ a essa nova fase da agenda de reformas”, dizem os analistas da Rico.

Enquanto digere o encaminhamento da reforma e seus ruídos políticos, o mercado acompanha com atenção as reuniões entre China e Estados Unidos com a intenção de colocar fim à guerra comercial que pode levar a uma alta nas tarifas dos produtos chineses em 1º de março. Donald Trump já sinalizou otimismo com as conversas, mas a verdade é que ainda não há nada concreto sobre uma resolução ou eventual adiamento do prazo. 

A agenda corporativa traz balanços importantes, como CSN, Pão de Açúcar, B3, Gerdau, Suzano e Magazine Luiza. 

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Bolsas mundiais

Os índices futuros dos Estados Unidos operam em queda após dados econômicos decepcionantes e se mantêm à espera de novidades sobre a rodada de negociações entre China e Estados Unidos que acontece nesta semana. 

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Começa hoje a segunda parte das negociações, envolvendo funcionários de alto escalão. A equipe americana será liderada pelo Representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, e incluirá o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o Secretário do Comércio, Wilbur Ross. O Ministério do Comércio chinês informou que o vice-primeiro-ministro da China, Liu He, participará das conversas.

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As autoridades trabalham em memorandos de entendimento, segundo fontes da Bloomberg, para formar a base para um acordo final. As áreas cobertas por estes documentos devem incluir agricultura, barreiras não tarifárias, e transferências de tecnologia e de propriedade intelectual. 

As bolsas europeias operam em queda digerindo indicadores econômicos e também à espera de novidades sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que mede a atividade nos setores industrial e de serviços, subiu de 51 em janeiro a 51,4 em fevereiro, atingindo o maior nível em três meses, segundo dados preliminares.

No entanto, a indústria desapontou. O PMI industrial do bloco econômico caiu de 50,5 em janeiro para 49,2 em fevereiro, com a leitura abaixo de 50 mostrando contração na atividade. Além disso, é o menor patamar do PMI industrial em 68 meses.

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As bolsas asiáticas encerraram em direções mistas com o mercado digerindo a ata do Federal Reserve divulgada ontem, que pressionou os mercados emergentes, e os resultados da Lenovo, que superaram as expectativas dos investidores.

No mercado de commodities, os preços do petróleo tentam a sétima alta consecutiva em meio aos cortes de produção da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Analistas apontam, no entanto, que a desaceleração econômica global está limitando a valorização. O minério de ferro cai 1% no mercado futuro de Dalian.

Reforma da Previdência 

Após a entrega da tão esperada reforma da Previdência ao Congresso, o mercado sonda agora o tempo de tramitação e as alterações que poderá sofrer na Câmara e no Senado. A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, calcula que a reforma teria, hoje, de 180 a 200 votos caso fosse colocada em pauta na Câmara, informa a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Os números ainda estão muito distantes dos 308 necessários para aprová-la.

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Enquanto o governo faz contas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), disse que irá determinar a instalação da Comissão de Constituição e Justiça da Casa na próxima terça-feira (26) para iniciar a tramitação da reforma da Previdência.

Maia destacou que a ida de Jair Bolsonaro ao Congresso para entregar a proposta de reforma melhora os ânimos da Casa. Sua previsão é de que a reforma pode ser aprovada pelos deputados até o fim do primeiro semestre, mas terá que enfrentar o que é, em sua opinião, o maior problema no Legislativo: a comunicação.

Essa parece ser uma importante missão, uma vez que até mesmo o Centrão sinaliza que colocará empecilhos. Os partidos de centro e centro-direita querem bloquear a tramitação da reforma até que haja mudança na articulação política do Planalto, informa a Folha de S. Paulo. Os mais insatisfeitos defendem que a Câmara só comece a debater o tema após a entrega do projeto que tratará da reforma dos militares, que deve ser encaminhado em 30 dias.

Do outro lado, os líderes dos partidos de oposição a proposta de reforma, argumentando que as regras de transição não estão claras e é necessário rever a idade mínima para homens e mulheres. A oposição promete dificultar a tramitação do texto no Congresso e articula mobilizações em defesa de mudanças na proposta.

“Em meio a todas polemicas política de um governo inexperiente, a sorte está lançada na reforma da previdência. Resta ao executivo agora trabalhar de forma o mais republicana possível, por mais que sinta um certo ‘asco’ do modus operandi da política tradicional”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

Há ainda a resistência de setores organizados da sociedade, com os sindicatos. Na tentativa de defender a reforma para a população e evitar forças da sociedade civil contrárias à aprovação ganhe força, Bolsonaro fez um pronunciamento de três minutos em rede nacional de televisão e rádio. Ele apresentou a reforma da Previdência e defendeu a necessidade da mudança para que o “país não quebre”.

Bolsonaro reforçou que ninguém ficará de fora, sendo que a classe política, os trabalhadores rurais, públicos e privados estarão na reforma, e citou ainda que haverá mudança no regime de proteção dos militares.

Em entrevista à EBC (Empresa Brasil de Comunicação), na noite de ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que os agentes públicos estão comprometidos com a reforma da Previdência. Guedes afirmou que se reuniu com parlamentares, prefeitos e governadores, e as sinalizações em relação à proposta enviada  ao Congresso são positivas. Guedes lembrou ainda que a reforma da Previdência vem sendo adiada há décadas.

Noticiário político

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou a regra que obriga a participação de pessoas físicas e jurídicas no cadastro positivo. A mudança na proposta original fará com que o PLP 441/17 retorne ao Senado para nova votação. 

A regra que cria o cadastro em si já havia sido aprovada, mas faltava a votação de destaques complementares apresentados pelos partidos. Os defensores do projeto afirmam que o cadastro positivo tem potencial de diminuir juros em transações de crédito. Já os críticos temem exposição demasiada dos consumidores e potenciais vazamentos de informações sigilosas. 

Segundo o texto aprovado, a quebra de sigilo por parte dos gestores de banco de dados, como no caso de permitir o vazamento de informações sobre o cadastrado, será punida com reclusão de 1 a 4 anos e multa, conforme prevê a lei do sigilo (Lei Complementar 105/01).