Reação árabe à política externa de Bolsonaro faz primeiras vítimas na bolsa

Mercado recebe com preocupação a notícia de Arábia Saudita suspendeu a importação de carne de frango de alguns frigoríficos brasileiros e que isso pode ser uma retaliação ao novo governo

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Os frigoríficos foram do céu ao inferno nesta terça-feira (22), com uma boa notícia vinda da China pela manhã e uma péssima surpresa da Arábia Saudita, que derrubou as ações da BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3).

Tudo começou com a informação da agência de notícias Reuters de que o Ministério de Comércio da China aceitou uma proposta apresentada por exportadores brasileiros de carne de frango com o objetivo de encerrar uma disputa antidumping. Com a notícia, estes papéis subiram entre 1% e 3% pela manhã.

A virada veio durante a tarde, quando atingiu o mercado a notícia de que a Arábia Saudita suspendeu a importação de carne de frango de 33 frigoríficos brasileiros. Apesar de apenas 5 desde 33 terem sido descredenciadas, a novidade foi suficiente para fazer a BRF e Marfrig caírem mais de 5% – enquanto a JBS acabou recuando menos, apenas 0,73%. 

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Oficialmente, conforme comunicado da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a desautorização de plantas foi causada por problemas técnicos.

Apesar disso, o ex-secretário-geral da Liga Árabe (organização que reúne 22 países árabes), Amr Moussa, afirmou em Davos que a decisão foi uma retaliação ao governo de Jair Bolsonaro, em função da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém.

“O mundo árabe está enfurecido (com o Brasil)”, disse Moussa, que é um dos diplomatas do Oriente Médio de maior influência na região. “Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma”, completou.

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Para os analistas do Bradesco BBI, a notícia é negativa para BRF e para a JBS, já que as exportações para a Arábia Saudita representam cerca de 8% da receita total das duas empresas. Apesar disso, eles avaliam que ambas podem redirecionar as exportações de frango para outras plantas autorizadas, minimizando o impacto da proibição.

Sobre a forte queda, os analistas acreditam que o mercado esteja precificando um cenário mais crítico, em que haveria um corte de 50% nas exportações das empresas para a Arábia Saudita.

Por outro lado, eles consideram este cenário improvável, já que o Brasil representa cerca de 80% das importações de frango dos árabes, ou cerca de 40% do consumo total, o que pode dificultar a busca de um novo fornecedor que siga as especificidades Halal e que tenha capacidade suficiente para preencher esse potencial lacuna.

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No fim do dia, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, disse que a intenção de Bolsonaro de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém não deveria ser motivo para um embargo saudita à carne de frigoríficos brasileiros. “A embaixada não está mudada ainda, o pessoal está se antecipando ao inimigo”, declarou Mourão.

Como disse o vice-presidente, a embaixada não mudou, mas este é um assunto bastante delicado quando se trata do mundo árabe e a tendência é que o caso ainda tenha muitos desdobramentos. Apesar dos analistas não acreditarem em um caso extremo, o tema já fez suas primeiras “vítimas” na Bolsa e será bom monitorar os próximos passos do governo.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.