Como duas palavras retiradas da decisão do Fed criaram uma confusão no mercado

Analistas tiveram uma visão do comunicado, mas investidores também enxergaram a fala do Fed de outra forma

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Durante o pregão de quarta-feira (2), o mercado passou por um grande momento de confusão – e até agora parece não ter resolvido sua dúvida. Por volta das 15h (horário de Brasília), quando o Federal Reserve divulgou seu comunicado mantendo a taxa de juros nos Estados Unidos, as bolsas norte-americanas ganharam força e passaram a subir, levando o Ibovespa a reduzir um poucos suas perdas.

Porém, antes do fechamento, tudo mudou e Wall Street passou a registrar fortes perdas, indo para a mínima do dia, fechando em queda acentuada. Por aqui, o cenário também piorou e o Ibovespa teve seu pior pregão desde fevereiro. Mas será que o Fed teria sido o culpado por toda essa mudança de rumo das bolsas?

Uma explicação surgiu e faz exatamente esta relação, apontando que a retirada de duas palavras no comunicado do Fed sobre a política monetária gerou uma grande confusão nas análises. Logo que o comunicado foi divulgado, analistas apontaram a retirada da expressão “curto prazo” quando a autoridade americana comenta sobre o “equilíbrio do balanço de riscos”

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Desde 2016, o comunicado do Fed afirma que “os riscos de curto prazo para as perspectivas parecem mais ou menos equilibrados”. No novo comunicado, divulgado na quarta-feira, porém, o Fed disse simplesmente que “os riscos para as perspectivas parecem mais ou menos equilibrados”.

Krishna Guha, vice-presidente da Evercore ISI e ex-funcionário do Fed, considera que a retirada das duas palavras foi uma manobra da autoridade norte-americana para contornar questões como as tensões comerciais e outras ações de Donald Trump que poderiam impactar a economia.

“A mudança pode ser lida como um desejo de se concentrar nas perspectivas de médio prazo, e não no ruído de curto prazo; poderia simplesmente ter sido um esforço para fugir da controvérsia ”, disse ele para o MarketWatch.

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Porém, no fim do dia, Guha afirmou que alguns de seus clientes começaram a questionar sua análise, apresentando uma opinião diferente do que o banco central dos EUA quis dizer, com a visão de que o Fed está dando sinais de alerta sobre a perspectiva de curto prazo.

“Diversos clientes nos sugeriram que a virada nos mercados dos EUA na noite de quarta-feira foi alimentada pela opinião de que a declaração do Fed mostrava que o Comitê está assustado pelos riscos de curto prazo, em torno das tensões comerciais, do acordo nuclear com o Irã e do crescimento global mais fraco”, disse o analista. Guha acredita, porém, que a visão destes clientes “é exagerada”.

“É extremamente improvável que o Fed saiba alguma coisa sobre as perspectivas para as negociações comerciais da China ou as negociações nucleares do Irã que não são conhecidas por analistas bem informados”, explicou ele.

A mesma opinião é compartilhada por Rob Martin, que também é ex-funcionário do Fed e atualmente é economista no UBS. Para ele, esta leitura de um alerta no curto prazo é “errada”. Tirar o termo “curto prazo” significa que o Fed agora está muito mais confortável com as perspectivas até 2020, afirma.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.