EXCLUSIVO: por que uma gestora de 60 bilhões de euros está otimista com Brasil, mas tem medo de investir aqui

Durante evento de inauguração do primeiro escritório em Miami, a gestora apontou quais seus países e setores favoritos na América Latina

Rodrigo Tolotti

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MIAMI* – Durante evento de abertura de seu primeiro escritório em Miami, a francesa Carmignac, uma das maiores gestoras independentes da Europa, aproveitou para mostrar seu grande otimismo com a América Latina, apesar da alta volatilidade dos mercados locais. Entre os países de maior foco dos gestores está o Brasil, que tem mostrado uma forte evolução econômica e tem apresentado boas oportunidades de investimento. Mas, para eles, a questão política pode ser um problema maior do que se imaginava.

Em uma visão bem alinhada com os pontos positivos e negativos apontados por outros analistas, a Carmignac ressalta também como as incertezas são amplificadas no ponto de vista dos estrangeiros, se tornando um problema maior para ajudar na alta dos mercados locais.

Segundo Xavier Hovasse, head de mercados emergentes da Carmignac, a evolução dos resultados econômicos e o ótimo yield do País mostra um bom cenário para se investir aqui. Mas, por outro lado, alguns pontos fizeram a gestora, que tem 60 bilhões de euros sob gestão, reduzir sua participação no mercado brasileiro nos últimos doze meses. Atualmente, sua exposição ao País é de cerca de 15%, sendo a maior parte em renda fixa.

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Segundo ele, o Brasil tem tido ótimos resultados na balança comercial e o PIB (Produto Interno Bruto) segue mostrando melhora a cada trimestre. Por outro lado, ainda pesa o fato do país não ter o grau de investimento, perdendo para o México neste quesito. Outro destaque de Hovasse foi para a queda forte da inflação nos últimos meses, mostrando que o risco vem de outra área: “O Brasil parece bem, está crescendo, mas o problema é a política”, afirmou.

A questão maior envolve as eleições de 2018, que segundo ele não está nem um pouco clara. “Ninguém sabe quem serão os candidatos”, alertou o gestor durante coletiva para a imprensa. Hovasse destacou os dois principais nomes atualmente, Lula a Jair Bolsonaro, destacando que o primeiro, além de ter sido condenado pela justiça, tem uma mistura de alta rejeição e alta aprovação. Enquanto isso, segundo ele, ninguém sabe quais serão as políticas econômicas e como seria um eventual governo de Bolsonaro, deixando o cenário muito incerto.

Como comparação, durante sua apresentação, o gestor da Carmignac falou sobre outros dois países da América Latina que terão eleições no próximo ano: Uruguai e México. Ambos, apesar de terem seus problemas, não têm um cenário tão incerto na política, com a disputa já centrada em dois potenciais candidatos e uma ideia melhor de quem tem mais força ou mesmo quais são suas propostas.

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Outro ponto que preocupa a gestora francesa são as reformas essenciais que o governo precisa aprovar. “O Brasil precisa desesperadamente arrumar sua situação fiscal”, afirmou Hovasse dizendo que a reforma da Previdência é essencial para que o País consiga manter sua recuperação econômica. Diante disso, os indicadores mostram um bom cenário para se aproveitar os yields e investir em renda fixa, enquanto as ações não estão valendo tanta exposição.

Mercado de ações
Apesar da melhora da economia, a questão política não é a única que está pesando na hora de investir no Brasil. Segundo Hovasse as ações nacionais estão “caras”, o que levou a gestora a ter uma recomendação “underweight” (abaixo da média do mercado) para os ativos locais.

Durante a apresentação, a Carmignac explicou sua metologia de investimento com uma divisão de estudo em três partes: primiero se analisa o cenário macroeconômico de cada país, para depois encontrar os melhores setores nestes mercados e, por fim, escolher as ações. A questão no Brasil pesa exatamente sobre a última parte da análise.

Hovasse explicou que a gestora gosta de empresas que possuem uma forte geração de fluxo de caixa, o que permite que elas financiem seu próprio crescimento. De olho nisso, comparado com o resto da América Latina, a visão que fica é que os papéis brasileiros estão a preços altos neste momento, o que, por outro lado, não impede o surgimento de algumas oportunidades.

Sem querer dar muitos detalhes sobre sua avaliação, o gestor citou alguns setores que vê com bons olhos e em dois deles o Brasil se destaca. O primeiro é o de transmissoras de energia, em especial a Taesa (TAEE11), Transmissão Paulista (TRPL4) e Alupar (ALUP11), que segundo ele mostram uma boa taxa de crescimento composta, ou CAGR, desde 2005, indicando mais dois anos de evolução pela frente.

Outro caso é o setor de seguros, um dos favoritos da gestora. Das cinco empresas que a Carmignac destaca na América Latina, três são brasileiras: BB Seguridade (BBSE3), Sul América (SULA11) e Wiz (WIZS3). Por outro lado, um dos segmentos mais promissores nos mercados globais, tecnologia e e-commerce, o Brasil não tem nenhuma ação de destaque.

Em resumo, a gestora vê o Brasil como “top 3” para se investir na América Latina, mas além de ver as ações caras neste momento, ressalta que as incertezas políticas geram um cenário muito nebuloso e afasta um pouco este otimismo com o país. Será preciso esperar até o próximo ano para saber qual rumo o Brasil irá tomar – e se isso irá atrair os investidores.

*O repórter viajou para Miami a convite da Carmignac

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.