“Fora, (poder de) Temer”: mercado quer presidente absolvido, porém politicamente estéril

Animação dos investidores somente é justificada caso o "parlamentarismo branco" seja a alternativa para o seguimento do governo

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – O julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pede a cassação da chapa Dilma-Temer está longe de acabar, mas o mercado financeiro já esboça uma movimentação positiva – com o Ibovespa subindo e o dólar e juros ficando entre queda e estabilidade – por conta da expectativa de absolvição do presidente Temer, cenário que também está ganhando forças entre os políticos. Mas há algo muito estranho nesta reação dos investidores, já que em maio no ápice da crise do governo com o vazamento dos áudios de Joesley Batista, muitos clamavam pela saída imediata do presidente para que entrasse logo um novo comandante que pudesse (ao menos tentar) seguir com a agenda de reformas. O mercado financeiro voltou a “gostar” de Temer de uma hora pra outra? A resposta é um sonoro “não”: investidores querem sim a permanência de Temer, mas qualquer apreço à figura do presidente passa longe dos motivos para tal desejo.

Na verdade, o ânimo dos mercados nos últimos dias está muito mais relacionado ao cenário que tem ganhado forças no mundo político – e ganhou relevância nesta quarta-feira (7) com notícia publicada no Valor Econômico – onde os principais partidos aliados do governo estão articulando a criação de uma espécie de “parlamentarismo branco”, onde Temer seria mantido presidente mas não teria poder para governar. Fazendo uma alusão ao parlamentarismo inglês, Temer seria uma espécie de “Rainha da Inglaterra” tupiniquim, tendo uma posição mais decorativa no rumo do Brasil, enquanto o “primeiro-ministro” seria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, enquanto os principais partidos da base cuidariam do Congresso, diz a reportagem do Valor.

Essa hipótese de parlamentarismo informal animou o mercado já que, mesmo fazendo parte do governo, Temer não exerceria efetivamente a função presidente, deixando para Meirelles as negociações das reformas. Resta saber se o ex-presidente do Banco Central na era Lula terá a articulação política que os investidores desejam, afinal não custa nada lembrar que Meirelles era até antes de assumir a Fazenda presidente do Conselho da J&F, a empresa “pivô” da crise atual de Temer.

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Se hoje não é possível ter certeza que esse parlamentarismo informal recuperará aquela confiança com a aprovação da tão importante Reforma da Previdência (sem as diluições necessárias, claro), uma coisa é certa: a permanência de Temer com poder não é um bom negócio para o mercado. Para Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos, a manutenção de seus plenos poderes como líder da República travará ainda mais o andamento das reformas, justamente o cenário que o mercado passou a “temer” – com o perdão do trocadilho. Segundo o gestor, além do desgaste sobre a já tão deprimida popularidade de Temer que a absolvição do TSE causaria, há o risco de “aparecer mais coisas sobre ele”, pois é esperado que Temer seja alvejado por pelo menos duas delações, explica Petrassi.

Lá vem bomba (ou bombas)

Atualmente temos dois “homens-bombas” na mira de Temer. O primeiro é Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR): no final de semana, a Polícia Federal prendeu o ex-deputado considerado um dos parlamentares de “total confiança” do presidente e  que foi flagrado recebendo em São Paulo uma mala com R$ 500 mil referente a propina de executivos da JBS. O outro nome é o ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, que foi preso na manhã de terça-feira (6) em um desdobramento da operação Lava Jato que investiga corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro na construção da Arena das Dunas, em Natal. Como não é difícil de imaginar, as delações de duas figuras políticas tão próximas do presidente colocariam ainda mais pressão política sobre o governo, que também teria outro agravante: o desembarque do PSDB.

“O desembarque do PSDB é o principal ponto a acompanhar nos próximos dias”, diz o sócio da Leme, já que os líderes mais jovens da sigla defendem a saída da base do governo diante de tantos escândalos, apesar de caciques do PSDB afirmarem o contrário.

E se o parlamentarismo branco não vingar?

Para Petrassi, não sendo o “parlamentarismo” especulado pelo mercado, a melhor solução é a condenação de Temer e eleições indiretas, que, pelos rumores em Brasília, tem como forte candidato o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. No final das contas, na visão do sócio da Leme, o mercado quer o andamento das reformas e “ele não vai entregar”, principalmente a reforma da Previdência, que é a principal pauta para solucionar a questão fiscal brasileira. Assim, a manutenção de Temer só é bem vista com o presidente perdendo poder.

Mercados
Embora subisse apenas 0,20% por volta das 14h30 (horário de Brasília), o Ibovespa chegou a avançar 1,1% na máxima desta quarta, quando bateu nos 63.636 pontos. Mantendo-se no campo positivo, será a 3ª alta em 4 pregões, distanciando-se cada vez mais dos 60.314 pontos, patamar alcançado no pior momento de 18 de maio, dia que o mercado derreteu com o vazamento das conversas de Joesley Batista com Temer.

Ainda é cedo para dizer que o “jogo mudou” para os investidores. Contudo, se tínhamos uma enxurrada de incertezas até semana passada, um cenário vem ganhando forças tanto entre aliados quanto opositores: o “Fora Temer” está ficando distante. O mercado “torce”, no entanto, que isso não seja uma má notícia para a agenda de reformas.

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