Decreto do governo pode fazer uma “transformação” na Ser e afundar a fusão Kroton/Estácio

Novas regras do ensino à distância deve fazer a Ser saltar de 15 para mais de 400 polos de ensino, além de complicar a situação da Kroton

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Publicado na última sexta-feira (26), o decreto 9057, que altera as regras para o ensino à distância (EAD), pode alterar o cenário para as empresas de educação na B3. A novidade, por um lado, favorece bastante a Ser Educação (SEER3), mas por outro prejudica a Kroton (KROT3) e ainda coloca ainda mais em risco a fusão com a Estácio (ESTC3).

Com isso, diversas regras para o EAD foram alteradas, incluindo, por exemplo, o fim da exigência de a companhia que quiser oferecer este tipo de serviço também precisar ter ensino presencial, o que eleva bastante a chance de novos players no ensino à distância, não só aumentando a concorrência, mas também criando uma possível guerra de preços em ativos em um momento em que a Kroton pode precisar se desfazer de algumas empresas.

Segundo o analista Rodrigo Gastim, do BTG Pactual, há a expectativa de uma disputa de preços em regiões com sobreposição de diferentes players. Ele lembra que diferente do segmento presencial, o ensino à distância é um mercado consolidado, com as 10 maiores empresas detendo 85% do mercado, sendo que só a Kroton tem 37%.

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Lutando para conseguir a aprovação pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Kroton estuda a venda da UniSEB, unidade de EAD da Estácio, mas talvez nem isso seria o suficiente. Segundo o jornalista Geraldo Samor, do site Brazil Journal, a expectativa é de veto da fusão ou a exigência da venda também da Uniderp, que era da Anhanguera, o que, dada a guerra de preços, poderá levar a uma desistência da operação.

A vencedora do decreto
A grande beneficiada pelo decreto do governo foi a Ser, que segundo o BTG tem mais de 400 centros de ensino já solicitados ao MEC e que pode ter um crescimento mais rápido no segmento após as novas medidas. Além disso, as boas notas de avaliação da Uninassau e Univeritas SP, UnG, também devem ajudar.

Isso porque, o decreto alterou as exigências para que o governo libere a criação de um novo polo de EAD. Antigamente, os fiscais do MEC precisavam visitar cada polo para poder liberá-los para funcionamento, tornando o processo extremamente lento – o que explica os 400 polos da Ser em aguardo. Com as novas regras, será necessário visitar apenas a sede da instituição, acelerando muito o processo.

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Sobre as notas de avaliação, o decreto também coloca com prioridade as faculdade que tiveram o melhor Conceito Institucional (CI), métrica atribuída pelo MEC após a avaliação in loco. O parâmetro anterior era o Índice Geral de Cursos (IGC) que dá uma média ponderada de qualidade de todos os cursos oferecidos pela instituição. Segundo o BTG, os principais polos da Ser têm nota 4 em uma escala que vai té 5.

Gastim lembra que a companhia tem apenas 15 centros de ensino atualmente em operação, ou seja, a abertura de 400 novos polos iria levar a Ser a uma grande transformação em seus negócios. Segundo o analista, os novos centros que serão criados em Campi já existentes podem adicionar R$ 2 ao preço-alvo da ação, enquanto os centros que ficarão fora, ou que serão operados por terceirizados, têm um potencial de elevar o preço-alvo em R$ 2,3.

Em geral, o BTG acredita que este decreto muda bastante o cenário do setor de educação no Brasil, diante de um momento em que os estudantes estão mais sensíveis aos preços dos cursos. A tendência é que o setor passe a se estruturar em um sistema misto, com os cursos à distância passando a ter conteúdos locais, resolvendo questões de acessibilidade e logística, com os alunos não precisando ir todos os dias ao campus.

Apesar das dificuldade para a Kroton com estas novas questões e como isto pode impactar a compra da Estácio, o BTG recomenda compra para as ações da companhia, assim como para os papéis da Ser.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.