A ação que subiu mais de 4500% na Nasdaq e ninguém sabe o porquê

E não foi só a Bloomberg que ficou a ver navios, uma empresa canadense que se define como uma "boutique de pesquisa voltada pra investimentos complexos, não-tradicionais e negligenciados globalmente" também não encontrou respostas para a ascensão meteórica na Wins na Nasdaq.

Mário Braga

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SÃO PAULO – Quando uma ação dobra ou triplica de preço no mercado financeiro é possível afirmar que os ganhos dos investidores foram significativos. Mas e quando um papel passa a valer 46 vezes mais que seu preço original em dois anos? Esta foi a valorização de uma empresa chinesa negociada na Nasdaq, em Nova York: 4555% desde 2015 para ser mais preciso.

Segundo reportagem da Bloomberg, o valor de mercado da Wins Finance Holdings, que concede empréstimos e aluga equipamentos a pequenos empresários da China, ultrapassou os US$ 9 bilhões em fevereiro deste ano. A título de comparação, o valor é quatro vezes maior que o da LendingClub, uma empresa de empréstimos online que tem um lucro 50 vezes superior ao da companhia chinesa.

Como uma valorização tão grande e tão rápida se tornou realidade? Nem a própria empresa sabe explicar. Em um comunicado, a Wins afirma “não ter ideia” do que levou à disparada dos papéis nos últimos meses.

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A reportagem da Bloomberg foi atrás de repostas na sede da empresa nos Estados Unidos, “no 37º andar de arranha-céu na Times Square”. Aí surge o primeiro indício de uma complicada trama que envolve fundadores, acionistas e empresários chineses – alguns já condenados por órgãos reguladores – ligados a diversas outras empresas – algumas falidas. 

No endereço da Wins que consta na SEC (Securities Exchange Comission), funciona Forefront Capital Advisors, companhia de serviços financeiros fundada por Bradley Reifler, que já ocupou um cargo no conselho de administração da empresa chinesa. Ele, que está em uma espécie de “processo de falência” para pessoas físicas nos EUA, disse que três funcionários da Wins ainda trabalham no local, mas se negou a informar seus nomes.

O ex-conselheiro afirmou também que não sabe quem comanda a Wins atualmente, mas descartou que a empresa cometa irregularidades. “Eu sou muito leal”, disse à reportagem. “Se eu descobrisse algo de errado, teria um sentimento diferente”, se limitou a dizer.

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A Bloomberg também não encontrou respostas na sede da Wins em Pequim, na China. A recepcionista direcionou o pedido de informações para uma funcionária do departamento de Recursos Humanos que estava em férias e que já havia informado anteriormente que qualquer informação deveria ser obtida no escritório norte-americano.

Os contatos por telefone e com o advogado baseado em Nova York também ficaram sem respostas. Segundo a Bloomberg, o passado de Reifler e de outras pessoas ligadas à Wins revela ligações com diversas outras empresas, algumas das quais faliram crise financeira dos anos 2000, conhecida como “Bolha da Internet”, e outras que também fazem negócios entre a China e os Estados Unidos e têm valor de mercado acima do que seus balanços sugerem razoável. Nenhum dos empresários identificados pela Bloomberg respondeu a um pedido de entrevista.

E não foi só a agência de notícias que ficou a ver navios. A Eiffel Peak Capital, uma empresa canadense que se define como uma “boutique de pesquisa voltada pra investimentos complexos, não-tradicionais e negligenciados globalmente” também não encontrou respostas para a ascensão meteórica na Wins na Nasdaq.

Em um relatório, o analista William McNarland diz que sua equipe passou centenas de horas pesquisando a empresa chinesa e que este é um dos casos “mais abstratos” de sua carreira. “A última vez que vimos empresas com valuations desses foi em algumas companhias de internet na primavera dos anos 2000 e todos nós sabemos como aquela história acabou”, escreveu em um relatório, em referência à “Bolha da Internet”. A Eiffel Peak Capital não tem posição comprada na Wins.