Por que o “Warren Buffett chinês” decidiu investir no Brasil (e pode ser só o começo)

"Nós vemos uma janela de oportunidades para o Brasil após o País ter enfrentado dificuldades nos últimos anos", afirmou o presidente da Fosun, chinesa que adquiriu a Rio Bravo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na última sexta-feira (29), o grupo chinês Fosun anunciou a sua entrada no Brasil através da aquisição do controle da Rio Bravo, líder no mercado brasileiro de gestão de fundos imobiliários e que tem como sócios-fundadores Gustavo Franco, Paulo Bylik e Mario Fleck.

Porém, a aquisição da gestora brasileira pode ser apenas o começo, como destacou o presidente da Fosun, Guo Guangchang, em entrevista a jornalistas na terça-feira (2). Segundo ele, o grupo chinês, considerado a Berkshire Hathaway da China, também tem interesse nos setores de agricultura, turismo, saúde e seguros. “Nós vemos uma janela de oportunidades para o Brasil após o País ter enfrentado dificuldades nos últimos anos. Vemos mais confiança no País atualmente”, destacou o presidente do grupo, ressaltando interesse em diversos setores, mas sem dar mais detalhes. Cabe lembrar que há rumores de que o grupo chinês estaria negociando a compra da seguradora e resseguradora Austral, controlada pela Vinci Partners. 

O Fosun é um dos maiores conglomerados privados da China, possuindo cerca de US$ 50 bilhões em ativos sob gestão, tendo investimentos desde companhias médicas até o grupo de turismo francês Club Med e a companhia circense Cirque de Soleil. Guangchang possui uma das trinta maiores fortunas da China e é considerado o “Warren Buffett” do país por sua estratégia de investimentos de comprar seguradoras, de forma a garantir recursos de longo prazo que então são investidos em outros setores, assim como a Berkshire Hathaway. 

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Através da aquisição anunciada na última semana, a Rio Bravo passará a compor a rede global do grupo Fosun, devendo ser preservados os atuais produtos e a carteira de negócios e haverá expansão para novas linhas operacionais a partir de novas oportunidades e sinergias. A Fosun não informou os valores da operação, mas foi adquirida uma parcela de 50,1% do capital da Rio Bravo, fazendo com o que o grupo chinês adquira o controle da gestora.

De acordo com o presidente da Rio Bravo, Mario Fleck, um dos pontos que foram vistos positivamente durante a negociação com o grupo chinês, que durou aproximadamente seis meses, foi o fato deles continuarem firmes na proposta pela gestora, sem nenhuma perspectiva para adiar o acerto. Isso independentemente da crise política, com a evolução do processo de impeachment, além do ambiente econômico desfavorável no Brasil. 

Fleck destacou que, além da perspectiva de expandir os negócios na América Latina, a associação leva a um maior networking e conhecimento sobre os mercados chineses. Para os clientes, há também uma maior oportunidade de de produtos financeiros e possibilidades de investimentos.

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O presidente da Fosun Property, Alex Gong, ressaltou ainda que a aquisição da gestora leva a uma capacidade de captura de sinergias com o grupo, tendo como oportunidade ligar o capital externo com oportunidades de investimento no Brasil. Inicialmente, a Fosun procurará conhecer melhor o Brasil, levantar fundos e, depois, prover escala à Rio Bravo.

A Fosun, ressaltou Guo Guangchang, é um investidor de longo prazo, com foco agora nos países emergentes. Guangchang destacou a importância do Brasil ao ressaltar que tanto o País quanto a China são complementares. O Brasil é forte em recursos naturais como mineração, além de ter uma agricultura bastante robusta, enquanto os mercados chineses têm carência nessa área. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.