Reação explosiva de 9 gigantes da Bolsa e a pergunta: por que os balanços surpreenderam tanto o mercado?

Entre Ambev, Embraer, Natura e Pão de Açúcar, os últimos dias têm sido de forte reação do mercado em relação aos resultados corporativos

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A temporada de resultados corporativos do segundo trimestre chega a sua metade, mas mesmo faltando duas semanas para terminarem as divulgações já é possível confirmar que desta vez o mercado teve uma forte reação aos números, o que condiz com o momento de euforia dos investidores no Brasil.

Segundo a equipe de analistas da XP Investimentos, as fortes reações positivas nos últimos dias acabam sendo mais um fator para o mercado se empolgar. “A Bolsa já vem de um momento de grande euforia com as melhoras da economia e o impeachment, e os resultados são mais um motivo para compra”, ressaltam.

Eles lembram ainda que as maiores reações vieram de papéis que não acompanharam tanto o rali da Bolsa, caso da Natura e SulAmérica. Por outro lado, as ações que caíram forte foram porque realmente decepcionaram os investidores, como o Pão de Açúcar na quinta-feira e a Embraer nesta sexta-feira (29).

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Confira as principais ações que tiveram forte reação aos resultados divulgados nos últimos dias:

Embraer (EMBR3)
O resultado (divulgado em 29/7 antes do pregão): A companhia teve prejuízo líquido atribuído aos acionistas de R$ 337,3 milhões, revertendo o lucro de R$ 399,6 milhões apurado no mesmo período do ano passado. A empresa fez uma provisão de US$ 200 milhões para investigação de alegação de não conformidade com U.S. Foreign Corrupt Practices Act em vendas de aeronaves fora do Brasil. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) ficou negativo em R$ 153 milhões, ante R$ 548,2 milhões registrados um ano antes. A margem Ebitda caiu para -3,2%, frente os 11,8% anotados no segundo trimestre de 2015.

A análise: Após a divulgação do balanço, o BTG Pactual cortou o preço-alvo e a recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts) da Embraer. O corte foi de overweight para neutro, enquanto o preço-alvo foi cortado de US$ 35 para US$ 24 por ativo. “O cenário persistentemente desafiador para a aviação executiva não está apenas pesando mais do que o esperado nos resultados operacionais, mas também provocando uma relevante redução do guidance para 2016”, afirmou.

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Desempenho das ações: Os papéis da Embraer afundaram 15,45%, para R$ 14,83, após chegar a cair 15,62% na mínima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 207,13 milhões, superando a média de R$ 28,92 milhões.

Ambev (ABEV3)
O resultado (divulgado em 29/7 antes do pregão): A companhia teve queda de 22,4% no lucro líquido do segundo trimestre, a R$ 2,195 bilhões, com o resultado marcado pela queda nas vendas em volume e um corte na perspectiva de receita da empresa no Brasil neste ano. Já a receita líquida da empresa entre abril e junho foi de R$ 10,377 bilhões, 4,7% superior aos R$ 9,910 bilhões somados um ano antes. O custo de vendas da companhia avançou 3,1% no segundo trimestre de 2016, para R$ 3,894 bilhões.

A análise: O Credit destaca que a Ambev reportou números fracos, “com o volume no Brasil caindo mais do que esperávamos”. Para o BTG Pactual, como a maior parte da criação de valor da Ambev conta com o crescimento das vendas, o fato de que ela continua a ter problemas com uma combinação negativa de saturação da indústria e fraca demanda suporta a visão cautelosa sobre as ações.

Desempenho das ações: As ações da companhia fecharam próximas de sua mínima do dia, recuando 3,29%, cotadas a R$ 18,80, com um forte volume financeiro, que atingiu R$ 612,87 milhões.

BRF (BRFS3)
O resultado (divulgado 28/7, após o pregão): A companhia registrou lucro dez vezes abaixo do esperado, com a combinação de insumos caros e baixa demanda doméstica devido à recessão. O lucro caiu 91,6%, a R$ 31 milhões, enquanto o Ebitda caiu 31,6% no comparativo anual, para R$ 944 milhões. Já a receita líquida total cresceu 7,6%, a R$ 8,5 bilhões, impulsionada por preços médios mais altos (+2,8% ano a ano) e maiores volumes (+4,6%), devido às operações internacionais.

A análise: Para o Credit Suisse, a BRF reportou um lucro liquido pior do que era esperado, devido a uma combinação de fraca performance operacional e aumento das despesas financeiras. Os analistas, acreditam que o Ebitda mais fraco já era esperado pelo mercado e pode ser visto como o “bottom” do momento do ciclo. Porém, dentro da equipe do Credit, dois analistas discordam e esperam margens fracas também para os próximos trimestres, devido o aumento no preço de grãos e menor preço de exportação em real.

O mercado porém, se empolgou com a teleconferência da companhia, onde o presidente do Conselho de Administração da companhia, Abilio Diniz, afirmou que o segundo semestre será muito diferente para a empresa e para o Brasil com melhoras das perspectivas. Abilio ainda afirmou que não descarta novos reajustes de preços da companhia.

Desempenho de ações: As ações da companhia subiram forte impulsionadas pela fala de Abilio Diniz, registrando ganhos de 6,47%, para R$ 54,30. O volume financeiro ficou muito acima de sua média de R$ 90,18 milhões e fechou em R$ 320,55 milhões.

SulAmérica (SULA11)
O resultado (divulgado 28/7, após o pregão): A seguradora teve lucro líquido de R$ 126,4 milhões no segundo trimestre, ficando praticamente estável sobre um ano antes. Já o total de receitas operacionais subiram 6,9%, para R$ 4,12 bilhões, enquanto as receitas operacionais de seguros subiram 7,6%, a R$ 3,96 bilhões. O segmento saúde e odontológico registrou alta de 15,2%, com receita de R$ 3,01 bilhões no trimestre, enquanto as demais áreas apresentaram queda na receita, com automóveis caindo 7,6%, ramos elementares perdendo 57,2% e vida e acidentes pessoais baixa de 2,5%.

A análise: Para o Credit Suisse, a companhia conseguiu manter a tendência de resultados saudáveis vistos no trimestre anterior. Apesar dos números superando as expectativas, eles ressaltam, porém, que as projeções estavam bastante baixas, tendo em vista as perspectivas do setor, os números divulgados pela ANS e o resultado de seus pares. “Vale destacar ainda que estimamos que o resultado financeiro representa atualmente 104% do lucro antes de imposto. Consequentemente, em um cenário de queda de juros, enxergamos um grande risco de downside de ganhos”, ressaltam.

Desempenho das ações: As ações dispararam 17,60%, cotadas a R$ 17,24, após chegarem a subir 19,17% na máxima desta sexta-feira. O volume foi quase quatro vezes maior que a média de 21 dias e ficou em R$ 47,25 milhões.

Raia Drogasil (RADL3)
O resultado (divulgado dia 28/7, após o pregão): A companhia teve lucro líquido de R$ 157,8 milhões, um salto de 44,6% em relação ao mesmo período de 2015. A receita líquida avançou 25%, para R$ 2,783 bilhões, enquanto o Ebitda subiu 39,2%, para R$ 304,8 milhões. Além dos resultados, a rede de farmácias soltou um fato relevante ao mercado elevando de 165 para 200 o número de lojas abertas em 2016. Para 2017, o guidance foi elevado de 195 para 200 novas farmácias.

A análise: Apesar do bom resultado, os analistas do BTG Pactual acreditam que os números, em boa parte, já foram precificados. “A recente execução tem sido exemplo de consistência, e o segundo trimestre foi certamente um bom período para a companhia. Como o valuation continua exigente, nós mantemos nossa avaliação neutra, apesar de reconhecer que a companhia é uma clara vencedora em seu segmento”, disseram. Já o Credit Suisse destaca que a expectativa para o resultado era bastante alta, mas a empresa conseguiu mais uma vez surpreender os investidores e entregar números bastante fortes. “O anúncio de expansão de lojas mostra que ela não depende do cenário macro para continuar com crescimento bastante sólido”, ressaltam.

Desempenho das ações: As ações fecharam com valorização de 3,24%, cotadas a R$ 66,28. Na máxima do dia, os papéis avançaram 4,35%, a R$ 66,99.

Cia. Hering (HGTX3)
O resultado (divulgado dia 28/7, após o pregão): A companhia registrou lucro líquido de R$ 61,66 milhões, com uma leve alta de 4,9% sobre o mesmo período do ano passado, quando ficou em R$ 58,79 milhões. Já a receita líquida ficou em R$ 380,83 milhões, com queda de 0,7% ante um ano antes, enquanto o Ebitda encerrou o segundo trimestre em R$ 66,56 milhões, redução de 7,8%. Em relatório, a companhia explicou que a melhora no lucro se deu pelos ganhos de produtividade nas lojas e à realização de menos promoções no segundo trimestre do ano, o que garantiu melhora no lucro.

A análise: Os analistas do BTG Pactual apontaram que os resultados da varejista seguem fortemente impactados pelo cenário macroeconômico adverso. Na avaliação deles, o preço das ações da companhia tem perspectiva “sombria” para o curto prazo. Já o Credit Suisse aponta que a Hering reportou números um pouco melhores do que o esperado, mas ainda fracos. “Uma notícia negativa é que a empresa vai ter que contribuir com R$ 5 milhões todo trimestre para um fundo especial (Protégé) de Goiás, reduzindo o beneficio fiscal. Do lado positivo, o fluxo de caixa continua forte, o que dá espaço para a empresa continuar arrumando seu negócio”, destacam.

Desempenho das ações: As ações da companhia de varejo dispararam 8,31%, a R$ 18,50, após chegarem a subir 10,07% na máxima do dia, para R$ 18,80.

Via Varejo (VVAR11)
O resultado (divulgado dia 27/7, antes do pregão): A empresa teve alta de 888% em seu prejuízo no segundo trimestre, que passou de R$ 9 milhões para R$ 89 milhões em um ano. O Ebitda somou R$ 229 milhões, uma queda de 6,5% na mesma base de comparação, enquanto a receita líquida ficou estável em relação a um ano antes, em R$ 4,33 bilhões.

As análises: Segundo a Votorantim Corretora, o resultado veio mais fraco do que o estimado e eles não veem sinais de melhoras nos próximos trimestres, com as condições macroeconômicas seguindo difíceis. Eles, no entanto, acrescentaram que a recente melhora na confiança pode ajudar a companhia no médio a longo prazo. A corretora segue com recomendação outperform (desempenho acima da média) para os papéis, vendo o múltiplo P/L (Preço sobre Lucro) projetado para 2017, de 10,9 vezes, como “atrativo”. Já o Brasil Plural cortou sua recomendação para “underweight”, com preço-alvo para 2017 em R$ 8,00.

Desempenho das ações: Os papéis ficaram próximos da mínima após a companhia divulgar seu resultado, fechando com perdas de 9,11% na quarta-feira, cotados a R$ 6,98. Nesta sexta, as ações ficaram cotadas a R$ 6,73, com alta de 8,72%.

Pão de Açúcar (PCAR4)
O resultado (divulgado dia 27/7, após o pregão): A companhia viu seu prejuízo saltar de R$ 13 milhões para R$ 583 milhões em um ano, enquanto o Ebitda caiu 59%, para R$ 279 milhões. Em termos ajustados, a geração de caixa recuou 1%, a R$ 760 milhões. A receita líquida consolidada foi de R$ 16,7 bilhões, 5% superior na comparação anual, bem como alta de 3,2% na receita líquida no conceito “mesmas lojas”.

As análises: Para o BTG Pactual, o resultado foi muito negativo com resultado fraco e poluído com muitos ajustes e ajudado por créditos fiscais. “A performance de Assaí segue como grande destaque ajudando a impulsionar a venda nas mesmas lojas de alimentos que veio em 7,1%”, disseram os analistas.

Desempenho da ação: O balanço “muito negativo” levou as ações da varejista para queda de 10,41% na quinta-feira (28), fechando cotadas a R$ 48,20, praticamente na mínima do dia. Nesta sessão, os papéis subiram 1,80%, para R$ 49,07.

Natura (NATU3)
O resultado (divulgado dia 27/8, após o pregão): A maior fabricante de cosméticos do país, registrou lucro líquido de R$ 91 milhões no segundo trimestre, uma queda de 22% em um ano. Já o Ebitda caiu 3,5% e somou R$ 345 milhões no período refletindo, principalmente, o aumento da carga tributária (alta de 31,3%) e o impacto desfavorável do câmbio no custo dos produtos vendidos. Na mesma base de comparação, a receita da companhia cresceu 5%, para US$ 2 bilhões, prejudicada pela carga tributária. A companhia decidiu não pagar dividendos e nem juros sobre capital próprio para o primeiro semestre de 2016.

As análises: Para o BTG Pactual, o risco de execução continua elevado, apesar de uma leve melhora sequencial nas vendas, mas com a operação no País ainda fraca. Os analistas ressaltam que as vendas líquidas no Brasil caíram 2%, mas o lucro líquido segue em queda: “mantemos visão cautelosa para a companhia”. A análise da maior parte do mercado é de que os números, apesar de ruins, vieram acima da expectativa. O Deutsche Bank destacou melhora nas vendas no mercado brasileiro, após oito trimestres seguidos de declínio nas vendas. 

Desempenho da ação: Os números ainda ruins, mais melhores do que o esperado para a Natura no segundo trimestre impulsionaram os papéis da companhia na sessão de quinta-feira, com as ações registrando alta de 10,13%, a R$ 30,00, perto da máxima do dia. Já nesta sexta, os ganhos se estendem para 11,00%, cotados a R$ 33,30.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.