Chance de impeachment começa a “fazer preço” na Bolsa; veja quais ações ganhariam com isso

Com risco político de volta à cena, mercado começa a ver reações na curva de juros e ações - até então - "esquecidas" voltam ao radar dos grandes bancos

Paula Barra

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SÃO PAULO – A situação cada vez mais complicada da presidente Dilma Rousseff começa a fazer ruído no mercado financeiro, que tem sido palco de forte euforia dos investidores. Na terça-feira, o Ibovespa fechou a 43.235 pontos (maior patamar desde 17 de dezembro), acumulando 6% de alta em dois dias, sustentado pelo cenário de impeachment que começa a ganhar “momentum” novamente, além do bom humor no mercado externo.

Com o mercado digerindo essa possibilidade, um novo campo de oportunidades na Bolsa começa a ser desenhado pelos grandes bancos, que já começam a alterar suas carteiras de ações recomendadas. Isso porque, como comentou a Nomura, em relatório de segunda-feira, a chance de impeachment ajuda a suavizar a curva de juros, o que pode abrir espaço para ganhos em ações que se beneficiam com a Selic mais baixa, como é o caso de empresas de shoppings centers e concessões rodoviárias. Olhando para os juros futuros mais longos, o contrato de janeiro de 2021, por exemplo, já caiu 1,38 ponto percentual desde 20 de janeiro, indo para 15,43% na última terça-feira. 

Seguindo nessa linha, o BTG Pactual atualizou nesta semana sua carteira recomendada de 10 ações para março deste ano. Embora saliente que esse não é seu cenário-base, a equipe de análise do banco, chefiada pelo analista Carlos Sequeira, adaptou a nova carteira incorporando uma chance cada vez maior da saída de Dilma.

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A principal alteração nesse sentido foi a inclusão das ações da operadora de shoppings centers Multiplan (MULT3), que, além de se beneficiar de um cenário de juros mais baixos no Brasil, conta com um portfólio de shoppings “premium”, que encontram maior resiliência às adversidades macroeconômicas, tem baixo nível de alavancagem (de 2,4 vezes a dívida líquida/Ebitda) e “decente” valuation, negociando 10% abaixo da sua média histórica. 

Contudo, a carteira base do BTG mantém ainda opções defensivas, por não considerar o novo cenário político como o principal. Completam a carteira de 10 ações: Suzano (SUZB5), Telefônica Brasil (VIVT4), Cielo (CIEL3), BB Seguridade (BBSE3), Klabin (KLBN11), BM&FBovespa (BVMF3), Transmissão Paulista (TRPL4), Minerva (BEEF3) e Valid (VLID3).

Mas e se o impeachment de fato vier…
Agora, se o cenário alternativo de impeachment vingar, os analistas sugerem um portfólio completamente diferente, focando principalmente em ações que ganham com a Selic menor, tais como ações de shoppings centers, concessionárias e setor imobiliário. Eles também destacam que incluiriam as ações dos bancos e varejistas, que podem se beneficiar por perspectivas melhores para a atividade macroeconômica.

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Dito isto, o “portfólio impeachment” incluiria, então, – além das já listadas ações da Multiplan e BM&FBovespa – os papéis da BR Malls (BRML3), CCR (CCRO3), Itaú Unibanco (ITUB4), Duratex (DTEX3), Localiza (RENT3), Cyrela (CYRE3), Lojas Renner (LREN3) e Gerdau (GGBR4). 

Mas, para além dessas ações recomendadas pelo BTG, outras ações poderiam entrar nesse “pacote” das mais beneficiadas pelo cenário de Selic mais baixa. Entre elas, daria para citar ações do setor de shoppings center, como Iguatemi (IGTA3) e BR Properties (BRPR3), além da empresa de concessão rodoviária Ecorodovias (ECOR3). As units da elétrica Taesa (TAEE11) também poderiam entrar na lista.

Entenda por que elas ganham com isso
A menção a esses papéis segue a mesma linha das ações que ganhariam com os juros mais baixo. 
A explicação por trás desse pensamento é a seguinte: empresas ligadas a shoppings e concessionárias ganham com esse cenário porque como elas precisam operar alavancadas para operar, um aumento da Selic encarece seu endividamento e tira a atratividade de seu investimento. Isso porque como historicamente elas possuem uma TIR (Taxa Interna de Retorno) elevada, essa alta alavancagem acaba não trazendo tanto problema – dado que elas ganham com essa gordura do “spread” entre TIR e Selic. No entanto, quanto mais aumenta a Selic, menor fica essa gordura do “spread”, ou seja, menos atrativas ficam aos olhos dos investidores. Por isso que com as chances de impeachment voltando a cena, essas ações voltaram ao radar dos bancos – um coro que pode ganhar ainda mais força nos próximos dias.  

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Não esqueça do “kit eleições”
Contudo, quem acompanhou o mercado financeiro na época das eleições de 2014 sabe que há um outro grupo de ações que tende a se beneficiar do cenário de impeachment: as estatais. Ao longo das eleições presidenciais, 
Petrobras (PETR3, PETR4), Banco do Brasil (BBAS3) e Eletrobras (ELET3, ELET6) protagonizaram as maiores altas da Bolsa sempre que alguma pesquisa eleitoral indicava que teríamos um novo presidente da República; por outro lado, a cada indício de que Dilma seguiria no poder, esses papéis lideravam as quedas. Por esse motivo esse grupo de ações ficou conhecido como “kit eleições” durante 2014.

Essa reação devia-se ao fato dos investidores em ações acreditarem que uma alternância de governo aceleraria as reformas que o Brasil precisava por em prática para reverter o cenário de crise que já se instalava, ao passo que a manutenção de Dilma por mais 4 anos poderia agravar o cenário econômico.