Algo está dando errado: o que explica o ano “para se esquecer” de Buffett?

Se a tendência se confirmar, esta será a primeira vez desde 1990 que as ações classe A da Berkshire Hathaway terão um ano pior que o S&P 500 em um ano de baixa da bolsa

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em um ano em que as bolsas americanas estão praticamente no zero, uma ação bem notória está tendo um desempenho bem negativo: os papéis da Berkshire Hathaway, veículo de investimentos de Warren Buffett, registra baixa de 11,48% no acumulado do ano. 

O que explica essa forte queda dos papéis? Muito tem se falado que o bilionário, conhecido como “Oráculo de Omaha”, tem perdido o seu “toque de Midas”. No início de 2014, muito se destacou que o bilionário perdeu para o S&P 500 pela primeira vez em quase 50 anos. De 2008 até 2013, o índice americano avançou 128%, enquanto o fundo de ações controlado pela Berkshire subiu 80%. E, neste ano, a expectativa é de que esse cenário se repita, com a diferença entre o desempenho da Berkshire e o S&P500 podendo aumentar. 

Conforme destaca a CNBC, o movimento atual é altamente incomum: a Berkshire tende a ter uma performance pior do que a do S&P500 quando o índice americano dispara, o que faz sentido dada a visão de Buffett de investir tendo como foco o longo prazo. Na verdade, Buffett é conhecido por instruir os investidores: “Seja medroso quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros estão com medo”, afirmou.

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Se a tendência se confirmar, esta será a primeira vez que as ações classe A da Berkshire Hathaway terão um ano pior que o S&P 500 em um ano de baixa da bolsa pela primeira desde 1990. A maior diferença entre as duas ações aconteceu em 1999, quando os papéis da Berkshire caíram 20%, enquanto o S&P500 subiu quase no mesmo patamar.

Conforme destaca o portal, as ações da Berkshire são vítimas de uma fase difícil para o transporte e empresas industriais que a companhia possui, bem como algumas escolhas infelizes. Os desafios prosseguem e foram especialmente desafiadores este ano. Conforme destaca a CNN Money, Buffett adora blue chips que são relativamente fáceis de serem entendidas e tem evitado apostar das queridinhas da “nova economia”, caso de Facebook, Amazon e Netflix em favor de empresas mais tradicionais e mais maduras. “Mas essa parece ter sido uma má estratégia este ano”, afirma.

Um dos casos é a IBM, empresa na qual a Berkshire possui a quarta maior participação e registra baixa de 16,59%. Contudo, ele segue aumentando a sua fatia na companhia: a Berkshire começou a investir nela em 2011, sendo uma das poucas do setor tecnológico na sua carteira. 

 IBM e American Express têm registrado fortes quedas, enquanto a Wells Fargo e a Coca-Cola estão mais ou menos estáveis. Além disso, a queda dos preços de commodities, como petróleo e carvão, foram um golpe para Buffett. 

O analista Sykes Macrae destacou à CNBC que, além disso, a Berkshire não está sendo capaz de encontrar negócios interessantes com todo o capital que gerou por conta de seus negócios. Buffett seguiu com os seus negócios, com destaque para a compra da Precision Castparts por US$ 37,2 bilhões, o que foi visto como caro pelo mercado.

Ainda assim, Buffett e sua Berkshire Hathaway já tiveram um desempenho bem superior em um longuíssimo período de tempo.

Mau humor
Vale ressaltar, conforme apontou matéria do jornal Wall Street Journal da semana passada, que a relação entre Wall Street e Buffett se tornou abertamente mal-humorada: investidores alfinetam Buffett e, em suas últimas 25 cartas, ele alfinetou Wall Street em 17. Muitas pessoas admiram seus investimentos e invejam a sua fortuna. “Ainda assim, muitas dessas mesmas pessoas também dizem que Buffett se esconde atrás da imagem de um homem de negócios camarada e benevolente enquanto busca os mesmos negócios para maximizar lucros que os alvos de alguns de seus ataques”, afirma o jornal.

 “Existe até um ditado na comunidade de investidores: ‘faça o que Warren Buffett faz, não o que ele diz’”.

Semana passada, aliás, Buffett esteve no centro de uma polêmica: o bilionário Bill Ackman criticou ontem o megainvestidor por suas 400 milhões de ações na Coca-Cola, que valem a valores de hoje cerca de US$ 17 bilhões. Ao responder a uma pergunta em um painel homenageando Buffett por seus 50 anos na Berkshire Hathaway, Ackman afirmou que tinha uma objeção com o investimento do Oráculo: “a Coca-Cola provavelmente fez mais do que qualquer outra empresa no mundo para criar obesidade e diabetes de forma geral.”

Por trás das críticas de Ackman, havia algo ainda maior. O braço-direito de Buffett, Charlie Munger, havia criticado em março a Valeant, em que Ackman possui participação de 5,7% e que está sendo a nova dor de cabeça do investidor. Nas últimas semanas, a Valeant viu suas ações implodirem em meio às suspeitas de fraude no balanço, o que fez com que a fala de Munger voltasse à tona e levasse a essa reação de Ackman.  Porém, o foco de Munger em março era outro: as alegações não eram de possível fraude, mas contestando a “moralidade” da Valeant. Numa entrevista para a Bloomberg, Munger havia criticado a estratégia de crescimento da empresa, chamando-a de imoral, já que ela vem comprando patentes de medicamentos existentes e em seguida aumentando os preços, elevando os custos do sistema de saúde. Mas Ackman não deixou barato.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.