Vale no vermelho, Petrobras e bancos no zero a zero: como foram as blue chips no 1º tri?

Petrobras ficou no zero, mas trimestre foi de fortes emoções para a companhia; bancos tiveram trimestre mais tranquilo, mas com perspectiva desafiadora, enquanto Vale teve trimestre "para esquecer"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ibovespa fecha o primeiro trimestre deste ano em alta de 2,29%, mas isso não quer dizer que as blue chips que costumam ser destaque no noticiário e na Bolsa não tenham dado boas doses de emoção aos investidores. 

Algumas ações, como a da Petrobras, por exemplo, fecharam o primeiro trimestre em leve queda. Contudo, isso não significou que ela não tivesse uma montanha-russa na Bolsa, com corte de rating, mudança no comando e Operação Lava Jato. Enquanto isso, os números da Vale representaram o que foi o trimestre para ela: de queda. Já os bancos tiveram um trimestre mais tranquilo, mas que também indicaram os seus desafios. Confira como estas blue chips performaram no Ibovespa neste primeiro trimestre. 

Vale e a sua verdade inconveniente: queda de 20% no trimestre
Um dos destaques negativos, apesar de sempre se olhar com bons olhos a estratégia da companhia em focar em seus ativos centrais, é a ação da Vale (VALE3, R$ 17,94, -18,12%; VALE5, R$ 15,45, -19,66%). Os seus ativos ON fecharam em queda de 18%, enquanto os ativos da classe PNA fecharam o trimestre em baixa de 19,66%. 

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Enquanto há elogios sobre os processos internos da mineradora, o cenário externo, com a desaceleração econômica da China e a queda do preço do minério de ferro pesaram sobre a companhia, além dos decepcionantes números do quarto trimestre divulgados da companhia, no final de fevereiro. 

Em meio à queda do preço de minério de ferro de 28,4% em 2015, as ações da mineradora sofreram na bolsa. Vale ressaltar que este valor segue a referência do minério de ferro com teor de concetração de 62%, negociado no Porto de Tianjin, na China.

Isso levou a companhia a enfrentar uma verdade inconveniente: pagar dividendos ou investir em Carajás? De acordo com relatório do Brasil Plural do início de janeiro, “fazer as duas coisas não parece uma boa escolha”, destacaram os analistas do banco.

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Para atrair mais valor, mesmo que em longo prazo, o ideal seria a companhia dar maior destaque para seu investimento em Carajás e não nos dividendos. Para eles, os dividendos mais baixos devem aumentar a confiança do investidor no case de longo prazo da Vale, sendo melhor que uma satisfação maior apenas no curto prazo por conta de dividendos mais altos.

E as perspectivas para o minério de ferro, no final do primeiro trimestre, não são nada boas. Segundo o Citi destacou em relatório, o preço do minério de ferro cairá para menos de US$ 50 por tonelada porque a demanda de aço na China, a maior produtora mundial da liga, se mantém fundamentalmente fraca e os custos das companhias mineradoras continuam caindo.

A demanda chinesa por aço diminuiu em janeiro e fevereiro em relação a um ano atrás, disse o banco em um relatório enviado por e-mail nesta segunda-feira, no qual reiterou sua previsão de um recuo para menos de US$ 50, frente a US$ 54,66 na sexta. Moedas desvalorizadas, preços de energia mais baixos e taxas de frete reduzidas diminuirão ainda mais os custos das companhias mineradoras, disse o Citigroup.

E o segundo trimestre não começou nada bem para a companhia. Em relatório, o Santander cortou o preço-alvo para os ADRs (American Depositary Receipts) da mineradora de US$ 8 para US$ 4,50 e destacou que espera mais quedas à frente. Segundo os analistas Felipe Reis e Renato Maruichi, o desempenho operacional da Vale continuará sofrendo no curto e médio prazos em meio à queda de preços do minério de ferro e a grande desvantagem na rentabilidade da Vale em relação aos pares australianos está nos fretes.

Petrobras: entre altas e baixas, fecha trimestre quase no zero
Os primeiros três meses da Petrobras (PETR3, R$ 9,58, -0,10; PETR4, R$ 9,73, -2,89%) foram extremamente longos para a estatal. Entre a expectativa com a nomeação do novo presidente da petrolífera, que depois acabaram decepcionando, a Operação Lava Jato, o corte de rating para as ações e novas ações contra a companhia movimentaram o mercado.

Entre o impasse sobre a divulgação de resultados – e se haveria ou não os efeitos da corrupção no balanço -, a Petrobras decepcionou ao divulgar, no final de janeiro, um balanço sem as baixas contábeis e mostrando um lucro de R$ 3,087 bilhões no terceiro trimestre.

Com perspectivas de divulgar os números só em abril ou maio, enquanto as declarações sobre o esquema de corrupção investigada pela Lava Jato continuaram a todo vapor, inclusive após a divulgação dos investigados pela operação, o cenário só se complicou.

Antes da divulgação da lista do procurador geral da República, Rodrigo Janot, a questão era o novo presidente da estatal. Logo após divulgar o balanço do terceiro trimestre, mas ter destacado que as baixas contábeis poderiam chegar a R$ 88 bilhões, somado ao fato de não ter conseguido arranjar soluções para a empresa, a presidente da estatal Graça Foster se enfraqueceu no cargo. 

Os rumores sobre a sua saída aumentaram e muitos nomes foram cotados, como Henrique Meirelles, Nildemar Secches, Murilo Ferreira, entre outros, o que fez com que as ações disparassem. Contudo, o escolhido foi uma solução caseira, através da entrada do ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, que decepcionou o mercado e fizeram as ações caírem.

Graça saiu, Bendine entrou, mas os problemas continuaram. A Fitch cortou o rating da empresa para BBB-, enquanto a S&P cortou a perspectiva para o rating para negativa. E uma das questões segue sendo quando e de que forma será divulgado o balanço. Entre a expectativa com nomes da equipe econômica e o nome que desanimou no comando da empresa, a Petrobras fechou o trimestre praticamente no zero a zero.

Bancos
Entre os grandes bancos, tirando o Santander (SANB11, R$ 14,07, +6,57%), que passa por um processo de OPA (Oferta Pública de Ação), as ações do Bradesco (BBDC4, R$ 29,67, +2,18%) e do Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 35,30, +4.72%) tiveram uma alta tímida, enquanto os papéis do Banco do Brasil tiveram baixa.

O desempenho discreto dos papéis do Bradesco e do Itaú refletem o cenário macroeconômico mais desafiador e o aperto de crédito, mas também a resiliência em um ambiente complicado.

Mesmo em um ano de dificuldades econômicas bem grandes, os dois maiores bancos privados do Brasil tiveram resultados muito expressivos. Juntos, o Itaú Unibanco e o Bradesco lucraram mais de R$ 35 bilhões em 2014. 

O Itaú, maior banco privado do país, encerrou o ano de 2014 com um lucro de R$ 20,242 bilhões, alta de 29% ante igual período de 2013, quando já havia registrado até então o maior da história dos bancos brasileiros de capital aberto, de acordo com levantamento da Economática, ao lucrar R$ 15,7 bilhões. Já o Bradesco teve um lucro líquido de R$ 15,089 bilhões, valor 25,6% superior aos R$ 12 bilhões registrados em 2013.

Enquanto isso, a leve queda das ações do Banco do Brasil (BBAS3, R$ 22,91, -1,34%) no trimestre destaca que a instituição financeira vem registrando perda de eficiência frente aos seus pares, além de mostrar o aperto no seu crédito após um período em que baixou os juros para fomentar o consumo. Agora, a tendência é de reversão destas políticas. E, vale lembrar que, com a saída de Bendine da presidência do BB, Alexandre Abreu assumiu o comando da instituição financeira. 

Agora, em um momento de aperto econômico, o cenário para o setor bancário será ainda mais desafiador e os bancos teram que mostrar ainda mais a sua capacidade de resiliência.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.