Kroton é a “bicampeã” do Ibovespa ao subir 64% em 2014; veja as melhores do ano

Ainda entre os destaques, Marfrig aparece em segundo com processo bem sucedido de "turnaround" e Gol aproveita a queda no preço do petróleo para decolar no mercado de ações

Marina Neves

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SÃO PAULO – O ano de 2014 chega ao fim amanhã, deixando aos investidores novamente a lição de que quem vê lucro é quem vê fundamento. Em ano presidencial, a Bolsa viveu um movimento atípico, com algumas ações, principalmente as estatais, reagindo diretamente às campanhas eleitorais, e, principalmente, às pesquisas. O rali eleitoral foi tomando forma em março, e durou até pouco antes das eleições, antes de devolver tudo ao final de novembro.

Quem apostou nos ganhos das estatais, que estavam reagindo ao cenário político, não viu o retorno dos papéis no pós-eleição, com a Petrobras despencando e perdendo a banda dos R$ 10 por ação, “mergulhada” em denúncias sobre corrupção e sofrendo com quatro ações conjuntas vindas dos EUA contra a estatal. No entanto, quem irá estourar a champagne com gosto neste ano, será o investidor dos papéis do setor educacional e das companhias “protegidas” pela alta do dólar ou pela queda do petróleo. No primeiro lugar, a Kroton se destacou, sendo bicampeã do Ibovespa em 2014, vindo logo atrás pela “defensiva” BB Seguridade.

Outro setor que fez seus acionistas sorriem neste final de ano foi o das exportadoras, que possuem seu lucro lastreado no dólar, que teve arrancada de 12,78% neste ano. Os papéis das companhias que possuem perfil exportador, como Embraer (EMBR3, R$ 24,44, +31,46%), Fibria (FIBR3, R$ 32,51, +17,58%) e Suzano (SUZB5, R$ 11,25, +23,73%), fecharam o ano no positivo no Ibovespa.

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Veja os destaques anuais de ganhos do Ibovespa em 2014:

Kroton (KROT3, R$ 15,50, +63,76%)
A ação campeã da Bolsa pelo segundo ano consecutivo fechou 2014 descolada da segunda colocação, a Marfrig, que teve ganhos de 52,50%. Vivendo período muito bom na Bolsa, a companhia passou por longo processo na tentativa de uma fusão com a Anhanguera no início de 2014, com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) preocupado com formação de oligopólio no setor de educação. No dia 14 de maio, por meio de um ACC (Acordo em Controle de Concentrações), o conselho aprovou a fusão entre as duas, com as empresas se comprometendo a alienar a Sociedade Educacional Leonardo da Vinci, que oferece cursos de graduação na modalidade EAD (Ensino à Distância) sob a bandeira Uniasselvi, bem como duas instituições de ensino superior que oferecem cursos presenciais em Rondonópolis e Cuiabá.

Dois meses depois de o Cade aprovar a fusão entre as duas companhias, foi a vez dos acionistas da companhia, que após darem o sinal verde para a operação, culminou na deslistagem dos papéis da Anhanguera da Bovespa, sendo então incorporadas pelos papéis KROT3. A fusão criou a maior companhia do setor de educação superior do mundo, com valor de mercado de R$ 22 bilhões – muito a frente da segunda colocada, a chinesa New Oriental. As duas empresas têm juntas uma base de 1,5 milhão de alunos, sendo desses 990 mil de graduação e 78 mil de pós-graduação.

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No dia 5 de setembro, a empresa realizou novo acordo, desta vez com a editora e varejista Saraiva (SLED4), para disponibilizar sua nova plataforma de aprendizagem digital para os alunos do último ano do curso de Direito da Kroton Educacional. O valor do acordo não foi divulgado. O produto faz parte da linha “Saraiva Prepara”, voltada para o público que estuda para exames, concursos e carreiras públicas. Segundo a Saraiva, a nova plataforma é “adaptativa” pois indica o plano de estudo mais adequado a partir da identificação dos temas em que o aluno tem mais dificuldade.

No final do ano, o presidente da companhia, Rodrigo Galindo, disse durante o “Kroton Day” que a possibilidade de retirada dos programas sociais não irá trazer riscos à empresa no atual cenário da economia brasileira. Galindo afirmou que o que está em melhor cenário é o Prouni, já que o governo autorizou as empresas a anteciparem a renovação do benefício. Ou seja, por pelo menos mais 10 anos o governo não poderá alterar as condições do programa em relação às unidades da Kroton.

Para o futuro, a companhia frisa este novo recurso criado por eles, o Canal Conecta. Basicamente, este serviço faz a “conexão” entre aluno e empresa para facilitar o processo de ambos os lados na hora de contratar um novo empregado. Por meio do Conecta, os alunos da Kroton podem incluir dados em seus currículos, assim como realizar provas e teste de comportamento, enquanto as empresas incluem suas vagas e encontram os candidatos com o melhor perfil para o que estão querendo naquele momento. As perspectivas da companhia são de que em 2 ou 3 anos o serviço passe a ser gratuito para seus alunos.

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Marfrig
No segundo lugar, com alta de 52,50% e vivendo seu primeiro ano de alta após quatro anos no vermelho, a Marfrig (MRFG3, R$ 6,10, +52,50%) se consagra com um “turnaround” na metade do ano para cá, após fechar um 2013 com perdas de mais de 50% e tendo sido bastante prejudicada no início de 2014 com uma dívida com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que na época valia cerca de R$ 6,7 bilhões. No entanto, a empresa de alimentos acumulou perdas de 79% entre 2010 e 2013, fazendo com que o ótimo resultado de 2014 apenas tenha amenizado as perdas acumuladas nesses 5 anos para 67%.

A companhia passou a ser beneficiada também com as crises políticas vistas entre Rússia e Ucrânia, que culminaram nos embargos econômicos dos EUA com o país e, mais tarde, com a proibição por parte da Rússia, da entrada de proteína animal vinda do país norte-americano. Foi aí que as companhias produtoras de proteína animal brasileiras foram muito ágeis em suprir as necessidades da Rússia e conseguiram exportar para o país. 

Outras altas
A fabricante de aeronaves Embraer (EMBR3, R$ 24,44, +31,46%), impulsionada pela disparada do dólar no período – a companhia tem praticamente toda sua receita oriunda de exportação, enquanto os custos são em reais. Cetip (CTIP3, R$ 32,20, +40,14%) e BB Seguridade (BBSE3, R$ 32,16, +36,86%), tidas como empresas de perfil defensivo e com bons fundamentos, também se destacaram no período.

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Fora do top 5, mas com forte demonstração de alta, também estiveram os papéis da Gol (GOLL4, R$ 15,18, +44,85%), que fechou o ano com ganhos de 37,79%. Se por um lado a alta do dólar no período foi desanimadora para os papéis, já que seus gastos são cotados na moeda norte-americana, por outro lado a queda nos preços do petróleo foram muito positivas para a companhia. Vale mencionar que no último dia 18 o Bank of America Merrill Lynch elevou a recomendação dos papéis da companhia de neutro para compra. De acordo com o time de analistas do banco, a vantagem do setor de aviação é a de que os preços baixos do petróleo estão superando as pressões do câmbio.