Os preços, expectativas e quem ganhará com o leilão para aliviar as distribuidoras

O preço teto de leilão A-0 para aliviar situação de siderúrgicas foi estabelecido em R$ 262 por MWh para as termelétricas e R$ 271 por MWh para as fontes hídricas; Eletrobras pode ser beneficiada

Lara Rizério

Usina Eólica Volta do Rio - Ceará *** Local Caption *** Vista dos aerogeradores durante a visita técnica à usina Eólica Volta do Rio no Ceará. Usina eólica conectada a SE SOBRAL III, Chesf. A usina pertence ao grupo Energimp S/A, controlado pela IMPSA WIND (Industrias Metalúrgicas Pescarmona S.A.).

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SÃO PAULO – Tão aguardado, o leilão A-0 acontecerá na próxima quarta-feira (30) para compras de energia até dezembro de 2019, de forma a aliviar o custo de energia para as distribuidoras no curto prazo. O preço teto foi estabelecido em R$ 262 por MWh (megawatt/hora) para as termelétricas e R$ 271 por MWh para as fontes hídricas. O nível foi considerado atrativo pela analista do Santander, Maria Carolina Carneiro, que havia estimado preço-teto seria de R$ 250-300 por MWh para as termelétricas e R$ 180-200 MWh para as hidrelétricas, portanto os preços beneficiariam as últimas.

Contudo, apesar de considerar o preço-teto bom pelo mercado, apenas as empresas estatais anunciaram participar do leilão. Porém, vale ressaltar que a Tractebel (TBLE3) também chegou a avaliar a venda de energia no leilão ao fornecer um conjunto com empresas parceiras. Os preços fixados foram considerados tentadores, uma vez que há poucos geradoras que possuem energia para atender os contratos, que vão durar mais de cinco anos, o que deve levar algumas companhias a fazerem bons negócios, afirma a analista.

Maria Carolina ainda questiona: como os preços-teto podem ser inferiores aos atuais preços à vista? O preço à vista atual é de R$ 822/MWh. Pode ser que os contratos tenham preços menores, pois irão durar cinco anos e os preços à vista são imprevisíveis, embora devam continuar pressionados em 2015, com base na situação atual dos reservatórios.

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Desta forma, a maior parte das empresas prefere ter garantia de receita a preços razoáveis por períodos mais longos. Embora fosse melhor vender ao nível de preço no mercado à vista, os contratos de cinco anos permitem que as empresas de geração tenham alavancagem, planejem os investimentos e paguem custos fixos, entre outras vantagens.

Quais volumes e geradoras participarão desse leilão?
Potencialmente, os volumes e as geradoras, a Petrobras (PETR3PETR4) com cerca de 1,2 gigawatt de fontes térmicas, assumindo custo máximo de operação em R$300 por MWh, a Eletrobras (ELET3;ELET6) – diretamente com aproximadamente 720 MWh de fontes hídricas (estimamos uma parcela maior dos contratos no mercado livre não renovados na capacidade firme de Furnas e Eletronorte com contratos de concessão que não venceram) e energia da Serra da Mesa – recentemente adquirida pela Eletrobras da CPFL Energia (CPFE3) – podem participar no leilão A-0.

“Com base em nossas estimativas, a Eletrobras poderia adicionar um Ebitda de cerca de R$ 1,8 bilhão”, avalia a analista do Santander, que avalia que a empresa poderia beneficiar-se com o aumento na receita. Contudo, o desempenho recente de sua ação está mais relacionado às expectativas quanto aos resultados das pesquisas eleitorais, afirma. 

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CPFL fora do leilão
O contrato bilateral a se pagar no longo prazo possui cláusulas de proteção contra riscos, avalia a analista. A CPFL anunciou um contrato bilateral com Furnas até 2028, por um preço bruto de R$182 por MWh, indexado ao IGP-M e com cláusulas de proteção contra riscos que garantem um fluxo de caixa similar ao esperado para o leilão e considerando a estimativa de preço no longo prazo, assumindo um déficit hídrico de 3,5% em 2014.

“Embora essa decisão possa ser considerada controversa, considerando os preços substanciais no curto prazo, lembramos que as cláusulas de proteção contra riscos (déficit hídrico, racionamento), volatilidade e incertezas relativas aos preços além de 2015 deveriam ser levadas em consideração”, avalia a analista. 

Leilão visa reduzir pressão sobre distribuidoras
Em meio ao cenário de forte pressão sobre as distribuidoras com o período seco enfrentado pelo País, que aciona as termelétricas, o leilão visa reduzir o cenário crítico das companhias energéticas. De acordo com o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o leilão pode reduzir pela metade a descontratação das distribuidoras de eletricidade, pressionadas atualmente pelos altos preços da energia de curto prazo. 

Segundo ele, a contratação de até 1.600 megawatts médios no leilão A-0 já representaria um sucesso do certame, que faz parte de conjunto de medidas do governo federal para reduzir o elevado preço da energia no curto prazo.

“A expectativa é de que preço (da energia no leilão) foi muito atrativo e que realmente deixará os agente interessados”, disse Zimmermann, antes de participar de reunião do Conselho de Administração da Eletrobras. “Acreditamos que o leilão vai ajudar a diminuir essa descontratação das distribuidoras, que é o grande objetivo do certame”, acrescentou.

Ele afirmou que leilões A-0 têm um histórico de contratação de 40% a 50%, segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). “Esse leilão (de quarta-feira) tem características diferentes dos de energia nova. Então nós acreditamos que deve passar este percentual”, disse Zimmermann.

Perguntado se o volume contratado poderia passar de 50%, ele respondeu: “Até mais, mas acho que contratando 1.500, 1.600 megawatts médios já será um sucesso. Reduzirá praticamente à metade a descontratação.”

O presidente da CCEE, Luis Eduardo Barata, já havia dito na semana passada que uma contratação pra atender 40 por cento da necessidade já marcaria um resultado bom para o leilão. As distribuidoras de eletricidade do país estão descontratadas em mais de 3,3 gigawatts (GW) médios, o que tem obrigado a compra de energia bem mais cara no mercado de curto prazo.

Em meados de abril, agentes do setor elétrico consideraram os preços-teto para o leilão de energia existente de quarta-feira como positivos, principalmente para os ofertantes de eletricidade de hidrelétricas, mas existiam dúvidas se haverá oferta suficiente para toda a demanda.

(Com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.