Espera do governo por chuvas pode ser desastrosa e ter resultado “terrível” para o País

Com águas de março não vindo e governo adiando racionamento, impacto no Brasil pode ser maior do que em outros países, avalia BTG; LCA vê impacto negativo sobre o PIB de até 1,9 ponto percentual de um racionamento de energia a partir de maio

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O mês de março passou sem que as suas águas trouxessem alívio para o governo brasileiro. O nível dos reservatórios continua em níveis críticos e as expectativas para os próximos meses não parecem nada promissoras. 

Assim, conforme apontam os analistas do BTG Pactual, à medida que a estação chuvosa chega ao fim, o racionamento pode ser a escolha mais racional. “Abril é normalmente o mês mais seco da temporada e também o último e parece que os limiares mínimos propostos para os operadores e consultores do sistema para evitar racionamentos não serão cumpridos. Com isso, no início de maio, indicadores tendem a sugerir que o mais racional a ser feito é administrar a demanda”. 

Mas se o governo optar por nada fazer? Os analistas do BTG, Antônio Junqueira e João Pimentel, avaliam que o governo terá que encarar um dilema: ou iniciar um programa para poupar energia ou adiar o racionamento e apostar em fortes chuvas na temporada “seca”. Mas, dadas as características do sistema de energia no Brasil, este último pode vir a ser uma aposta arriscada. “Se a chuva não cair e os governantes renunciarem a um programa de economia de energia, o resultado pode ser terrível”. 

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Junqueira e Pimentel avaliam ainda o rali recente das ações do setor, que não parecem mais precificar o risco. Há cerca de um mês, o setor parecia precificar levemente um racionamento. No entanto, contando o mês de março, esse não parece mais ser o caso e, com isso, eles avaliam que é melhor agora limitar a exposição no setor.

Isso porque os temores podem aumentar novamente. Apesar das repetidas promessas de autoridades governamentais de que um racionamento será evitado, os temores podem voltar. As chuvas de março foram mais fracas do que o esperado e parecem improváveis de compensar o déficit no Brasil. Se, em maio, um programa de racionamento for necessário mas não for implementado, os temores podem ser ainda maiores do que em fevereiro. Com isso, o momento pode ser de embolsar os lucros do último mês, destacam os analistas. 

As opções que restam
Segundo os analistas do BTG, atualmente, enfrenta-se um cenário no Brasil que parecia ser impensável anteriormente. Caso o governo não atue e espere por chuvas, o resultado poderá ser ainda pior do que parece. “Na maior parte dos países, trazer o sistema de energia ao limite parece ser um grande risco, sendo a solução mais comum a implementação de apagões, que reduzem a demanda nos momentos críticos”.

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Já no Brasil, apontam, a situação pode ser ainda mais prejudicial, tendo que desligar completamente o sistema ou grandes partes do sistema caso haja falta de energia por não haver água. A capacidade de abastecimento no Nordeste e Sudeste seria prejudicada durante o tempo que fosse preciso para recuperar os reservatórios. 

Com efeito, a falta de energia seria muito mais prejudicial para o setor de serviços públicos no Brasil e para o país em si do que seria em outros países – e, como tal, não pode ser vista como uma possibilidade”, avaliam. Assim, a disposição do governo em se expor a esses riscos para evitar racionamento aumenta a possibilidade de uma paralisação total. 

Impacto no PIB de até 1,9 p.p.
Conforme ressalta a LCA Consultores,
no quadro atual, ainda parece ser mais provável que não tenha que ser decretado um racionamento neste ano de 2014 – mas o risco existe. E ele pode ser ainda maior para 2015, caso não sejam adotadas algumas medidas de contenção voluntária de consumo e de melhoria da eficiência energética.

Caso haja um eventual racionamento neste ano, os consultores estimam um impacto negativo entre 0,5 a 1,9 ponto percen-tual sobre o PIB de 2014. Um racionamento somente em 2015 provavelmente teria impactos mais severos, pois seria bastante provável que os reservatórios encerariam 2014 em níveis ainda mais baixos do que encerraram 2013 – o que exigiria assim um corte de carga mais elevado no ano que vem.

“Para evitar que o ano de 2015 se inicie com uma situação ainda mais crítica do que aquela observada neste começo de ano, é extremamente importante que algumas medidas de contenção voluntária de consumo e melhoria da eficiência energética sejam implementadas tempestivamente”, ressalta a LCA, como o consumo de energia mais consciente.

Além disso, o governo deveria adotar punições financeiras mais pesadas quanto ao cumprimento do cronograma de entrada de novas usinas e linhas de transmissão ao sistema. O estímulo de fontes de energia alternativa, como solar e biomassa, são cruciais para diminuir a dependência de hidrelétricas. 

RacionamentoPIB

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.