Cortaram o rating do Brasil, e agora? veja a opinião de especialistas

Entre nomes da economia e analistas as expectativas são bastante divergentes, com alguns acreditando em um forte impacto negativo no curto prazo e outros indicando compra de ações

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A repercussão do corte de rating do Brasil feito pela Standard & Poor’s nesta segunda-feira (24) tem sido bastante divergente. Entre os especialistas, há quem acredite que essa seja uma boa oportunidade de compra de ativos, enquanto há quem diga que podemos ver uma onda de corte de rating para as companhias brasileiras, prejudicando bastante seus desempenhos na Bolsa. 

Em um primeiro momento a notícia deve pesar no mercado, principalmente após uma sequência de 6 altas do Ibovespa, que dificilmente deve conseguir manter esse desempenho após o corte de rating. “Amanhã a Bolsa deve cair. Mesmo que fosse um corte já esperado pelo mercado, o mercado sempre reage de forma negativa à uma notícia como essa”, afirma o analista William Alves, da XP Investimentos.

Como essa redução já era esperada, analistas acreditam que o impacto deve ser reduzido, com muitas ações da Bolsa já tendo precificado o corte, fato que já pode ser indicado pelos ADRs das companhias brasileiras negociados na bolsa dos EUA. Quem mais sofreu no after hour foram os ativos dos bancos, com os ADRs do Itaú Unibanco e do Bradesco recuando 2,5% cada. As duas gigantes da bolsa brasileira, Petrobras e Vale, caíram mais de 1% cada uma. Por outro lado, ADRs como o da Embraer e da CSN, que tem suas receitas mais voltadas para o mercado externo, acabaram subindo.

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Nessa linha de um impacto, o chefe de análise do Modal Asset Management, Eduardo Roche acredita que esse movimento deve detonar uma onda de ajustes em ratings de empresas estatais e de bancos. O executivo lembrou que as recentes declarações da S&P sobre a Petrobras já indicavam essa forte correlação entre os rumos do rating soberano e de estatais.

Enquanto isso, o diretor de pesquisas para América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirmou ao Broadcast que o rebaixamento é bastante negativo e que devemos ter grandes impactos já no curto prazo. Ele ressalta ainda um efeito no câmbio, mas lembra também que o impacto pode ser atenuado de acordo com as decisões do governo na gestão da política econômica, destacando em especial o combate à inflação e a execução do aperto fiscal.

Impacto político
O analista da XP acredita que o impacto do corte de rating deve ser mais político e não diretamente na Bolsa. “Essa notícia traz uma pressão muito grande para o atual governo, principalmente por ser ano eleitoral”, afirma William. Diante dessa perspectiva ele diz: “É hora de comprar”. Para ele, essa notícia pode ser avaliada da mesma ótica que as especulações ocorridas na última semana diante da expectativa da divulgação da pesquisa Ibope.

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Enquanto o mercado acreditava que o resultado mostraria a presidente Dilma Rousseff perdendo espaço para seus concorrentes, as ações subiram forte, principalmente as estatais. Por outro lado, quando a pesquisa mostrou que Dilma seria reeleita ainda no primeiro turno, o mercado desanimou. Com essa pressão criada pelo corte de rating, o analista acredita que seja um bom momento para investir na Bolsa.

Apesar de concordar com a visão de uma pressão política, a economista Monica de Bolle, diretora da consultoria Galanto e professora da PUC-Rio, afirmou ao Broadcast da Agência Estado que o timing da redução chega a ser positivo, já que chega em um momento suficientemente anterior às eleições para evitar que se combine com as tensões mais fortes da campanha eleitoral. “É bom também porque ainda dá tempo do governo mudar de rumo”, afirmou.

Enquanto isso, a diretora do Ibope, Márcia Cavallari, afirmou que o corte de rating não deve impactar as eleições deste ano, a não ser que isso acabe, de alguma forma, afetando negativamente o bolso do eleitorado. Mesma visão do cientista político e diretor do MCI, Antonio Lavareda.

Grau de investimentos “salva” a situação
O principal ponto positivo destacado pelos especialistas foi o fato da agência de rating manter o grau de investimento do País, além de ter alterado a perspectiva de rating de “negativa” para “estável”. “A decisão tira a dúvida sobre se o downgrade poderia ocorrer com perspectiva negativa. Já sabemos que é estável e que, no curto prazo, não há risco”, afirmou o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall.

Mesmo com esse lado positivo, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, afirmou que o corte sinaliza que, sem medidas corretivas por parte do governo, principalmente na questão fiscal, o País pode perder o grau de investimento. “Foi menos mal, porque o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas pelo governo, principalmente nas questões fiscal e de crescimento”, disse.

Com Agência Estado

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.