O nascimento do Lobo de Wall Street: veja o artigo da Forbes sobre Jordan Belfort em 1991

Matéria conta a vida do analista de forma bastante diferente de como ela é retratada no filme de Martin Scorsese, atualmente nos cinemas brasileiros

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Na última sexta-feira (24) estreou nos cinemas brasileiros “O Lobo de Wall Street“, filme nomeado em cinco categorias do Oscar – inclusive de melhor filme – em que Leonardo DiCaprio vive Jordan Belfort, um corretor de ações que na década de 1990 ganhou milhões de dólares na Bolsa dos EUA negociando as chamadas penny stocks (ações de companhias pequenas e que valem apenas alguns centavos).

Além da carreira meteórica e das investigações do FBI, Belfort ficou famoso por um artigo publicado na revista Forbes em 1991. Apesar de no filme afirmarem que o apelido de “Lobo de Wall Street” ter sido utilizado pela primeira vez no título desta matéria, o perfil original apresentado na revista não cita a expressão em nenhum momento.

O perfil de Berlfort foi publicado pela revista Forbes em 14 de outubro de 1991 sob o título de “Steaks, Stocks – What’s the difference?”. O jogo de palavras faz referência ao antigo trabalho de Belfort como vendedor de carnes (steaks) e ao trabalho feito por ele com corretagem de ações (stocks), além do fato de que em seu trabalho como analista ele utilizar técnicas de marketing e vendas para conseguir seus objetivos vendendo penny stocks. O InfoMoney traduziu o artigo da Forbes. O texto original em inglês pode ser visto clicando aqui:

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Carnes, ações – qual a diferença?

Aos 23 anos, Jordan Belfort estava vendendo carne e frutos do mar de porta em porta em Long Island, Nova York, e sonhando em ficar rico. Poucos meses depois, ele estava lotando caminhões, vendendo mais de duas toneladas de carnes e peixes por semana. Mas ele se expandiu muito rapidamente sem capital para sustentar seu negócio. Com 25 anos, ele entrou com pedido de falência.

“Eu era bastante talentoso”, dá de ombros um Belfort, um homem de fala calma, agora com 29 anos. “Mas as margens eram muito pequenas”.

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Procurando por um produto com maior “gordura”, Belfort descobriu as ações. Steaks (bife), stocks (ações) – para um vendedor, qual a diferença? Belfort já é corretor a dois anos na Stratton Oakmont, operando de Lake Success, Nova York, se especializando em empurrar ações arriscadas para investidores mais crédulos. E, enquanto as ações parecem ser tão perecíveis quanto carne e peixe, as margens parecem ser um pouco melhores. A receita total em comissões da Stratton deve atingir US$ 30 milhões este ano. A companhia agora tem aproximadamente 150 corretores. Belfort, que ganha mais de 50% dos lucros da Stratton, deve ter recebido, sozinho, US$ 3 milhões no ano passado.

Os clientes de Belfort, por outro lado, nem sempre compartilharam desta prosperidade. Um ano atrás, antes mesmo dos consumidores começarem a prestar queixas sobre a empresa, a SEC (Securities and Exchange Comission) passou a investigar as práticas de vendas e transações da Stratton Oakmont. Diversas intimações foram emitidas para ex-corretores da companhia. Belfort confirma a investigação e diz que a empresa está cooperando totalmente.

Nascido no Queens e filho de dois contadores, Belfort se formou em biologia pela American University. Após falhar no negócio de carnes, ele aprendeu o negócio de corretagem de ações em uma sucessão de corretoras – L.F. Rothschild, D.H. Blair e F.D. Roberts Securities. Seu primeiro trabalho após graduação aconteceu na Investors Center, uma corretora de penny stocks com 850 funcionários, onde ele começou a trabalhar em 1988 e que foi fechada pela SEC um ano depois.

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Em 1989, Belfort se uniu a Kenneth Greene, 23, que trabalhava no Investors Center e que, ocasionalmente, dirigia um dos caminhões de carne de seu antigo negócio. No começo daquele ano, os amigos abriram um escritório em uma concessionária de carros no Queens, montando ali uma franquia da Stratton Securities, uma corretora de segunda linha. Em 5 meses, Belfort e Greene ganharam comissões o suficiente para comprar toda a Stratton por aproximadamente US$ 250 mil. Como braço direito de Belfort, Greene tem uma participação de 20% na Stratton Oakmont.

Para empurrar as ações para o clientes, Belfort contratou o mesmo tipo de jovens vendedores motivados que dirigiam seus caminhões de carne. Ele ensinou a eles sua confiável técnica, o “canto da Kodak”. Isto é, a primeira opção oferecida não é um tipo de papel desconhecido, mas uma blue chip, normalmente a Kodak. Apenas depois dos investidores aceitarem as blue chips que os analistas de Belfort oferecem os lixos com maior margem. Um ex-corretor da Stratton lembra do lema de Belfort: “cortem-lhe os pescoços, não os deixem desligar o telefone”.

Rapidamente, os funcionários de Belfort passaram a idolatrá-lo. Um corretor de 28 anos falou que saiu de um trabalho em que colocava carpetes para ganhar comissões de US$ 100 mil em seu primeiro mês, chegando a US$ 800 mil no primeiro ano dele. Metade disso fica com ele. Em média, os analistas da Stratton Oakmont fazem em torno de US$ 85 mil por ano.

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Parecendo uma versão mais jovem do grande vendedor de penny stocks de Nova Jersey, Robert Brennan, Belfort diz que está ajudando seus clientes a investir no futuro dos Estados Unidos. “Para mim, o mais importante é se envolver com empresas com fundamentos sólidos, que ganhem dinheiro”, afirma.

Ventura Entertainment Group é um bom exemplo do tipo de mercadoria que a Stratton Oakmont vende. Produtora de filmes para TV localizada em North Hollywood, Califórnia, a Ventura é a sucessora de uma empresa que abriu o capital em 1988 sem nenhuma perspectiva. Belfort começou a vender ações da Ventura praticamente em de seu primeiro dia, e no ano passado ajudou a subscrever uma oferta secundária da companhia. Na data da oferta, a Ventura vinha de um ano com perdas de US$ 455 mil, com receita de US$ 3 milhões.

A pessoa por trás da Ventura é Harvey Bibicoff, 52, cuja empresa anterior era a vendedora de elestrônicos Discovery Associates. Sob seu comando, a empresa, agora chamada de Leo’s Industries, registrou grandes perdas.

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O jogo de Belfort é mais do que colecionar comissões e taxas de subscrição. Veja a oferta secundária da Ventura, por exemplo. Ano passado, a Stratton Oakmont vendeu 400 mil units da companhia (uma ação e uma opção de venda) por US$ 12 cada. As ações saltaram para US$ 15, e Belfort disse para seus corretores para rapidamente comprarem de seus clientes de volta suas opções por US$ 1 cada, enquanto eles continuavam a empurrar os papéis para as pessoas. Em alguns meses, Belfort se desfez da maioria de suas opções para investidores por US$ 10 – um lucro de 900%. O preço atual das ações da Ventura (após uma divisão das ações de 2 para 1): US$ 0,63. Cinicamente, Belfort considera a Ventura um bom investimento, mas “um investimento só dura por algo tempo”.

Há também o caso da Nova Capital (agora chamada de Visual Equities), uma companhia de investimentos controlada por Alvin Abrams, 56, também presidente da First Philadelphia Corp, uma empresa especializada em abrir o capital para empresas que terão para ações de segunda linha. – um homem cujo passado inclui repetitivas multas da SEC e da National Association of Securities Dealers, nos anos 1960. Em 1989, Belfort adquiriu diversas opções da Nova por US$ 1 cada. Ele exerceu essas opções por valores entre US$ 2,50 a US$ 2,75 e vendia as ações a US$ 5 cada. Os corretores da Stratton continuavam a recomendar os papéis. O preço dos ativos subiram para US$ 9. Enquanto as ações disparavam, Belfort exercia mais opções e vendia seus papéis. (Os ativos desde então caíram para US$ 3.) De acordo com uma estimativa, essas movimentações fizeram com que a Stratton ganhasse US$ 10 milhões nos últimos dois anos.

Muitas das ações recomendadas pela Stratton Oakmont – incluindo DVI Financial e Ropak Laboratories – tiveram fortes quedas nos últimos meses após as investigações da SEC aumentarem. Mas, aproveitando seus movimentos com as opções, Belfort não se mostra disposto a usar o capital de sua companhia para ajudar esses papéis. Como um Robin Hood às avessas, que pega dos ricos e dá para si mesmo e para seus corretores, Belfort justifica seu recorde desta forma:

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“Estamos contadando investidores de alta renda. Eu não poderia viver comigo mesmo se estivesse fazendo negócio com quem ganha US$ 50 mil por ano, eu estaria tirando o dinheiro da escola de seus filhos.”

Com quase 30, Belfort parece que conseguiu sucesso. Ele dirige uma Ferrari Testarossa de US$ 175 mil, e diz que está curtindo a vida, enquanto a Stratton diversifica seus negócios. Recentemente, por exemplo, ele comprou uma opção de compra de 15% de participação na Judicate, uma companhia de arbitragem com capital aberto situada na Filadélfia. A Judicate – que em 1990 teve perdas de US$ 814 mil e receita de US$ 1,9 milhões – chamou atenção no último verão quando conseguiu um acordo com a NASD para resolver disputas entre corretores e clientes. Do jeito que as coisas vão, Belfort vai precisar de toda a ajuda possível para lidar com os clientes insatisfeitos da Stratton Oakmont.