Com manutenção de estímulos em US$ 85 bilhões, Fed está adiando o pior?

Analistas acreditam que autoridade monetária norte-americana tem receios para iniciar redução de estímulos em meio ao impacto nos mercados globais

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A manutenção do programa de estímulos de US$ 85 bilhões mensais pelo Fomc (Federal Open Market Commitee) animou os mercados brasileiro e norte-americano na sessão passada, fazendo com que as bolsas registrarem um forte rali.

Os mercados não esperavam pela manutenção dos estímulos, e sim por uma redução, mesmo que moderada, entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões no programa de compras mensais; assim, o tom “dovish” (ameno) ajudou a impulsionar as bolsas. As dos EUA, por exemplo, chegaram a atingir máximas históricas.

Contudo, conforme destacou artigo do Market Watch desta quinta-feira, com a taxa de desemprego elevada e com a continuidade da política acomodatícia, que deve ser adiada para outubro ou até dezembro – o presidente do Fed, Ben Bernanke, chegou a cogitar que a decisão possa não ocorrer este ano – o Fomc pode estar definindo o mercado norte-americano para uma correçao ainda maior. E afirma que, ao longo dos últimos anos, quando a autoridade monetária reduziu seus programas ao longo dos anos, as bolsas caíram. 

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Por outro lado, outras sinalizações podem levar a uma baixa das bolsas norte-americanas: a eleição alemã no final de semana, enquanto o impasse em relação à elevação do teto da dívida aumenta. Caso a elevação do teto da dívida não ocorra, o governo dos EUA pode ficar sem dinheiro para pagar as suas obrigações em meados de outubro, o que pode levar a uma crise semelhante à registrada em agosto de 2011, levando a uma forte baixa das ações. 

No entanto, as perspectivas de melhora econômica estão aumentando e o investimentos nas bolsas norte-americanas parece cada vez mais atrativo. Assim, o artigo do Market Watch destaca que pode haver um rali, seguido por uma volatilidade e correção de lucros de 10% ou mais. Porém, os investidores irão perceber que o programa de redução de estímulos não é o “fim do mundo” e vão comprar ações novamente. 

Ainda assim, o artigo destaca que é preciso ter cautela, não importa o que aconteça nos próximos meses, destacando que a decisão da véspera só adia as decisões que os grandes investidores têm que fazer nos mercados acionários. 

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Fed ainda não pode declarar vitória
Mohamed El-Erian, fundador da Pimco, destacou que a manutenção do programa de estímulos pelo Fed sinaliza que que a autoridade monetária norte-americana segue preocupada com a recuperação econômica e a volatilidade dos mercados. 

“[A manutenção do programa] Sinaliza mais que a preocupação contínua dos EUA sobre o crescimento lento, alta taxa de desemprego e os riscos com o Congresso. Também sinaliza a preocupação sobre o aumento da volatilidade nos mercados que pode minar o crescimento, a criação de empregos e a estabilidade financeira global – preocupações estas que não são difíceis de se dissipar, dadas as diferentes funções de reação da economia e dos mercados”.

Assim, El-Erian destaca que o adiamento do “tapering” – redução de estímulos – somente “atrasou” o que os mercados continuam esperando que aconteça. E isso não irá alterar as projeções para a economia em qualquer fundamento apesar dos seus impactos nos mercados financeiros. Na véspera, o Dow Jones atingiu pontuação máxima histórica, logo após o anúncio do Fed. Portanto, avalia El-Erian, a autoridade monetária precisa monitorar mais cuidadosamente as reações nacionais e internacionais, especialmente aquelas com grandes efeitos. 

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Assim, aponta, o maior desafio do Fed não é decidir qual é o mês ideal para iniciar a redução do QE3, e sim equilibrar a normalização da política monetária com a inclinação dos mercados de mudar rapidamente dependendo das políticas adotadas. 

Enquanto isso, os economistas da First Trust Advisors, Brian Wesbury e Robert Stein, afirmam que o QE3 não está lidando com as causas da fraqueza econômica uma vez que a atividade norte-americana não está crescendo forte por causa do grande peso do governo. 

“Gastos, regulamentação e impostos tornaram-se um peso maior na economia – um cobertor molhado sobre a recuperação que o Fed não pode compensar”, apontam os economistas. Por outro lado, eles apontam que a boa notícia é que os empresários não desistem. “Só podemos esperar que o Fed não estrague o que resta de inovação e criatividade ao criar muita inflação”, avaliam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.