Com alta do dólar, lucro nos balanços do 2º tri tem que ser deixado de lado

Especialista aponta que o interessante nessa temporada é se ater aos indicadores de geração de caixa, como o Ebitda, que mostrará com mais clareza a real situação financeira

Paula Barra

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SÃO PAULO – Em épocas de divulgação de resultados trimestrais, é comum vermos investidores iniciantes e com menos vivência de mercados atentarem suas análises ao lucro – ou prejuízo – líquido que a companhia a qual ele é acionista teve durante o período. No entanto, essa avaliação focada apenas na última linha do demonstrativo de resultado terá que ser deixada nesta temporada do 2º trimestre devido ao “efeito câmbio”.

Empresas dependentes de exportação e as que possuem a maior parcela de suas dívidas atreladas ao dólar deverão ter seus balanços avaliados com maior profundidade no período referente a abril e junho, trimestre em que o dólar apresentou um forte salto. Entretanto, a última linha da DRE não traduzirá com tanta clareza a saúde das companhias durante estes 3 meses, aponta César Lauro, responsável pela área de gestão de risco da Capitânia. 

No período, o dólar experimentou um salto de 10,4% em relação ao real, passando de R$ 2,02 no final de março para R$ 2,23 no último dia de junho. O movimento, que pode ser traduzido como benéfico para grandes exportadoras, como empresas do setor de siderurgia, mineração e de papel e celulose, vai trazer também um forte efeito colateral para o lucro, em função das dívidas atreladas à moeda norte-americana.

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“É esperado um forte impacto nas empresas que têm passivos em moeda estrangeira. Sempre que há uma valorização do dólar (frente ao real) vemos isso, dado que a própria composição da economia brasileira é mais voltada à exportação, especialmente nas empresas de commodities, que trabalham com dívida cambial”, disse Lauro.

Primeira vítima
O primeira vítima desta temporada foi a Fibria (FIBR3), que divulgou balanço na última terça-feira (24). A empresa, do setor de papel e celulose, mostrou prejuízo líquido de R$ 593 milhões, ante perda de R$ 524 milhões no mesmo período de 2012. O rombo, entretanto, deve-se, em parte, ao resultado financeiro, que ficou negativo em R$ 1,162 bilhão, impactado pelo efeito da valorização do dólar sobre a dívida no valor de R$ 650 milhões. 

Segundo Lauro, o mais interessante é se ater ao Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das companhias, que tende a ser mais confiável do que o lucro líquido em momentos de forte variação cambial. Por isso, explica, muitas analistas devem deixar a última linha do balanço um pouco de lado neste período, descontando o impacto do câmbio no endividamento das empresas. 

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Outras companhias devem seguir exemplo da Petrobras…
Como forma de escapar desse efeito, a Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou que, desde meados de maio, está realizando contabilidade de hedge. Com isso, é esperado que a empresa reduza suas perdas financeiras em cerca de R$ 4,5 bilhões, o que deve contribuir para que a companhia deixe de registrar prejuízo para apresentar lucro líquido no período.

Essa operação, segundo Lauro, ajuda as empresas a apresentar melhor seu balanço. Na prática, o hedge permite que a empresas reduzam impactos provocados por variações cambiais em seus resultados periódicos, desde que gerem fluxos de caixa futuros em moeda de outro país que se equivalham. Assim, no caso da Petrobras, 70% do total da dívida líquida exposta à variação cambial vão ser protegidos por 20% das exportações por período de sete anos. 

Para Lauro, a contabilidade de hedge anunciada pela Petrobras pode abrir caminho para que mais empresas trabalhem com essa operação, o que deve será importante, uma vez que evita esse problema crônico, de que sempre que houver forte variação cambial o lucro líquido será afetado. 

Operação ajuda a evitar “efeito sanfona” nos dividendos
Outra vantagem ainda, de acordo com ele, seria evitar um efeito sanfona nos dividendos. “Com ameaça de lucros menores, a projeção é que as empresas que não façam contabilidade de hedge entreguem menores divendendos esse trimestre também”, aponta. Já no caso da Petrobras, com a contabilidade de hedge, a expectativa é que o pagamento de dividendos também aumente, explica. 

No exemplo da Petrobras, “essa prática se reflete em um melhor desempenho econômico e operacional da empresa – através de receitas dolarizadas no longo prazo – representando assim aumento dos lucros na base anual ao invés de declínio, o que pode levar ao aumento no pagamento de dividendos para o Tesouro Nacional do Brasil, que é proprietário de 58% das ações votantes “, destaca a analista Lilyanna Yang, do UBS. O governo brasileiro é o maior detentor de ações ordinárias da companhia.

Vale ressaltar que, em fevereiro de 2013, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da companhia, a Petrobras informou que pagaria um valor menor de dividendos para os detentores de ações ordinárias menor na comparação com a proposta feita para aqueles que possuem papéis preferenciais, prevendo uma economia de R$ 3,5 bilhões com a medida. Os dividendos das ordinárias passaram a ser de R$ 0,47 por papel ON e de R$ 0,96 por PN.