As 10 notícias que mudaram a cara do mercado no 1º semestre de 2013

Risco de corte do rating brasileiro, sinalização de retirada de estímulos nos EUA e desaceleração na China foram um dos principais "drivers" para o mercado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O primeiro semestre acabou, mas o mercado sentirá por muito tempo os acontecimentos que marcaram e definiram novos rumos para a política e economia no período.

No radar, tanto as notícias desapontadoras para o crescimento econômico brasileiro, quanto a expectativa para a redução do programa de estímulos nos EUA abalaram o mercado, assim como a desaceleração da China. No noticiário corporativo, destaque para a Petrobras (PETR3;PETR4) e para as empresas do grupo EBX.

Confira abaixo as 10 notícias que abalaram o mercado neste primeiro trimestre. 

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1 – Brasil: PIB fraco e inflação crescente
No noticiário brasileiro, os primeiros três meses para o Brasil não foram nada bons, conforme apontaram os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados no final de maio. Os números do PIB (Produto Interno Bruto) apontaram para forte desaceleração no primeiro trimestre de 2013, registrando alta de 0,6% no primeiro trimestre de 2013 na comparação com o quarto trimestre do ano anterior, com o consumo e a indústria decepcionando. 

Por outro lado, a inflação continuou mostrando resiliência, o que fez o Copom (Comitê de Política Monetária) elevar a Selic em 0,5 ponto percentual na última reunião, do dia 29 de maio, apesar da pressão frente ao fraco crescimento econômico do País. Com isso, a Selic passou para 8% ao ano e as estimativas apontam para que a taxa básica de juros suba ainda mais nos próximos encontros – a equipe do BTG Pactual, por exemplo, revisou recentemente sua projeção de Selic para 2013, elevando de 8,75% para 9,5% ao ano.

2 – S&P coloca rating do Brasil em perspectiva negativa
Por conta da política fiscal brasileira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s iniciou o processo para rebaixar a nota brasileira no início de junho, ao modificar a nota brasileira de estável para negativa. Isso indica que a agência de classificação de risco pode rebaixar a nota nos próximos dois anos. 

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Por enquanto, a nota foi mantida em BBB e será rebaixada se o crescimento econômico não se fortalecer e os resultados fiscais piorarem. Além disso, o Brasil vem perdendo credibilidade por conta de sua política econômica, com sinais de que o País tem uma habilidade cada vez menor de resistir a um choque externo.

Após a S&P, as outras duas principais agências de classificação de risco do mundo – Moody’s e Fitch Ratings – anunciaram que poderiam revisar a perspectiva para o País. 

3 – Onda de protestos e os efeitos na economia e na Bolsa
Em meio ao cenário de descontentamento nacional e com a revolta da população frente ao mau uso dos gastos públicos e com a alta de preços das passagens de ônibus pelo Brasil, iniciou-se no País uma onda de protestos.

Além das tarifas de ônibus, as reinvidicações também se estenderam para a melhoria do transporte público em geral e em relação ao pagamento de altos impostos sem uma contrapartida na melhoria dos serviços, dentre outros temas.

Desde então, os governos, tanto da esfera federal, quanto estadual e municipal vêm buscando atender às reivindicações que vieram das ruas. Com isso, diversos municípios, com destaque para São Paulo e o Rio de Janeiro, reduziram as passagens de ônibus, com o governo avaliando ainda projetos para baratear a passagem para este tipo de transporte em todo o País. 

A pressão se estendeu em outras esferas, com os governadores do Paraná e de São Paulo sinalizando o cancelamento dos reajustes tarifários para, respectivamente, o setor elétrico e de pedágios. Além disso, como forma a responder às manifestações que se estenderam pelo País inteiro, a presidente Dilma Rousseff fez dois pronunciamentos entre a noite de sexta-feira e o início desta semana, prometendo reforma política para aumentar a participação popular, além de anunciar medidas para o transporte público, saúde e educação. O ponto alto se deu na última segunda-feira, quando a presidente propôs 5 pactos por responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte e educação aos 27 governadores e 26 prefeitos de capitais, o que gerou ainda mais debates entre a população.

4 – Estímulos aos EUA podem, enfim, ser retirados
Em combinação ao ambiente interno já desapontador, a perspectiva de que o Federal Reserve antecipe a redução dos estímulos, conforme foi sinalizado na última semana pelo presidente da autoridade monetária, Ben Bernanke, abalou ainda mais os mercados já fragilizados. Com isso, as bolsas dos países emergentes, que já registravam quedas, intensificaram as suas perdas com a saída de investidores estrangeiros. 

A expectativa é que um dos dois programas seja eliminado em breve, ainda mais levando em conta as expectativas mais positivas para a economia norte-americana, uma vez que o Fed acredita que a taxa de desemprego atingirá 6,5% já em 2014, e não em 2015, como previamente estipulado, abrindo espaço para a redução dos programas de estímulos. Para determinar o fim dos estímulos, o Fed deverá levar em conta as suas duas funções: garantir o máximo de emprego com inflação próxima de 2%. 

5 – China “pisa no freio” e abala mercados com risco bancário
O cenário interno, já não muito promissor, foi bastante afetado pela China, que apresenta desaceleração no seu crescimento. Os dados econômicos chineses, que vêm se apresentando mais fracos no primeiro semestre deste ano, afetam de forma direta o Brasil, uma vez que o País é um grande exportador de commodities para o gigante asiático e se beneficiou com a forte demanda por produtos nacionais nos últimos anos. Após crescer cerca de dois dígitos durante anos, as expectativas mais otimistas apontam para alta de cerca de 7,5% do PIB para o gigante. 

A China vem preocupando os investidores por todo o mundo, ao apontar dados de indústria e varejo em patamares considerados baixos. Além disso, o risco do setor bancário do país é mais uma fonte de preocupação para os investidores, com o alerta se intensificando logo após o Banco Central da China afrouxar seu aperto monetário, mas deixar claro que os dias de recursos baratos ilimitados acabaram e que os bancos precisam desempenhar melhor a tarefa de administrar o dinheiro e seus empréstimos.

A China possui forte peso de “shadow banks”, que são instituições sem regulamentação bancária, que acabam não tendo normas para respeitar e geram investimentos de risco, uma vez que o investidor ou correntista não possui nenhuma garantia. Com o BC se distanciando do setor, as taxas de juros sobre empréstimos subiram muito e os recursos para investimentos caíram.

Quem sente na pele isso é a Vale (VALE3, VALE5), que tem a China como seu principal destino de exportação. Embora o dólar tenha disparado nas últimas semanas, a mineradora viu suas ações seguiram tendência oposta, tendo alcançado recentemente seus menores patamares desde 2009.

6 – Fuga de investidores faz dólar disparar
Em meio à saída de capital estrangeiro do país com os sinais de melhora da economia norte-americana e a possibilidade de retirada do programa de estímulos pelo Federal Reserve, associado ainda ao cenário menos atrativo do mercado brasileiro, o dólar atingiu os R$ 2,25 no dia 20 de junho, bem distante da faixa entre R$ 2,00 e R$ 2,05 que a moeda oscilou no começo de 2013.

Desta forma, o Banco Central passou a atuar no mercado durante o mês para diminuir a forte valorização do real, mas não foi o suficiente para conter a alta da moeda no período. De abril até sua máxima em junho, a moeda norte-americana registrou valorização de mais de 12%. 

7 – Ouro registra menor patamar em três anos
Conhecido por ser um investimento bastante defensivo e que atinge expressivos patamares em épocas de crise, o ouro registra uma forte queda neste trimestre, com desvalorização de cerca de 23% e atingindo o menor patamar em três anos. 

O ápice do movimento de queda ocorreu em abril, quando o movimento das cotações da commodity chegaram a despencar, em meio a conjunção de fatores macroeconômicos.

O uso das reservas de ouro do Chipre, que passa por uma crise financeira, para serem usados como pagamento da dívida do país foi um dos fatores-chave para a queda. O Chipre tornou-se neste ano o quarto país da zona do euro a precisar de resgate de credores internacionais e, diferentemente de outros acordo, o país forçou os correntistas a arcarem com os custos de recapitalização dos bancos expostos à endividada Grécia. 

Adicionalmente, o preço do metal foi penalizado pela diminuição significativa da procura de ouro pelos indianos no mercado. No início do ano, o governo da Índia aumentou os impostos sobre a importação de ouro, o que provocou uma redução de 27% da demanda indiana pelo produto.

Apesar das fortes quedas ocorrerem no mês abril, o ouro continuou registrando fortes desvalorizações em maio e em junho, em meio aos temores de que o Federal Reserve suspenda a sua política de estímulos. 

8 – Petrobras I: dividendos diferentes para ON e PN
Após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2012, em fevereiro de 2013, a Petrobras anunciou dividendos dividendos diferentes para cada classe de ativos. O dividendo dos papéis ON foi muito menor do que os dos PN – R$ 0,47 e R$ 0,96 por ação, respectivamente, o que fizeram os ativos PETR3 despencarem no pregão do dia 5 de fevereiro.

Historicamente, esse pagamento era realizado de forma uniforme entre os papéis ON e PN; entretanto, em meio à busca por uma maior eficiência operacional e com a maior necessidade de caixa da companhia, a gestão da companhia optou por diminuir os valores dos dividendos.

9 – Petrobras II: companhia impedida de operar
No dia 14 de junho, foi divulgado ao mercado o cancelamento da certidão de débito da Petrobras (PETR3;PETR4), o que impediria a companhia de importar, exportar e até participar das rodadas do pré-sal

A medida foi causada por uma dívida de R$ 7,3 bilhões em valores atualizados junto à Receita. Esse montante seriam relativos ao não recolhimento do Imposto de Renda Retido na Fonte sobre remessas para o exterior em pagamento de plataformas petrolíferas móveis, de 1999 a 2002.

Dentre as afirmações do Ministério Público Federal, uma em específico chamou a atenção do mercado, ao destacar que a Petrobras poderia quebrar” caso tivesse que pagar a sua dívida.

Entretanto, no mesmo dia 14, o ministro do STJ (Supremo Tribunal de Justiça), Benedito Gonçalves, reformulou a decisão tomada na sexta-feira eautorizou liminarmente a Petrobras (PETR3PETR4) a não pagar a dívida de R$ 7,39 bilhões com a Receita Federal em razão de débitos de imposto de renda.

Vale ressaltar que, na quinta-feira (13), o pedido de cancelamento de débito havia sido recusado por Gonçalves, alegando que aguardava julgamento de outro recurso da empresa no TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região. No dia seguinte, a decisão do tribunal foi publicada, com o vice-presidente do TRF-2 negando o pedido da empresa.

10 – Fitch rebaixa OGX a nível considerado lixo
Assim como em 2012, mais uma vez o noticiário esteve bastante movimentado para as ações do grupo EBX, que sofre com a falta de confiança do mercado em relação à entrega dos seus projetos.

Em meio à crise enfrentada pelas empresas de Eike Batista, ganhou destaque no mercado a parceria do empresário com o empresário André Esteves, do BTG Pactual (BBTG11) acordada em março para cooperação estratégia de negócios, que envolve aconselhamento financeiro, linhas de crédito e futuros investimentos, para projetos estruturantes do Grupo nos diversos setores de atuação da companhia.

Entretanto, apesar das ações do grupo EBX registrarem certo otimismo após a parceria, os problemas continuaram, sendo que os ativos da OGX Petróleo (OGXP3) foram rebaixados para nível considerado como lixo pela agência de classificação de risco Fitch, considerando um cenário de quase calote da companhia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.