“É um vexame a pouca importância que o brasileiro dá para a bolsa”

Presidente de conselho da FecomércioSP acredita que Bill Gates não teria tido sucesso caso fosse brasileiro

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Não é por acaso que a economia dos Estados Unidos é a maior do mundo: eles sempre formaram o país mais engajado para criar uma estrutura que permitisse o desenvolvimento das empresas, fossem elas pequenas, médias ou grandes. E conseguiram isso com o acesso ao mercado de capitais, muito mais simples do que a condição nacional. 

“A facilidade para entrar no mercado de capitais é tido como a razão de sucesso dos EUA. Foi assim que o Bill Gates (fundador da Microsoft e segundo homem mais rico do mundo) e vários outros empresários enriqueceram e suas empresas prosperaram”, diz Paulo Roberto Feldmann, presidente do Conselho da Pequena Empresa da FecomércioSP e professor doutor da USP (Universidade de São Paulo), em entrevista ao Portal InfoMoney.

Para Feldmann, um empresário como ele provavelmente não teria tido sucesso se fosse brasileiro, não seria tão rico. “É um vexame a pouca importância que o brasileiro dá à bolsa, ao mercado de capitais”, ressalta. Para ele, fortalecer a economia nacional precisa, necessariamente, do facilitamento do acesso das pequenas e médias empresas ao mercado de capitais – e por isso, a Fecomércio optou por aderir ao PAC-PME (Programa de Aceleração Crescimento – Pequenas e Médias Empresas).

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“Os pequenos empresários que prosperaram nos EUA, como Bill Gates, Steve Jobs, não teriam as mesmas oportunidades se fossem brasileiros. As empresas lá vão para a bolsa, para atrair sócios e o capital necessário para crescer”, diz. Tanto Gates quanto Jobs iniciaram suas empresas praticamente em suas garagens, com pouco capital disponível.

Por lá, costuma-se dizer que é possível montar uma empresa com apenas uma idéia na cabeça – justamente pelo acesso fácil ao mercado de capitais. “Por aqui, a empresa só cresce se for de uma pessoa rica, que bota o próprio capital, ela não vinga. Os Estados Unidos são cheios de empresas que surgiram do nada, e isso é uma coisa que a gente deveria copiar aqui no Brasil”, avalia.

Ele acredita que a taxa de poupança interna nacional só é baixa pela falta de cultura em investir em ações, que dinamizaria a economia nacional. A bolsa brasileira, a BM&FBovespa, conta com muito menos opções que outras bolsas, tanto de países desenvolvidos quanto de emergentes – além de atingir uma parcela muito menor da população. “Seria muito bom que criássemos essa mentalidade por aqui, nossa economia poderia ganhar mais dinamismo”, avalia o doutor.

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É preciso que as empresas se livrem dos bancos
A entrada das pequenas empresas na bolsa, uma das propostas da PAC-PME, poderia resolver a questão da capitalização desse tipo de empresa. A alternativa por aqui é muito cara, e complicada: tomar empréstimo em bancos. “Não existem recursos, lá fora os bancos emprestam à taxas menores para as PMEs e por aqui é o contário. É muito caro. A pequena empresa precisa se tornar independente”, alerta.

Nem mesmo a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) consegue resolver, ou amenizar essa situação – e suas conversas com os bancos não tem dado muitos frutos, não conseguindo resolver a situação. “O banco considera que o risco é mais alto, e por isso quando ele empresta, é a um juro mais alto”, diz Feldmann. 

Por isso, existe a necessidade de que se facilite a entrada ao mercado de capitais para as PMEs no Brasil – justamente para impulsionar o crescimento dessas empresas.

“Nos EUA, está cheio de empresas que cresceram do nada justamente por isso. Aqui a empresa cresce só se ela é fundada por alguém muito rico, que bota o próprio capital dele na execução”, diz.

Políticas públicas que favoreçam empresas pequenas e médias
A função do conselho da FecomércioSP do qual Feldmann faz parte é brigar para que as PMEs tenham melhores condições para se desenvolver – uma tarefa que ele destaca não ser fácil. “A gente tem que convencer, temos que conscientizar alguns dirigentes, como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o Banco Central e a Receita de que um mercado de capitais forte seria bom”, destaca. 

Para ele, as dificuldades são frutos da pouca vontade que os políticos possuem em resolver os problemas dessas empresas. “A culpa é da legislação eleitoral brasileira, que faz com que qualquer político para se eleger precise de bastante dinheiro. E isso vem das grandes empresas, já que a pequena empresa não tem como contribuir com a campanha eleitoral”, afirma o doutor pela USP, lembrando que os países com a melhor legislação para as pequenas empresas. 

Um freio nas grandes empresas?
Feldmann também destaca que a briga é desigual no País. “Existe uma concentração imensa de poder nas grandes empresas, o que a gente tenta mudar há décadas aqui e não consegue. Os países avançados perceberam isso e colocaram um freio nas grandes empresas, dando mais poder para as pequenas e médias”, avisa. 

Mesmo com essa concentração de poder político e econômico, principalmente no que tange à formação de preços, as grandes empresas não são a “engrenagem” da economia nacional: 99% são pequenas ou micro, e são donas de 20% do PIB (Produto Interno Bruto). “Mesmo assim, essa é uma das taxas mais baixas do mundo, comparável somente com os países mais pobres”, diz Feldmann. 

Para efeito de comparação, as pequenas empresas da Itália são responsáveis por 43% de todas as exportações do país, enquanto a taxa nacional é de 1%. “As pequenas empresas só conseguem competir com as grandes quando formam consórcios, isso é muito comum lá fora. Aqui ainda precisamos de leis que estimulem isso, que melhorem a situação do mercado de capitais, mas nada disso é fácil”, finaliza.