Ação da WEG (WEGE3) está cara, mas seguirá surpreendendo? Divergência continua no mercado após (mais um) resultado forte

Enquanto Itaú BBA e JPMorgan reforçaram motivos para ter visão positiva após o 4T22 apesar dos múltiplos, BBI e Goldman seguem cautelosos

Lara Rizério

WEG (Divulgação: Linkedin)

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Mais um trimestre positivo foi registrado pela WEG (WEGE3) ao divulgar seus números de fechamento de 2022 na semana passada, mostrando uma ótima combinação entre rentabilidade e geração de caixa de uma das maiores fabricantes de equipamentos elétricos do mundo e que guia uma alta de 32% de suas ações nos últimos doze meses.

A boa carteira de pedidos segue suportando seus resultados, principalmente no que diz respeito aos segmentos voltados para produtos de ciclo longo, apontaram os analistas após o quarto trimestre de 2022 (4T22). O destaque ficou com os segmentos de Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais, os negócios em GTD (Geração Transmissão e Distribuição de Energia) e a forte receita na Europa, mesmo em um cenário desafiador na região. “Algo que, de certa forma, pode indicar que o cenário de custos elevados para produtores locais pode estar favorecendo o acesso da WEG a novos clientes”, destacou a Genial Investimentos em relatório após o balanço do 4T22.

Já o BB Investimentos apontou que o processo de normalização na cadeia de suprimentos globais contribuiu para a
preservação das margens operacionais em função da estabilização dos custos de matéria-prima, em especial o aço e cobre.

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Além disso, em tempos de maior aversão ao risco de crédito, no ambiente doméstico, a WEG encerrou o ano de 2022 com caixa líquido de R$ 1,4 bilhão, destacando-se entre um seleto grupo de empresas com capacidade de alavancagem financeira para capturar oportunidades em aquisições estratégicas ou até mesmo para otimizar sua estrutura de capital. Adicionalmente, a estratégia de verticalização, diversificação de produtos e presença global da WEG mitiga os riscos advindos das incertezas do cenário global, afirmam os analistas.

Contudo, a dúvida sobre se a ação está em patamares justos ou se há mais espaço para os ativos subirem seguem no radar dos analistas de mercado, que possuem as mais diferentes visões sobre WEGE3. De acordo com levantamento feito pela Refinitiv com casas de análise, de 15 casas que cobrem o ativo, a maior parte segue com recomendação de compra (9), mas um número significativo tem visão cautelosa (com 5 recomendando manutenção e 1 recomendando venda).

O Itaú BBA, por exemplo, segue com visão positiva para a ação, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e preço-alvo de R$ 44 para o ativo (alta de 11% frente o fechamento de sexta). Os analistas veem que a companhia segue como uma história atrativa de investimentos, sendo uma boa opção para investidores locais e internacionais ao oferecer uma rara combinação de uma empresa de grande capitalização, defensiva, com caixa líquido, bem administrada e exposta a tendências de crescimento atraentes e estruturais, como eletrificação e energia renovável.

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Os analistas do banco atualizaram as suas estimativas após o 4T22 e apontaram os motivos para a WEG seguir superando o mercado, ainda mais levando em conta que os resultados do período amenizaram as preocupações da casa.

Para eles, o crescimento não está em desaceleração e, sem recessão na Europa, a WEG continuou ganhando participação de mercado. O GTD internacional acelerou, enquanto o segmento solar doméstico deve ter outro ano de crescimento saudável. As margens, por sua vez, devem se acomodar em um ritmo mais lento do que o esperado (ambiente inflacionário persistente, competição favorável e um bom mix de receitas).

Assim, mantêm visão positiva para a WEG apesar do valuation, com um múltiplo de preço sobre o lucro (P/L) esperado para 2023 de cerca de 32 vezes, dado que veem possibilidade de elevação de suas estimativas por fatores como o nearshoring (desenvolvimento das cadeias produtivas para outros lugares além de China, como América Latina), além do cenário das concorrentes. Além disso, apontam a empresa como o “único nome no mercado de ações brasileiro que combina defensividade (caixa líquido, exposição ao dólar, boa administração) e exposição a tendências ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) de rápido crescimento (eletrificação, energias renováveis).”

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O cenário para o crescimento está menos nebuloso e acima do esperado. “Estamos menos preocupados com uma potencial
inflexão na trajetória de crescimento da WEG após os resultados do 4T22, visto que, ao contrário das expectativas, a Europa acelerou (…). A América do Norte manteve-se saudável no front industrial e mostrou aceleração em GTD (principalmente transmissão) e o GTD doméstico deve crescer de médio a alto dígitos em 2023, já que a Geração Distribuída ainda tem 12 meses para iniciar construção e T&D podem contribuir com crescimento adicional (principalmente leilões de transmissão)”, avalia o banco.

Os analistas do BBA também mostram menor preocupação com uma queda de margem Ebitda (ou Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) após números de 19,7% considerados impressionantes no 3T22 (e de 19,5% no 4T22). Isso dada uma combinação de ambiente inflacionário (sem desaceleração econômica) e competição favorável, preservando preços. Além disso, há um melhor mix de receita, com o GTD nacional, com margens menores, representando menos na receita total em 2023, enquanto contratos de construção devem ter maior margem.

No setor automobilístico, o cenário é positivo levando em conta seus concorrentes.  A ABB (multinacional com sede na Suíça que trabalha em tecnologias de energia e automação) apontou margens favoráveis em sua divisão de motores “impulsionadas por volumes e forte execução de preços mais do que compensando os custos mais altos”.

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Além disso, recentemente, os analistas do banco se reuniram com a equipe de Relações com Investidores da Siemens para discutir alguns pontos em comum que a empresa compartilha com a WEG. A mensagem mais relevante para a WEG é que a Siemens está se desfazendo de motores, dado o estágio mais maduro dessa indústria, aliado à estratégia mais digital da empresa. “Isso confirmou nossa visão de que as oportunidades para a WEG continuar expandindo no exterior e ganhando participação de mercado estão aumentando”, avalia o banco.

O JPMorgan manteve também recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para a ação WEGE3 após o 4T22, com preço-alvo de R$ 47 (upside de 19%). O banco não fez mudanças relevantes em suas projeções, uma vez que viu o trimestre como em linha com o esperado pelos analistas da casa.

Para os analistas, 2023 deve ser um ano relativamente mais desafiador devido à acomodação do crescimento da empresa (com bases de comparação mais difíceis e desaceleração do PIB mundial), aos ventos contrários com a reforma tributária brasileira (política de preços de transferência e discussões sobre juros sobre capital próprio) e ao prêmio da ação de 12% frente o histórico dos últimos dez anos.

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Contudo, mantêm visão positiva também de olho na defensividade da WEG no contexto brasileiro – refletindo a sua exposição ao mercado internacional (cerca de 50% das vendas). Além disso, vê capacidade para continuar a superar o crescimento consensual das estimativas, superando as projeções de crescimento anual de 15% no curto e médio prazo.

“Vale lembrar que a WEG superou o consenso de mercado para o Ebitda do 4T22 em 6%. Além disso, ao olhar para o desempenho recente do preço das ações, a ação subiu 3% no último mês versus a alta de 1% do Ibovespa, apesar do fluxo negativo de notícias sobre o impacto potencial da nova Medida Provisória sobre preços de transferência e menor crescimento para 2023 já considerados em consenso”, pontua.

Os riscos que estão no radar são uma recessão maior que a esperada neste ano, levando a margens abaixo do esperado, desaceleração do crescimento da receita por falta de de oportunidades em novas linhas de negócios como E-mobility, Industry 4.0, turbinas eólicas na Índia e T&D na América do Norte e deterioração no capital de giro em caso de problemas novos ou contínuos na cadeia de suprimentos.

Maior cautela?

Por outro lado, o Bradesco BBI segue com recomendação “apenas” neutra para WEGE3 e preço-alvo de R$ 39 para 2023 (queda de 1,26%). “Essa recomendação se deve, basicamente, ao atual valuation esticado, uma vez que as ações negociam com um múltiplo EV/Ebitda [valor da empresa sobre o Ebitda] de 24,6 vezes para 2023, 31% acima de sua média histórica”, aponta.

Apesar de seguir com essa recomendação de olho no valuation, os analistas do BBI ressaltam que, embora esperem algum impacto da desaceleração econômica na Europa, notam que a WEG tem a opção de alocar a produção entre suas plantas globais como Brasil e China. A companhia também conseguiu ganhar participação no mercado externo em um cenário de problemas da cadeia de suprimentos no ano passado, graças à sua estrutura verticalizada.

O Goldman Sachs tem recomendação ainda mais cautelosa, de venda, com preço-alvo de R$ 37,30 (queda de 6%). Os analistas destacam estarem em grande parte alinhados com o consenso Bloomberg sobre o Ebitda da empresa até 2025.

Porém, a recomendação negativa se dá uma vez que vê melhores retornos em outras opções de ações olhando para a cobertura mais ampla.

“Esperamos que o crescimento dos lucros convirja para níveis históricos em 2023-25 (entre 13% e 16%), o que implica uma desaceleração média de cerca de 37% versus a média de 2020-2022”, afirma. Além disso, vê os múltiplos da companhia negociando muito acima da média histórica, o que limita o espaço para uma nova classificação.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.