Abismo fiscal dos EUA pode ser o novo Lehman Brothers? Analistas divergem

Fracasso nas negociações inevitavelmente teria um impacto na bolsa, mas evento não pegaria o mercado de surpresa como a quebra do banco em 2008

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – A probabilidade de ocorrência do abismo fiscal nos Estados Unidos é o assunto mais chamativo para o início de 2013. O mercado tem dançado com as variações de humor dos principais líderes da maior economia do mundo: Barack Obama, presidente da República, e John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados. 

Com a probabilidade cada vez maior de que passemos pelo abismo, o mercado começa a reagir com fortes oscilações a essas ocorrências. Os analistas divergem sobre o assunto: alguns acreditam em quedas cada vez mais violentas, enquanto outros avaliam que o abismo fiscal não afetará de forma significa a bolsa brasileira. Só o tempo dirá quem está correto, ou até mesmo se o abismo fiscal ocorrerá. Mas o alerta dos pessimistas foi dado: há quem acredite que o evento pode ser similar à quebra do Lehman Brothers em 2008.

“É uma questão muito importante, o mercado tende a sofrer bastante e se ocorrer mesmo, acredito que deveremos ter uma forte pressão vendedora”, afirma Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora. Assim como em 2008 com o pedido de concordata do banco norte-americano, Pereira acredita que é capaz que a bolsa acione o “circuit breaker” (quando as negociações na Bovespa são interrompidas após o Ibovespa ter queda superior a 10% em uma única sessão) algumas vezes nos pregões subsequentes.

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“Poderemos ter um mercado de pânico, uma forte queda com efeito manada”, alerta o estrategista.

Os temores não são apenas de Pereira. “Eu acredito que o índice busque os 40.000 pontos no curto prazo, isso é muito, muito ruim”, afirma um analista que não quis se identificar. Ele salienta que na Europa já se fala que é necessário apresentar crescimento. E o abismo só deve piorar essa situação: joga pressões negativas sobre a economia mundial. 

Abismo pode não acontecer ou ser melhor que o esperado
A possibilidade mais acreditada pelo mercado, porém, é de que o abismo fiscal não venha a ocorrer. “Acho que a ocorrência do abismo é algo impensável, não trabalho com essa possibilidade”, afirma Henri Evrard, analista da Infinity Asset. Para ele, as probabilidades são muito baixas: para, isso é tão possível quanto o Brasil – um país tradicionalmente pacifista – declarar guerra a um vizinho. 

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Ele não esconde, porém, que caso isso ocorra, os efeitos serão devastadores para a bolsa brasileira, entrando para o time dos que acreditam em uma desvalorização do índice. João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos, e Leandro Martins, analista-chefe da Walpires Corretora, minimizam esse efeito.

Brugger não nega que o abismo possa trazer uma pressão vendedora, mas longe de ser que nem foi o caso do Lehman Brothers: desta vez, o evento é conhecido, ao passo que a quebra do banco norte-americano, em 2008, pegou todos de surpresa – ajudando a trazer o pânico que caracterizou à bolsa nos meses subsequentes. “Desta vez, acho que pode cair até os 55.000 pontos e por lá parar”, afirma o analista.

“Em um primeiro momento, a bolsa deve sofrer com com os temores de que os EUA vão reduzir o ritmo de crescimento, mas é possível que isso passe”, afirma. Ele lembra da possibilidade de que o governo resolva o problema até três meses depois do próprio abismo, já que o pior efeito do abismo só deve vir em março – um desligamento parcial de algumas das atuais funções do governo norte-americano. 

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Martins, por sua vez, é mais otimista e destaca que não acredita muito efeito na bolsa por conta do evento. “Estamos vendo uma pressão compradora no nosso mercado e isso não deve mudar tão”, afirma. Ele vê, atualmente, uma correlação entre a bolsa brasileira e a norte-americana, mas não é tanta para fazer o Ibovespa seguir os índices de lá para o abismo. 

Ele cita o pregão desta sexta-feira como exemplo. O pânico derrubou a bolsa na abertura, mas o índice mostrou alguma recuperação ao longo da sessão – e a maioria das blue chips encaminham-se para fechar acima do patamar que iniciaram o dia. “Podemos até ignorar o abismo fiscal por conta do fluxo de capital entrando na bolsa”, finaliza o analista.