O que a baixa das vendas da Heineken no Brasil indica sobre os resultados da Ambev?

Restrições na indústria afetaram potencialmente mais a Heineken do que a Ambev, o que impulsionou os ativos ABEV3

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Heineken, segunda maior cervejaria do mundo e dona das marcas Heineken, Tiger e Sol, divulgou seu balanço do primeiro trimestre de 2021 nesta semana. Apesar dos dados em geral positivos, os números relativos ao Brasil acabaram por mostrar que a sua concorrente, a Ambev (ABEV3) está ganhando espaço no país.

Com isso, na véspera (21), os ADRs (American Depositary Receipts, na prática, as ações da companhia negociadas na Bolsa de Nova York) fecharam com alta de 2,10%, em dia de B3 fechada por conta do feriado. Nesta quinta-feira, os ativos ABEV3 chegaram a subir 3,14% e, às 14h50 (horário de Brasília), registravam ganhos de 1,09%, a R$ 15,79.

A Heineken viu seu lucro líquido no primeiro trimestre ir a 168 milhões de euros, quase 80% maior do que no ano anterior, mas 40% menor do que o de 2019.

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Por outro lado, as vendas no Brasil, levando em conta todas as marcas de cerveja da companhia, caíram entre 4% a 6%. A Heineken não deu mais detalhes sobre o dado, afirmando apenas que opera atualmente no país com capacidade máxima, já que as marcas “premium” continuam com um desempenho superior. A marca Heineken, por sua vez, diz a empresa, cresceu cerca de 20% no mercado do Brasil.

O Credit Suisse destacou uma visão positiva para a Ambev por conta da redução nos volumes da Heineken no Brasil no primeiro trimestre. O banco aponta que a queda de volume da Heineken foi principalmente por conta de mais restrições de capacidade e o reajuste de preços assumidos em 2020.

Em relatório no início de abril, o Credit ressaltou que a Heineken foi provavelmente mais impactada do que a Ambev pelos problemas na cadeia para abastecimento dos estoques com garrafas de vidro. Mesmo com uma possível desaceleração do consumo de cerveja em meio à queda da renda familiar mais baixa e menores subsídios governamentais, associados ainda a um preço mais alto da cerveja, o Credit avaliou que a indústria não conseguiu construir estoques de garrafas de vidro, o que fez com que as restrições de capacidade continuassem nos primeiros meses de 2021.

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A Ambev, por sua vez, não sofreu tanto em meio a essas restrições por conta de uma maior integração vertical – por volta de 44% das necessidades de garrafas de vidro foram fornecidas internamente em 2020 –  e por contratos sólidos com grandes fornecedores.

O Bradesco BBI ressaltou que os resultados da Heineken não mudam a visão em relação aos números da Ambev, a ser divulgado em 6 de maio.

Isso justamente porque as restrições de capacidade da Heineken eram já amplamente esperadas pelo mercado e sustentam a visão de estimativa dos volumes de cerveja da Ambev no país. A expectativa é de alta de 15% no primeiro trimestre dos volumes vendidos pela Ambev na comparação anual (o que acreditam estar amplamente em linha com as expectativas do mercado). A recomendação do BBI para o ativo segue neutra, com preço-alvo de R$ 15,50 por papel (uma queda de 0,77% frente o fechamento da última terça-feira).

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O BBI projeta lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) consolidado de R$ 4,9 bilhões, um pouco acima do consenso, enquanto a projeção é de lucro líquido de R$ 2,5 bilhões. Assim, com a expectativa de alta já nos volumes de cerveja vendidos, os analistas avaliam que o resultado não deve ser um catalisador para os papéis.

O Morgan Stanley também aponta que já esperava um aumento dos volumes de vendas de cervejas da Ambev no Brasil (alta de 18% na comparação anual), não vendo o balanço como um catalisador.

Ao mesmo tempo, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a produção total da indústria de bebidas alcoólicas cresceu apenas 2% em janeiro e fevereiro, reforçando a visão de que a participação da Ambev versus os concorrentes não era mesmo uma surpresa.

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A queda no volume total da Heineken no primeiro trimestre no Brasil foi impulsionada pela performance mais fraca das marcas de valor; no entanto, isso pode ser explicado por restrições de capacidade local.

Assim, apontam Ricardo Alves e Victor Tanaka, analistas do Morgan, dependendo da rapidez com que a Heineken e Petrópolis conseguirem aumentar sua capacidade e responder os problemas de logística / cadeia de suprimentos / matéria-prima, a expectativa é de que o cenário competitivo possa se intensificar no país. Os analistas do Morgan estão ainda menos otimistas, possuindo recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado), com preço-alvo de R$ 14 para os ativos ABEV3. O preço-alvo é 10% menor em relação ao fechamento de terça-feira.

Os analistas estão bastante divididos sobre a companhia: de acordo com dados da Refinitiv, seis casas de análise possuem recomendação de compra, cinco possuem recomendação neutra, enquanto três têm recomendação equivalente à venda para o papel ABEV3.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.