A enxurrada de R$ 200 bi que pode vir para o Brasil nos próximos meses

Os fundos globais têm aumentado a sua participação no Brasil - mas ainda há espaço para muito mais

Paula Barra

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Em meio a melhor percepção com a economia brasileira e a crise política mais atenuada, os investidores estrangeiros passaram a olhar mais para o Brasil, o que também impulsionou a forte alta da Bovespa nos últimos meses. Contudo, a expectativa é de um fluxo ainda maior está por vir.  

De acordo com os analistas Carlos Siqueira e Bernardo Teixeira, do BTG Pactual, embora a alocação de fundos globais para o Brasil tenha aumentado consistentemente nos últimos meses, esse aumento ainda é marginal. Para eles, há ainda uma entrada de fluxo adicional de cerca de R$ 200 bilhões, caso a alocação de fundos locais e estrangeiros em ações em volte aos níveis de 2014.

Isso porque comparada a alocação atual de fundos globais, destinados aos países emergentes, BRICS e América Latina contra a alocação de outubro de 2014 (logo antes da eleição presidencial que reelegeu Dilma Rousseff), 2012 e 2010, os níveis ainda estão muito inferiores, comentaram. Ou seja, se as alocações voltassem aos patamares de outubro de 2014, eles estimam que o potencial entrada de fundos estrangeiros poderia chegar a R$ 93 bilhões (ou R$ 234 bilhões, usando os níveis de 2012).

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Atualmente, os fundos globais têm 0,79% em ações brasileiras; os fundos destinados a emergentes, 8,7%; os fundos BRICS, 19,5%; e expostos a América Latina, 53,7%. Ou seja, bem abaixo do registrado em 2012, quando esses patamares estavam em 2,3%, 16,3%, 31,1% e 65,5%, respectivamente.

Selic mais baixa = fluxos maiores
Além disso, eles comentam que, olhando para os fundos locais, a alocação em ações também segue bastante baixa. Em agosto, o volume de ações sob gestão estava em apenas R$ 278 bilhões (8,9% do total), ou R$ 30 bilhões a mais do que os níveis de janeiro, mas é esperado mais, disseram. “Com cenário de queda de juros finalmente se materializando, esperamos que a alocação em ações por parte dos fundos locais possa acelerar”. As estimativas do BTG apontam para entradas adicionais de cerca de R$ 100 bilhões, caso a alocação de fundos locais em equities voltem aos níveis de 2014.

“Selic menor = maior potencial”, apontam os analistas do BTG, o que pode impulsionar a entrada de fundos locais em ativos brasileiros na Bolsa. Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) cortou a Selic em 0,25 ponto percentual para 14% ao ano, indicando no comunicado que o ajuste pode ser mais gradual do que o mercado vinha anteriormente antecipando. 

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Apesar do Copom ter frustrado a expectativa de boa parte do mercado sobre o ritmo de cortes, a expectativa é de que a taxa de juros siga em baixa e que impulsione o mercado de ações. Em relatório, o economista-chefe e estrategista do Bank of America Merrill Lynch David Beker aponta para um ciclo de cortes na Selic de 450 pontos-base nos próximos dois anos, enquanto o mercado está precificando um corte de apenas 325 pontos-base. 

“Na nossa visão, o início de um ciclo de corte de juros é um catalisador para o mercado de ações, dada a perspectiva de crescimento do PIB e de fluxo para dentro do País. Contudo, uma recuperação do crescimento segue incerteza e ainda é um risco negativo. O consenso aponta para um crescimento de 20% do lucro por ação das empresas em 2017 e 2018, o que só seria possível com um crescimento mais forte”, aponta o estrategista.

Em evento realizado na semana passada, Felipe Hirai, também estrategista do BofA, destacou o mesmo cenário: uma queda da Selic pode iniciar um movimento de migração de aplicações em papéis de renda fixa para ações.

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Hirai observou que a participação dos investidores no Brasil para bolsa continua muito baixa. “O que falta para a bolsa são investidores locais comprando”, disse, acrescentando que a alocação de recursos para mercado acionário no Brasil hoje é um terço do que era a indústria de fundos em 2009, o que tenderia a melhorar com o ciclo de cortes da Selic.

 Para 2017, o estrategista do Bank Of America disse não ter ainda uma projeção oficial para o Ibovespa, considerando que o País terá alguns desafios. “Mas a gente acha que tem algumas possibilidades de os desafios serem superados, mas o cenário otimista ainda não está totalmente precificado especialmente porque boa parte do que aconteceu no mercado de ações este ano foi um movimento por conta da noção de risco e não por um movimento de melhora na expectativa de crescimento”, disse, reiterando que se de fato o crescimento voltar as ações vão continuar a mostrar boa performance. “Temos que lembrar que os brasileiros não têm ações. Então o fluxo precisa continuar a entrar para o mercado acionário”, disse Hirai durante o evento.