“A decisão foi covarde. Prevaleceu o medo dos radicais do mercado”, diz Mendonça de Barros

Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor da Quest, os sinais são inequívocos de que a recuperação está sendo travada justamente pelos juros

Estadão Conteúdo

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Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor estrategista da Quest Investimentos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central tomou uma “decisão covarde”. Segundo ele, fez um corte de apenas 0,25 ponto porcentual na Selic, a taxa básica de juros, quando tem espaço para ir 0,50 ponto, porque teme o julgamento dos analistas financeiros. “Prevaleceu o medo das críticas dos radicais do mercado financeiro”, diz ele. Para Mendonça de Barros, os sinais são inequívocos de que a recuperação está sendo travada justamente pelos juros. “O sinal claro é que a economia tentou melhorar um pouquinho e capotou sob os peso dos juros”, diz. A seguir trechos da entrevista que concedeu ao Estado:

Como o sr. avalia esse primeiro corte na Selic, de 0,25 ponto porcentual, após 4 anos?

Foi uma decisão covarde. Tem espaço para um corte de pelo menos 50 pontos.

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Por quê?

Primeiro, porque a desinflação está surpreendendo todo mundo, quer seja por razões estruturais da recessão ou por causa de reduções de preços, como o da energia elétrica. Se você fizer uma média móvel dos três últimos meses, a inflação está correndo a 4%. Mas fica todo mundo olhando 12 meses, aí vai mesmo demorar para aparecer a queda. Segundo, a gente está vendo a desaceleração de toda a atividade, dos serviços, do comércio, da indústria. A economia está pedindo um refresco mais rápido dos juros. Terceiro, é um desrespeito com o esforço do Temer.

Como assim, desrespeito?

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Desrespeito porque estão fazendo um esforço enorme para passar no Congresso a PEC do Teto (Proposta de Emenda Constitucional que fixa um limite para os gastos). Deram um passo grande na direção de começar a corrigir a questão fiscal.

O corte de 0,25 ponto, então, não faz a diferença necessária?

Não faz a menor diferença. Agora, qual é o problema? É a leitura retrógrada do sistema de metas – essa coisa de ficar olhando os 12 meses. Não é assim que funciona em nenhum lugar do mundo. Olha a discussão que se tem nos Estados Unidos hoje sobre aumentar ou não os juros. Lá, a inflação está em 1,2%, 1,3%, e não tem porque elevar os juros. Mas aqui é aquela coisa: fica o pessoal do mercado financeiro fazendo marcação em cima. Prevaleceu o medo das críticas dos radicais do mercado financeiro. Bullshit (xingamento em inglês) para tudo isso. Do ponto de vista da economia, é só olhar os números que estão saindo. O sinal claro é que a economia tentou melhorar um pouquinho e capotou sob o peso dos juros. Agora, a gente tem uma política econômica correta que já faz diferença. Olha os números. A Petrobrás já esteve a R$ 7 reais. Agora está a R$ 17. A Bovespa foi a 37 mil (pontos) e já está em 64 mil. Não faz sentido isso aí. Para onde vai nos levar essa decisão? Vai levar o dólar abaixo de R$ 3 e reforçar a desinflação. É sandice. Mas é a cabeça desse pessoal radical. Tivemos de aguentar a estupidez keynesiana do PT e agora temos de aguentar a estupidez fridiana desse pessoal (numa referência as teorias dos economistas John Keynes, mais à esquerda, e Milton Friedman, de corrente liberal). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.