10 anos, 10 ações: relembre os papéis que se destacaram no Ibovespa ano a ano

Souza Cruz ganha posição de destaque em dois anos; papéis da Braskem registraram a maior valorização em um ano: 507,7%

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – Nos últimos 10 anos, a BM&F Bovespa observou o número de empresas listadas cair de 428 para 381. Por outro lado, o valor de mercado saltou de US$ 185,4 bilhões para US$ 1,54 trilhão.

Neste meio tempo, a economia atravessou momentos de pessimismo e de otimismo. Em meio a crises cambiais e moratória da dívida externa na Argentina, a economia conseguiu alcançar momentos de prosperidade, interrompidos com o estouro da bolha imobiliária norte-americana, que nos leva à atual crise financeira global.

No entanto, a economia brasileira se fortaleceu, alcançou o almejado patamar de “grau de investimento” pelas agências de classificação de risco internacionais em setembro de 2009 e, agora, está mais preparado para um agravamento da crise internacional, reitera o ministro da Fazenda Guido Mantega.

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Assim, o Ibovespa saltou de 15.259 pontos em dezembro de 2000 e passou ao patamar de 69.305 pontos depois de dez anos. Neste período, enquanto algumas ações surpreenderam o mercado com uma valorização expressiva, outras confirmaram as projeções otimistas. Relembre, ano a ano, os papéis que se destacaram no Ibovespa:

2010 – Souza Cruz (+65,8%)

Em ano no qual a pontuação do Ibovespa mostrou apenas modesta variação positiva de 1,04%, as ações da Souza Cruz (CRUZ3) surpreenderam com uma valorização de 65,8%, a mais alta do índice.

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A surpresa com tal movimento ocorre após um pessimismo frente à companhia durante a maior parte do ano, uma vez que as perspectivas eram consideradas negativas por conta de um projeto de lei para elevar os impostos sobre os cigarros, bem como pela apreciação do real e a queda na demanda.

Assim, o papel da empresa não figurava entre as ações mais recomendadas para o ano, cujo posto era ocupado pelos da Vale (VALE3, VALE5) e da BR Foods (BRFS3).

Ao contrário, diversas casas de research a avaliavam como “underperform”, ironicamente por considerarem que a alta valorização das ações acumulada no ano iriam ceder.

O desempenho do papel não arrefeceu e, ao fim, analistas foram surpreendidos com os resultados consistentes da empresa, que reportava um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão nos nove primeiros meses do ano.

Ironicamente, o resultado positivo foi guiado pelo fim de incentivos fiscais concedidos em 2009, o que levou a uma alta nos preços dos produtos, a qual compensou a queda dos volumes vendidos.

2009 – MMX (+345,0%)

Após a queda, a recuperação. A tormenta observada nos mercados acionários no ano de 2008 implicou diversas possibilidades positivas para a bolsa no ano seguinte, sendo que quem investiu na MMX (MMXM3) no início do ano teve motivos para comemorar, uma vez que que a ação ocupou a ponta positiva do Ibovespa ao se valorizar em 345%, contra a também forte alta de 82,66% do Ibovespa, em ano no qual os preços das commodities foram inflados pela injeção de liquidez nos mercados internacionais.
Após um prejuízo de R$ 848 milhões em 2008, as ações da companhia se valorizavam desde os primeiros meses do ano, inflados pelos rumores de venda de ativos e do próprio controle da companhia. Mas o impulso mesmo ocorreu após o anúncio de uma parceria comercial e estratégica com a chinesa Wisco em maio do ano em questão, sendo que esta passou a fazer parte do capital social da mineradora brasileira.
Após a confirmação da operação, analistas elevaram o preço-alvo para as ações, citando a melhora nos fundamentos da empresa por conta da expansão da capacidade de produção da mineradora. Além disso, as ações também se valorizaram face aos rumores da entrada no bloco de controle da Vale, em processo que visava um assento no conselho de administração da rival.

2008 – Nossa Caixa (+200,6%)

O ano de 2008 ficou marcado pela quebra do Lehman Brothers nos EUA, em setembro. No entanto, outra instituição financeira também chamava a atenção no cenário interno: as ações da Nossa Caixa ocuparam o posto de maior alta do Ibovespa no ano ao acumular ganhos de 200,59%.
Quando o ano se iniciou, o consenso de analistas era de uma recomendação neutra, uma vez que se mostravam preocupados com os resultados trimestrais fracos da companhia, o que pressionou os papéis no ano anterior, quando o desempenho foi negativo em 49,25%.
No entanto, o cenário para a empresa se alterou em maio daquele ano, quando o Banco do Brasil (BBAS3) revelou iniciar negociações para incorporar o banco paulista.
O processo se desenrolou durante todo o ano, impulsionando as ações a sucessivas altas – como quando rumores sobre os valores da operação levaram a uma alta de 50,46% apenas na primeira semana de novembro -, sendo, enfim, aprovado pelos acionistas do Banco do Brasil em 23 de dezembro, em uma transação de R$ 5,38 bilhões.

2007 – CSN (+157,0%)

Apesar da maior valorização do Ibovespa em 2007 – com ganhos de 156,98% -, a CSN (CSNA3) iniciou o ano de 2007 com uma perda no cenário de fusões e aquisições: após cerca de quatro meses de disputa, a siderúrgica brasileira perdeu a disputa para a aquisição da Corus para a indiana Tata Steel.
No entanto, na semana de tal anúncio as ações se valorizaram em 14,48%, devido à redução do temor quanto ao endividamento que a companhia teria que se submeter para a aquisição.
Desde então o desempenho das ações no ano sofreu influência de notícias envolvendo a mina da Casa de Pedra – ativo que garantiria autossuficiência em minério de ferro para a empresa -, cujo potencial não era corretamente avaliado pelo mercado, argumentava o diretor de relações com investidores da empresa, José Treiger.
A visão era compartilhada por alguns analistas, como os do Merrill Lynch, os quais previam que o IPO (Initial Public Offering) da mina ou a sua venda para um parceiro estratégico seria uma forma de melhorar tal avaliação. Neste cenário, o anúncio por parte da empresa de que realizava estudos para a oferta atuou como um gatilho para os papéis.
Junto a tudo isso, a siderúrgica também sofreu impacto positivo da forte demanda interna e apresentou sólidos resultados financeiros durante o ano, os quais ajudaram a alimentar mais otimismo por parte dos analistas.

2006 – ALL (+122,6%)

Logo no início do ano as projeções de analistas, como aqueles da Ágora e do Bank of America Merrill Lynch, apontavam para um ano positivo para as units da ALL (ALLL3), na crença de que os resultados seriam impulsionados pela melhora no cenário macroeconômico. As perspectivas se consolidaram, com uma alta de 122,60% para as units da empresa.
Como a companhia era a líder em carregamento de commodities agrícolas, as melhoras nas perspectivas com relação à safra de soja no ano 2005/2006 impactaram positivamente a companhia. A aquisição da Brasil Ferrovias e da Novoeste também constam entre os fatores positivos.
Neste cenário, os resultados trimestrais confirmaram as boas perspectivas para a empresa, com destaque para aquele do segundo trimestre, quando o lucro líquido saltou 28% sobre o mesmo período do ano anterior, aos R$ 72,7 milhões.
O número foi avaliado positivamente por diversas casas de research, as quais reiteraram o cenário positivo para a empresa. A consagração do desempenho positivo ocorreu com a inclusão das units da ALL no índice Bovespa para a última carteira do ano.

2005 – NET (+150,3%)

Em um ano no qual a NET (NETC4) reestruturou o seu endividamento e alterou o seu bloco de controle acionário, as ações da companhia se valorizaram em 150,29% e superaram todas as outras pertencentes ao Ibovespa, o qual marcou alta de 27,71%.
Os principais fatos envolvendo a companhia ocorreram na primeira metade do ano, sendo que ainda em janeiro já se especulava sobre movimentações no bloco de controle da companhia.
A confirmação veio em fevereiro, quando a Telmex – então controladora da Embratel e da Claro – elevou a sua participação na empresa para 49%, sendo os 51% restantes pertencentes à Organizações Globo.
No mesmo mês a companhia revelou o processo de reestruturação de sua dívida, no qual estendeu o prazo para o pagamento de suas obrigações. Assim, com o aval de 98% dos credores, o endividamento bruto de R$ 1,57 bilhão verificado ao final de 2004 decresceu para R$ 680 milhões.
Por fim, a parceria com a Embratel – a qual permitiu oferecer serviços de telefonia, vídeo e banda larga – também foi recebida pelo mercado e pelos analistas, sendo que o Pactual indicava as ações da empresa como a melhor opção no setor de telecomunicações.

2004 – Acesita (+130,0%)

Com o fortalecimento da economia interna e externa, o setor siderúrgico concentrava as atenções do ano de 2004. Assim, os papéis da Acesita lideraram os ganhos do Ibovespa no ano, em valorização de mais de 130%.
As perspectivas positivas para o preço do aço inox – especialmente na Ásia -, bem como pelo incremento na demanda, já eram elaboradas desde o início do ano. Soma-se a isso os fortes resultados trimestrais, o que se refletiu na melhora da nota de risco da empresa pela Fitch Ratings em abril.
Ao final do ano, apesar das expectativas já otimistas, a companhia ainda surpreendeu os analistas com um lucro líquido de R$ 258 milhões em 2004, valor 41% acima das projeções compiladas pela InfoMoney na época.

2003 – Braskem  (+507,7%)

Em um ano positivo para o mercado acionário, as ações da petroquímica Braskem (BRKM5) se revelaram o melhor investimento do Ibovespa ao acumular uma incomum valorização de 507,7%.
O movimento pode ser explicado explicado, em parte, pela desvalorização de 56,20% registrada no ano anterior, quando a alta do dólar impactou negativamente em R$ 794 milhões o desempenho da empresa.
Assim, o ano de 2003 foi de recuperação, já que a companhia conseguiu reduzir e alongar o perfil de sua dívida, fato que se misturou ao forte desempenho operacional do período – o lucro líquido no ano foi de R$ 215 milhões, frente aos prejuízos de R$ 794 milhões no anterior.
Por fim, o ano de 2003 também foi marcado pelo anunciou a reestruturação societária da companhia ao incorporar a Nitrocarbono, a ESAE e a OPP Química.

2002 – Vale (+103,6%)

A ação de maior volume da BM&F Bovespa atualmente, os papéis da Vale (VALE3, VALE5) foram responsáveis pela maior alta do Ibovespa em 2002, impulsionados por pulverização de ações do governo, aquisições e resultados trimestrais fortes.
As ações ordinárias marcaram o melhor desempenho do índice, com elevação de 103,6%, enquanto as preferenciais registraram alta de 87,3%.
Logo em janeiro o Governo anunciou a intenção de se desfazer de 31,5% das ações que detinha no controle da Vale, o que já levava os papéis da companhia à máxima em um ano no mês seguinte; o processo foi concluído com sucesso em março.
Ademais, os resultado trimestrais recordes levavam os analistas a revelar perspectivas positivas para a empresa. No entanto, a desvalorização cambial levou a perdas cambiais de R$ 2,12 bilhões no terceiro trimestre do ano, frente aos R$ 471 milhões no ano anterior.
Enquanto o fato pressionava os papéis nos pregões seguintes, a proposta para adquirir participação da Acesita na Companhia Siderúrgica de Tubarão voltou a impulsionar o desempenho das ações da Vale.

2001 – Souza Cruz (+100,2%)

No ano de inauguração da InfoMoney, o Ibovespa marcou queda de 11,02%. No entanto, algumas ações do índice seguiram trajetória contrária e registraram forte valorização, como é o caso para os papéis da Souza Cruz (CRUZ3), os quais marcaram a maior valorização do benchmark da bolsa paulista, em alta de 129,7%.
A companhia revelou resultados trimestrais fortes quando comparados à base de comparação, com elevação de 48,0% do lucro líquido no ano, impulsionado pelo avanço nas receitas com exportações – com a desvalorização cambial, os produtos se tornaram mais competitivos no mercado internacional e levaram as exportações a um volume de 103 mil toneladas no ano, diante das 79 mil toneladas no ano anterior.
No entanto, o fato que realmente impactou positivamente os papéis foram os rumores de que a companhia fecharia o seu capital, apesar das declarações contrárias do presidente da companhia.
Os rumores se iniciaram logo em janeiro, quando informações davam conta de que o controlador British American Tobacco estaria interessado em adquirir os 24,7% de papéis ordinários em circulação no mercado. Nos anos seguintes os rumores perderam força, mas eventualmente retornaram ao foco, como em 2006.