Sem lucrar há anos, ação de construtora sobe 240% em 1 mês; diretor explica

Movimentação atípica dos papéis pode estar relacionada ao possível desfecho de um calote de mais de R$ 1 bilhão que governo tem com a empresa e mudanças no conselho e diretoria

Paula Barra

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SÃO PAULO – Uma ação de baixa liquidez na Bovespa vem chamando a atenção dos “garimpeiros” de micos nos últimos meses. Trata-se da Lix da Cunha (LIXC3), que saiu de R$ 0,95 no pregão do dia 16 de agosto para alcançar sua máxima em quase dois anos no dia 11 de setembro, sendo cotada a R$ 3,20 – o que representa uma valorização de 236,84%. Apesar de passar por uma correção de lá pra cá, a ação vem se mantendo acima dos R$ 2,30 – o que ainda reflete uma alta de mais de 100% frente aos níveis de agosto. No pregão da última segunda-feira (9), ela fechou cotada a R$ 2,49. 

O papel, que vinha desde o fim de 2009 mostrando um volume financeiro diário baixíssimo, também mudou de figura. Em agosto, o giro financeiro chegou a atingir R$ 161 mil em um único pregão – maior patamar desde julho de 2009 -, contra uma média diária de 21 pregões de R$ 13 mil. Mas o que estaria por trás dessa alta?

Em entrevista ao InfoMoney, o novo diretor de Relações com Investidores da construtora de Campinas, Elias Abrão Ayek, não apontou motivos específicos para a alta, mas citou 2 pontos-chave que podem ter contribuído para esse desempenho atípico do papel nos últimos meses: a expectativa por um crédito bilionário com o governo e mudanças na composição da diretoria da empresa.

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Conforme explica o diretor de RI, há uma movimentação da empresa para receber um crédito com o governo federal e estatal que está empacado desde os anos 1990, num montante de R$ 1,2 bilhão. “A tarefa não é fácil, mas toda ação tem um limite de tempo e uma hora deve sair”, disse. 

Crédito “empacado”
Os altos impostos, burocracia e calotes imputados por entes públicos têm agravado a situação da empresa, que no primeiro semestre de 2013 viu seu prejuízo líquido crescer de R$ 4 milhões para R$ 6 milhões. Desde o balanço de 2007, a Lix da Cunha não registra lucro líquido.

“Esses são créditos que vêm de obras executadas nos anos 1990. Estamos correndo atrás desse pagamento, que seriam usados para pagar parte da dívida da empresa de R$ 200 milhões – composta na sua maior parcela por impostos e tributos que deixamos de pagar ao longo desses anos. Temos ido semalmente a órgãos públicos para ver se conseguimos resolver a situação. A intenção é fazer um acordo, dando um desconto que seja razóavel para a empresa. Os créditos a receber, na sua maioria, são do governo federal”, explicou.

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Para a empresa, a atuação da Procuradoria nas execuções fiscais tem sufocado o fluxo financeiro, o que vem colocando em risco o plano de recuperação que a administração da Lix da Cunha vem tentando implantar. 

Sem giro financeiro suficiente, a Lix da Cunha atualmente tem trabalhado em construção por regime de administração. Nesse regime, a empresa contrata um investidor e recebe a taxa de administração, que gira em torno de 15% do custo da obra. Os benefícios são muitos, como redução da carga tributária, uma vez que os tributos incidentes, especialmente, sobre materiais, assim como os demais, instalações e mão de obra, por exemplo, não são cobrados pela construtora e, portanto, repassados ao dono da obra.

Além da construção, que tem foco Campinas e região, a Lix da Cunha também atua com infraestrutura de loteamento e pavimentação. Por conta dos calotes com os governos, Ayek explica que tem dado preferência aos contratos com empresas privadas. 

Para o próximo ano, Ayek disse que já tem cerca dez negócios na iminência de serem fechados. Os contratos deverão ser assinados até o primeiro semestre de 2014. Todos sob regime por administração. 

Mudanças na diretoria e conselho
A empresa também passou recentemente por uma mudança na diretoria e conselho. Em reunião realizada em 4 de outubro, foram eleitos o vice-presidente do conselho de administração e membros da diretoria, incluindo o próprio Ayek, que assumiu o cargo no lugar de Marisa da Cunha.

Segundo Ayek, que está na empresa há 29 anos e assinou o balanço por 8 anos, essa mudança no conselho pode ser o segundo fator que gerou a disparada recente das ações. “O que pode ter afetado o humor dos investidores é que entrou um conselheiro independente, enquanto a tradição eram apenas membros familiares”, disse.