Kroton e Estácio têm nota azul no semestre, mas quem é a melhor da turma?

Resultados das empresas e visão de analistas mostram diferenças profundas entre os negócios, apesar da queda semelhante  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Kroton e Estácio, os dois grupos educacionais de mais destaque na bolsa brasileira, divulgaram seus balanços trimestrais no mesmo dia: a última terça-feira (14). Antes da abertura do pregão desta quinta (16), ambas as ações sofriam queda: -7,08% para a KROT3 e -6,99% para a ESTC3. Nada disso, porém, significa que as empresas sofrem os mesmos exatos efeitos com as movimentações econômicas.

A Estácio divulgou lucro líquido de R$ 237 milhões no trimestre, crescimento de 42,5% na comparação com o mesmo período de 2017. A margem bruta da companhia passou de 48,9% no segundo semestre do ano passado para 57,3% no primeiro semestre deste ano. A margem Ebitda alcançou 31,8% no primeiro semestre de 2018 ante patamar de 27,1% no primeiro semestre do ano passado – no período de 2014 a 2016, a média de margem Ebitda foi de 20,4%.

Já a Kroton teve crescimento de apenas 0,5% na receita líquida na comparação com 2017. O lucro líquido ajustado totalizou R$ 562,1 milhões no trimestre, queda de 12,8% em relação ao montante de R$ 644,9 milhões apresentado no mesmo período de 2017.

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No semestre, a receita líquida atingiu R$ 2.889,6 milhões, um desempenho 0,2% superior ao verificado no mesmo período do ano passado. O Ebitda ajustado de R$ 641,5 milhões no trimestre apresentou uma queda de 8,4% sobre o resultado do mesmo trimestre no ano passado, e com uma margem Ebitda 4,1 ponto percentual inferior. Na análise do semestre, a queda do Ebitda ajustado foi de 6,2%, com uma margem 3 pontos percentuais inferior à apresentada nos primeiros seis meses de 2017.

Melhor da turma?

Há mais tempo como um grande player, a Kroton é a maior universidade do país. Aparentemente, conforme os resultados, a empresa sofreu mais impacto negativo decorrente do enxugamento do Fies aplicado em 2016. Os últimos seis meses marcaram a formatura de uma era de ouro do Fies, de ingressantes de 2013 e 2014. Para a universidade, isso significa menos dinheiro entrando via governo federal e mais estudantes que pagam mensalidades mais baratas, com descontos concedidos pelas próprias universidades.

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Além disso, as novas regras para a expansão do ensino à distância (EAD) podem ter favorecido a concorrente. Desde o ano passado, instituições de ensino com notas iguais ou superiores a 3 em uma escala de 1 a 5 pelo MEC têm direito a abrir até 350 novos polos de EAD a cada ano. Conseguir explorar este segmento é extremamente significativo, dado que as instituições de ensino superior perderam até 6,3% no número de alunos presenciais no trimestre.  

A Kroton quase conseguiu, mas só 46% dos cursos obtiveram a nota necessária para enquadrar a empresa nesta nova regra – o que não é suficiente. Já a Estácio, ao superar a média, aumentou a rede credenciada de 238 polos no final do segundo trimestre de 2017 para 451 ao final do segundo trimestre de 2018, um crescimento de 89,5%. 

Mais consolidada no mercado, a Kroton pode estar perdendo velocidade de crescimento também por já ter crescido consideravelmente. Ao mesmo tempo, conforme notam analistas do Bradesco BBI, têm uma posição de caixa que pode ser vantajosa caso queira realizar aquisições no futuro. “A forte execução da Kroton pode produzir menos erosão marginal que o esperado”, escrevem os analistas Luciano Campos e Vinicius Ribeiro. O banco vê upside de 97% para a ação e preço-alvo de R$ 21.

Os mesmos analistas têm recomendação neutra para a Estácio, indo na contramão da maioria dos calls do mercado divulgados nesta manhã. O placar desta quarta-feira pós resultados ficou em 7 recomendações de compra e 3 posições neutras para a empresa, ante 3 calls de compra e 9 neutros para a Kroton.

Para eles, o fundo Advent, maior acionista da Estácio, “pode ser incapaz de influenciar o conselho e melhorar a lucratividade da empresa; a Estácio pode precisar fechar campi, sacrificando o crescimento da receita e a competição de preços no segmento de EAD pode ser pior que o esperado”.

Para o analista Thiago Faganello, do BTG Pactual, estas formaturas devem “continuar pressionando” ambas as empresas. No caso da Estácio, para a qual recomenda compra, ele já vê a ação “bem precificada” quanto a este fator. Vale lembrar que a ação acumula queda de 27,58% em 2018. Também os papéis da Kroton vêm sofrendo os efeitos destas mudanças há algum tempo, e acumulam queda ainda mais acentuada, de 44,19%.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney