JBS vira a “menina dos olhos” dos analistas na esteira da gripe suína na Ásia

Entre Marfrig, BRF e JBS, empresa dos irmãos Batista aparece com mais recomendações de compra, apesar de já ter subido 46% em 2019

Ricardo Bomfim

(Bloomberg)

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São Paulo – Segunda maior alta dentre todas as ações que compõem o Ibovespa este ano, com 46% de valorização, era de se esperar que o mercado começasse a se preocupar que a JBS (JBSS3) estivesse cara, mas não é o caso. Em meio ao surto internacional de gripe suína africana, ninguém no Brasil está mais bem posicionado do que a empresa criada pelos irmãos Batista. 

Desde agosto de 2018, mais de 114 casos da doença foram registrados nas suinoculturas da China. De acordo com o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais daquele país, o plantel total de porcos chineses caiu 17% em fevereiro de 2019 na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Isso ocorreu porque diversos animais tiveram que ser sacrificados para evitar o contágio.

Em relatório assinado pelos analistas Isabella Simonato, Danniela Eiger e Fernando Olvera, o BofA (Bank of America Merril Lynch) estimou que o impacto da gripe suína na produção chinesa possa chegar a 17 milhões de toneladas (30% do total que é produzido). Com a redução na oferta e a demanda constante, pode se esperar também um aumento nos preços. 

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Nesse cenário, não restará alternativa para a maior economia da Ásia além de importar carne suína para suprir essa queda na produção interna. “Brasil e Estados Unidos são as melhores alternativas por estarem entre os quatro maiores produtores/exportadores de porcos”, avaliam os analistas do BofA. 

Dentro do Brasil, a JBS seria a melhor posicionada por sua diversificação em proteína e por ter operações tanto aqui como nos EUA. “Assumindo um aumento de 10% nos preços de porco/frango e se os custos de grãos se mantiverem estáveis, nossa estimativa para o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] da JBS poderia saltar 35%”, destaca o research. 

Sob esse argumento, o BofA elevou o preço-alvo da ação da JBS de R$ 18 para R$ 20, o que corresponde a uma valorização de 18% sobre o preço atual. Para as outras empresas do setor, BRF (BRFS3) e Marfrig (MFRG3), o BofA possui as recomendações compra e neutra respectivamente. 

BRF e Marfrig

O analista Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, ressalta que, na sua visão, BRF é a empresa que mais se beneficia com o cenário atual. “Uma queda de 20% na produção de suínos na China (nossa estimativa, que está em linha com algumas consultorias) pode aumentar a demanda chinesa por proteína em 11 milhões de toneladas (cerca de 40% do comércio global)”, projeta. 

A BRF ganharia com os preços mais altos mesmo que não haja aprovação de outras plantas brasileiras para exportar para o país asiático. “Além da carne suína, os preços do frango também devem se beneficiar como substituição para essa proteína, seguido de carne bovina.”

Essas notícias são um alívio para a companhia, que viu suas ações sofrerem uma queda de 40% em 2018 com uma sucessão de prejuízos trimestrais. Este ano, o papel BRFS3 sobe 13,95%. 

O Bradesco BBI tem recomendação de compra tanto para JBS, com preço-alvo de R$ 19, contra R$ 17,50 anteriormente, quanto para BRF, com preço-alvo de R$ 35 – o que corresponde a uma alta de 40% sobre o valor atual – ante R$ 30 na análise anterior. Já a Marfrig tem recomendação neutra pela corretora, com preço-alvo de R$ 8 – upside de 16,45% – levemente superior aos R$ 7,50 previstos anteriormente. 

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Por outro lado, a XP Investimentos recomenda compra para a ação MRFG3, com preço-alvo em R$ 9. “Depois de reformular seus negócios com o desinvestimento da Keystone e a aquisição de 51% da National Beef, acreditamos que a empresa está na direção certa para capturar um cenário positivo de proteínas à frente”, diz a analista Betina Roxo, que cobre os setores de consumo, alimentos e bebidas. 

Para ela, é um bom sinal que a Marfrig tenha conseguido se desalavancar e esteja agora focando em um crescimento orgânico, sem perspectivas para aquisições e fusões no curto prazo. 

Ao mesmo tempo, a XP oferece recomendação neutra para BRF, com um preço-alvo de R$ 28. O múltiplo valor da empresa sobre o Ebitda da empresa, atualmente em 10,2 vezes, é justo na visão dos analistas. “A Peste Suína Africana é o principal risco positivo para o papel, mas acreditamos que é necessária mais clareza quanto ao momento e tamanho do possível impacto”, defende Betina.

“De acordo com nossas estimativas, a BRF ainda queima caixa em 2019 assumindo um Ebitda de R$3,4 bilhões no ano”, acrescenta ela.

Entre as três casas, unanimidade mesmo só a JBS, que também tem recomendação de compra na XP, inclusive estabelecendo o mesmo preço-alvo projetado pelo BofA .

“Continuamos a ver sólidos resultados nos EUA e tendências mais fortes no Brasil, enquanto vemos potencial para uma reclassificação dos múltiplos, com menores riscos de governança e a possível listagem nos Estados Unidos”, afirmou a equipe de análise da XP. 

Nenhuma casa de análise das 16 que cobrem JBS, segundo compilação feita pela Bloomberg, recomenda venda das suas ações. São dez recomendações de compra ou desempenho acima da média do mercado e seis neutras. 

Com relação a BRF, por sua vez, são cinco recomendações de compra ou desempenho acima da média contra sete neutras. 

Já a Marfrig, por fim, recebe cinco recomendações de compra ante cinco neutras e duas de venda ou desempenho abaixo da média do mercado. 

Assim, mesmo sendo a maior alta dentre as empresas do setor, a JBS segue sendo vista como uma boa oportunidade na Bolsa, após um período bastante turbulento em 2017 com os seus controladores implicados em esquemas de corrupção. O pior parece ter ficado para trás para a companhia, que agora vê uma oportunidade de subir ainda mais no mercado de ações na esteira do problema chinês. 

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.